Sabrina Baggioni passou os últimos dois anos a trabalhar no lançamento do 5G pela Vodafone Itália. O serviço foi ligado em cinco cidades italianas – Milão, Turim, Bolonha, Roma e Nápoles – a 5 de junho do ano passado. Em paralelo, a operadora transformou Milão num laboratório vivo de testes e colaborações para pôr a nova geração a trabalhar de forma transversal.
Em conjunto com 38 parceiros, o programa liderado por Sabrina Baggioni coordenou 41 casos de uso que mostram o potencial concreto da rede. A responsável é uma das oradoras convidadas para partilhar a experiência com 5G na Vodafone Business Conference – A Próxima Revolução Tecnológica, que decorre amanhã na Fundação Champalimaud.
Quais os pontos em que irá focar a apresentação na Business Conference?
Vou dar uma visão geral do que o 5G consegue fazer em várias indústrias. Falarei de novos serviços na saúde, vigilância e segurança, manufatura, mobilidade – que vemos que terá um grande impacto quando estiver pronta. Também vou tocar em média e entretenimento.
Falarei disto tudo porque é o que que vemos que funciona, nos últimos dois anos, num grande teste na área metropolitana de Milão, em que desenvolvemos 41 casos de uso em todas as indústrias e sectores. Vou partilhar essa experiência de desenvolvimento, em que trabalhamos com 38 parceiros, desde grandes empresas a startups e entidades públicas.
O objetivo da minha apresentação será transmitir esta mensagem clara: que o 5G pode mudar a fundação, o caso de uso, a experiência do utilizador, a forma como as empresas produzem e disponibilizam serviços, a sua eficiência.
Oito meses depois do lançamento do 5G em Itália, como está a correr e que aprendizagem foi feita?
O lançamento comercial foi feito no início de junho do ano passado em cinco grandes cidades. Daí, o que aprendemos é que o espectro e a cobertura que temos neste momento são capazes de satisfazer os pioneiros do 5G, os clientes são muito sensíveis ao que lançámos. Da perspetiva comercial, o serviço ainda é limitado, sendo que a cobertura vai evoluir este ano e conseguiremos 100 cidades no próximo ano. O interesse é forte, mas tanto do lado dos dispositivos – custo elevado para os utilizadores – e a cobertura geográfica, ainda estamos muito no início.
Mas a maior aprendizagem não vem daí, vem dos dois anos de experiência que temos com 5G nos testes com os 38 parceiros. Temos agora muito mais noção de quais são os sectores e áreas em que o 5G será de rápida adesão e muito útil no curto e médio prazo para os clientes empresariais, e quais os que precisam que os ecossistemas sejam desenvolvidos antes de ter a conectividade no terreno.
Conseguimos já ver o potencial do 5G nas mãos das pessoas, sabendo que é limitado agora em termos do conhecimento e potencial de crescimento. A expectativa de mudança na forma como uma empresa, um utilizador vai beneficiar do 5G estará nas soluções, não no facto de trabalhar mais rapidamente. Tem a ver com a forma como construímos serviços.
As empresas já reconhecem a aplicabilidade ao seu negócio ou ainda vai demorar?
Algumas das coisas que fizemos tiveram muita visibilidade. Por exemplo, conseguimos fazer uma performance ao vivo num programa de televisão em direto de uma pessoa em holograma, a cantar com outros no palco.
Outra coisa que estamos a mostrar é a ambulância conectada com 5G, em que as pessoas podem ver o que é ter operações feitas ali.
Há clientes que estão agora a começar a pensar em como a baixa latência pode ser usada com realidade aumentada para dar suporte à manutenção de equipamento no terreno. Outras questões que nos estão a colocar é como podem obter os benefícios do 5G dentro das lojas, tornar a experiência dos utilizadores melhor e gerar mais fidelidade.
Na maioria dos casos, a minha experiência é que nós guiamos as empresas nessa jornada, partilhamos o que vimos e identificamos áreas de potencial. Alguns benefícios podem ser entregues no curto prazo e outros requerem uma jornada. São clientes que precisam de embarcar na digitalização e transformação do seu negócio primeiro e usar as tecnologias já disponíveis, há muito que já se pode fazer com IoT e combinar com aplicações específicas. A seguir a isso, quando o 5G tiver melhor cobertura e todo o espectro disponível, levar isso mais à frente. Outras áreas precisam de saltar para o 5G já e fazer parte da jornada.
Os sectores da saúde e da indústria serão dos que vão beneficiar já?
Quando falamos de 5G, onde vejo uma necessidade de preparação e atualização para a transformação que o 5G vai gerar é na saúde e mobilidade. Não será possível ter uma cidade conectada sem os veículos a falarem entre si em tempo real, se não foi melhorada a forma como todo o sistema de mobilidade funciona.
O mesmo na saúde. Há muitas coisas que precisam de mudar, requer mais tempo. As aplicações de mais curto prazo do 5G são onde as empresas podem tomar decisões por si próprias, na produtividade, experiência do cliente, e é aí que a manufatura, segurança, educação, média e entretenimento podem ser mais rápidas a aderir a soluções de 5G, porque têm um ecossistema menor para preparar.
Temos então a saúde e mobilidade no longo prazo.
Sim. Na mobilidade, a tecnologia tem alguns passos a dar mas o caminho mais longo é menos por causa de questões técnicas e mais por causa da regulação.
O 5G vai ser ainda mais transformacional que as outras tecnologias.
De que forma este processo difere de anteriores, nomeadamente no capítulo da colaboração?
Uma das lições tiradas dos últimos dois anos é a forma como trabalhamos com entidades de todos os tamanhos e tipos sentadas à mesa. O 5G não vai permitir apenas uma funcionalidade extra em cima do que já existe. Não é isso. O que as empresas precisam de fazer é repensar o que querem entregar aos seus clientes. Quais são os problemas que têm hoje. Que ineficiências querem resolver e como a baixa latência pode entregar a solução. É um trabalho de baixo para cima, em que é preciso desenvolver com parceiros e de ponta-a-ponta. É preciso muito maior integração. A forma como se trabalha com 5G para desenvolver novos serviços é completamente diferente.
Estes dois anos de experiências foram de cocriação com os nossos parceiros, grandes empresas e pequenas startups, que percebem que esta é uma grande mudança em relação ao que fazem hoje e o que nós fazemos com eles.
Ana Rita Guerra