Com as regras definidas e as operadoras a prepararem-se para o lançamento, a chegada da quinta geração móvel a Portugal pode ter um impacto extraordinário na economia durante os próximos dez anos. De acordo com as estimativas da tecnológica sueca Ericsson, que em novembro lançou o seu mais recente relatório anual de mobilidade, o 5G pode trazer 3,6 mil milhões de euros ao mercado português até 2030. É um impacto avultado mas condicional: para acontecer, calcula a Ericsson, o país terá de enveredar por uma política pública ambiciosa relativamente às comunicações, incluindo um quadro regulatório adequado.
A expectativa é de que esta nova geração móvel, que não é apenas uma evolução da anterior, tenha impactos profundos em todo o mundo. O Relatório de Mobilidade da Ericsson calcula que o número global de subscrições 5G atinja os 2,6 mil milhões já em 2025, uma expansão relativamente rápida que criará um ecossistema forte em dezenas de países no curto prazo.
Ao ritmo a que os lançamentos estão a ser mapeados, a Ericsson prevê que o 5G cubra 65% da população mundial dentro de cinco anos e seja responsável por 45% do tráfego global de dados móveis. É uma previsão extraordinária tendo em conta que o 5G ainda é uma geração incipiente, que muitos mercados estão atrasados no lançamento (por exemplo, Brasil) e que exige custos avultado por parte das operadoras, que terão de identificar modelos de negócio sustentáveis para justificar o investimento.
Sendo certo que as baterias iniciais estão apontadas para aplicações empresariais, com alguns sectores na linha da frente – saúde, indústria, automóvel – o 5G provocará alterações no consumo junto dos utilizadores de smartphones. O relatório da Ericsson estima que o consumo mensal de dados por smartphone mais que triplicarão nos próximos cinco anos, passado de 7,2 para 24 GB, em média. E isso será, em parte “impulsionado por novos comportamentos do consumidor, tais como streaming the realidade virtual”. É algo que hoje não é viável para a maioria dos utilizadores, mesmo nos mercados onde o 5G já foi lançado comercialmente. Os dispositivos preparados para a nova geração móvel só começaram a chegar há pouco tempo e a Apple, que fabrica o terceiro smartphone mais popular do mundo (iPhone), ainda não apresentou uma versão compatível com 5G. Isso está prestes a mudar.
“Em 2020, dispositivos compatíveis com 5G vão entrar no mercado em grande volume, o que permitirá escalar a adesão ao 5G”, disse Fredrik Jejdling, vice-presidente executivo e diretor de redes da Ericsson no âmbito da apresentação do Relatório de Mobilidade. “A questão já não é, mas quão rapidamente conseguimos converter casos de utilização em aplicações relevantes para consumidores e empresas”, sublinhou. “Com o 4G a manter-se um forte facilitador de conectividade em muitas partes do mundo, modernizar as redes é também essencial para esta mudança tecnológica que estamos a atravessar.”
Feitas as contas, no final de 2019 havia já 13 milhões de subscrições 5G, com a Coreia do Sul a mostrar uma taxa de adesão muito rápida – 3 milhões de assinaturas só entre o lançamento em abril e o mês de setembro de 2019. Os números até agora levam a Ericsson a prever que o ritmo de adesão ao 5G será “significativamente mais rápido” que o de LTE, com a América do Norte a liderar: em 2025, 75% dos consumidores nesta região terão mudado para a nova tecnologia.
Ana Rita Guerra, Los Angeles