Antes da chegada comercial da nova geração de comunicações móveis, Cascais já está a testar a sua aplicação em vários cenários dentro da sua estratégia de transformação em cidade inteligente. Uma vez que o 5G vai permitir ligações ultrarrápidas e imediatas (sem latência), há casos de utilização que passam a ser possíveis em áreas diversas na vida da cidade, desde os transportes públicos à segurança em zonas de difícil cobertura.
“Estamos a identificar os casos em que o 5G vai poder acrescentar valor”, explicou ao Dinheiro Vivo o diretor do Futuro de Cascais, Marco Espinheira, que tem vários testes em curso e projetos em cima da mesa.
A câmara municipal de Cascais assinou em setembro do ano passado um memorando de entendimento com a empresa Dense Air, que detém espectro na faixa a utilizar pelo 5G, para instalar células e antenas da nova rede em Carcavelos (Universidade Nova) e no centro de Cascais, e tem ainda testes programados com a Vodafone, que fornece os serviços de telecomunicações da câmara.Tem também uma parceria “importante” com a Nova SBE: “estamos a tentar apoiar a universidade em ter também o 5G disponível para soluções e projetos de inovação dos alunos”, algo em que as empresas também estarão interessadas para provas de conceito.
Em aberto na mesa da câmara estão ideias ambiciosas que podem ser realidade a breve trecho, com a chegada das redes comerciais de 5G depois do verão deste ano. Uma das primeiras ideias a testar está relacionada com o autocarro sem condutor em que a CM Cascais vem trabalhando desde 2018. Neste momento, a câmara é obrigada a ter uma pessoa presente fisicamente no autocarro com um “kill switch” (botão de desligar) no bolso, caso seja necessária intervenção humana.
“Com o 5G, o que eu gostava de perceber é se a telemetria necessária, quer de vídeo quer de indicadores da operação do autocarro, conseguiria passar essa pessoa para dentro do nosso centro de operações”, disse o responsável. “Uma vez que a latência é praticamente inexistente com 5G, estar uma pessoa dentro do autocarro ou estar num ambiente virtual com as imagens de vídeo e a operar o autocarro de forma remota é virtualmente a mesma coisa.” Ao permitir passar a pessoa que está dentro do autocarro para o centro de operações, este torna-se “um caso de utilização muito forte no que diz respeito à mobilidade”, considerou Espinheira, “porque aí podíamos começar a testar a gestão remota de vários serviços.”
Outra aplicação que a CMC se encontra a estudar é a criação de uma rede própria assente na rede 5G, para efetuar a distribuição de dados entre sites da câmara, que tem vários edifícios no centro de cascais e uma concentração grande de serviços no complexo municipal da Adroana. “É importante porque há alguns serviços que estão a ser controlados no C2 que podem passar a incluir uma troca de informação com muito menos latência, o que para alguns casos é relevante”, indica o diretor do Futuro.
Em termos de impacto direto para a população, também há projetos em estudo. Um deles é a implementação de videovigilância no concelho, algo que está a ser trabalhado com a PSP e entidades legais. “Há sítios em Cascais onde o 5G pode ser fundamental, porque a infraestrutura física de rede é inexistente e aí conseguimos ter videovigilância num sítio que de outra forma não seria possível, ou não seria eficaz por causa da latência”, descreve Marco Espinheira. “Nas praias, no Guincho, são zonas com grande impacto da obra do ponto de vista da natureza, em que em vez de estarmos a escavar uma vala para pôr fibra tendo lá eletricidade resolvemos o problema”, acrescentou. A abrangência desta iniciativa ainda não foi decidida, mas a introdução do 5G traz possibilidades novas à discussão.
No que toca aos transportes rodoviários, que em janeiro a câmara tornou gratuitos para munícipes, estudantes e trabalhadores, a ideia é introduzir reconhecimento facial com base na nova rede. “Sentimos claramente que é um passo que não podemos dar sem 5G”, afirmou Espinheira. Segundo este plano, o utilizador pode entrar no autocarro, ser reconhecido e sentar-se de imediato, sem ter de apresentar cartões ou passes no caso de ser trabalhador, munícipe ou estudante.
“Se este reconhecimento não for imediato e não tiver latência nenhuma, eu vou criar uma fila ainda maior e o autocarro tem que ficar parado até as pessoas entrarem todas”, explicou o responsável. “É um caso claro em que o 5G é uma solução imprescindível. Tenho que ter internet móvel e uma latência equivalente quase a zero para que o movimento de entrar e sentar seja fluído e não haja aqui nenhuma espera.”
Ana Rita Guerra, Los Angeles