O carro autónomo aproxima-se da faixa de entrada na autoestrada e partilha a sua informação com um sistema de planeamento central de manobras. Nas bermas, as câmaras identificam veículos não conectados e enviam esses dados para o sistema, que fornece então instruções sobre aceleração, desaceleração e mudança de faixa para garantir que a entrada na autoestrada é feita em segurança. E isto acontece em segundos.
O cenário ainda não é possível no mundo real, mas foi demonstrado pelo consórcio europeu 5GCAR no circuito de testes do centro de inovação automóvel UTAC-TEQMO, instalado no autódromo de Linas-Montlhéry. Liderado pela Ericsson, o projeto 5GCAR foi financiado pela CE e envolveu 14 organizações europeias incluindo Bosch, Orange e Volvo Cars. O seu objetivo foi desenvolver uma arquitetura baseada em 5G para optimizar a conectividade V2X – vehicle-to-everything, o protocolo que levará à era dos veículos conectados a tudo. A demonstração feita em França espelhou a necessidade de comunicação imediata, com baixa latência, numa rede que não falha. É precisamente o que a quinta geração móvel trará.
Isto não quer dizer que os carros conectados vão todos comunicar através de 5G, mas sim que a nova rede tem um grande potencial para suportar o ecossistema V2X e garantir uma comunicação fidedigna. É o que explica João Barros, CEO da empresa portuguesa Veniam, que desenvolveu uma plataforma de software de rede inteligente para veículos e para a “internet das coisas em movimento”.
“O 5G é um protocolo que permite à infraestrutura apoiar essas comunicações entre veículos e entre outros dispositivos em movimento que comunicam uns com os outros e com a internet”, descreve. “O 5G vem potenciar ainda mais este tipo de redes em malha.”
O software da Veniam faz uma gestão inteligente dos dados partilhados entre veículos e permite usar a rede mais apropriada ao carro a cada momento. “Não se trata de ter uma rede que resolve todos os nossos problemas mas trata-se de utilizar todas essas redes de forma mais inteligente”, acrescenta. O importante é que a comunicação crítica, aquela que vai permitir aos veículos autónomos circularem de forma segura, nunca falhe.
“É essencial quando os veículos estão em movimento poderem detetar outros veículos e evitar acidentes”, afirma João Barros. “A tecnologia V2X foi desenvolvida para reduzir o número de sinistros em acidentes rodoviários, porque se acredita que, a partir do momento em que os veículos comunicam através de sinais eletromagnéticos uns com os outros, é possível evitar choques porque se detetam antes de o condutor o ver.” A tecnologia serve também para distribuir informação importante, como mensagens de alarme em caso de acidente e informação de trânsito.
A dúvida é que há neste momento dois protocolos em competição para suportar a comunicação veículo-a-veículo, o DSRC (mais parecido com o Wi-Fi) e o C-V2X, ou V2X celular. O próprio consórcio 5GCAR avisa que “há desafios pela frente”, incluindo disponibilidade de espectro, enquadramento legal e maturidade do V2X, e os CEO de várias gigantes, incluindo BMW, Daimler, Deutsche Telekom e Ericsson pediram à União Europeia que permita a instalação de C-V2X como uma solução para sistemas cooperativos de transportes inteligentes.
Enquanto não é claro para que lado vai pender a balança, o certo é que a implementação de módulos de comunicação veículo-a-veículo nos carros será uma realidade no curto prazo. Só o software da Veniam estará em “milhões de veículos” a partir de 2021, garante João Barros. Embora não considere o 5G uma panaceia para resolver a comunicação na estrada, o CEO salienta a sua vantagem: “Quando queremos acesso à internet em tempo real o 5G tem a grande vantagem de maior largura de banda e menor latência.”
Ana Rita Guerra, Los Angeles