No rescaldo da primeira feira de tecnologia do ano, em Las Vegas, e dois meses antes do grande evento de mobilidade em Barcelona, Mobile World Congress, os dados que a GSMA acaba de publicar mostram uma diferença peculiar entre as expectativas dos consumidores quanto aos smartphones 5G. O CES foi palco de vários lançamentos e a operadora norte-americana Verizon anunciou mesmo que tem um plano para pôr no mercado vinte smartphones compatíveis até ao final do ano. No entanto, é na Ásia que os consumidores estão mais disponíveis para trocarem os seus dispositivos atuais por telemóveis preparados para a nova rede.
É isso que conclui a mais recente pesquisa publicada pela GSMA, associação que representa mais de 750 operadores móveis em todo mundo, durante o CES Las Vegas. A edição 2020 do estudo “O Futuro dos Dispositivos” mostra que apenas 30% a 40% dos consumidores inquiridos na Europa, Estados Unidos e Austrália preveem fazer upgrade dos seus smartphones no curto prazo por causa da chegada do 5G.
É um panorama muito mais cauteloso que aquele verificado pela pesquisa na China e na Coreia do Sul, onde cerca de metade dos consumidores pretendem comprar um smartphone compatível assim que estiverem disponíveis.
“O ecossistema dos dispositivos será crítico na trajetória da adesão ao 5G”, comentou Peter Jarich, responsável pela divisão GSMA Intelligence. “No entanto, é um erro acreditar que os consumidores em todos os mercados irão olhar para os upgrades 5G da mesma forma”, avisou. Segundo o responsável, as operadoras de telecomunicações e os fabricantes de dispositivos terão de ter uma compreensão granular da procura dos consumidores se quiserem tirar o máximo partido da oportunidade da futura rede.
A Counterpoint Research, nas contas publicadas em dezembro, disse que os dispositivos 5G captaram 5% do mercado global de smartphones “premium” (dispositivos acima dos 400 dólares) no terceiro trimestre de 2019. É uma fasquia baixa essencialmente por causa da ausência da Apple: a marca da maçã domina 52% deste mercado e é a única das grandes fabricantes que ainda não lançou um smartphone 5G.
Na sua análise, o especialista Varun Mishra da Counterpoint notou que a Apple irá lançar iPhones 5G em 2020 e que isso deverá incentivar os upgrades entre a sua base de utilizadores e até entre utilizadores Android. Neste momento, todos os dispositivos 5G disponíveis são premium, “mas isso também irá mudar em 2020”, disse o analista. Quando as fabricantes chinesas começarem a disponibilizar smartphones 5G abaixo dos 400 dólares, a China vai liderar. No total, “a adesão ao 5G irá levar o mercado global de smartphones ao crescimento em 2020.” Só que não será de forma homogénea.
O entusiasmo dos sul-coreanos relativamente à nova geração móvel está a permitir à Samsung tomar a dianteira neste segmento. A marca, que lidera o mercado global de smartphones, disse que as suas remessas de dispositivos 5G atingiram os 6,7 milhões em 2019, o que lhe deu 54% do mercado global (dados da Counterpoint Research).
Ainda assim, o avanço da empresa não foi conseguido apenas no mercado doméstico, já que outros consumidores compraram um dos modelos 5G da Samsung antes de terem rede disponível. Neste momento, a tecnológica oferece o Galaxy S10 5G, o Note10 5G e Note10+ 5G, o Galaxy A90 5G e o Galaxy Fold 5G. Em breve, a marca pretende lançar o primeiro tablet de nova geração, Galaxy Tab S6 5G, no mercado sul-coreano.
Embora as atenções estejam viradas para os novos gadgets e as capacidades imediatas que trazem para os consumidores, é o segmento empresarial que vai empurrar o 5G para o crescimento exponencial nos Estados Unidos e na Europa.
Isso mesmo ficou patente nos dados que a Consumer Technology Association (CTA) revelou em Las Vegas, embora sejam específicos para o mercado norte-americano. De acordo com as contas da associação que organiza o CES, em 2019 foram vendidos 1,6 milhões de smartphones 5G nos Estados Unidos. Este ano serão vendidos 20,2 milhões só no mercado norte-americano, o que pressupõe um salto gigante.
No entanto, a pesquisa indica que a nova geração será impulsionada pela procura empresarial, mais que pela febre do consumidor. A associação refere o papel da IoT e destaca o impacto que a rede terá na agricultura, explicando que a digitalização deste sector permitirá “resolver a escassez de comida.” O cenário inclui silos inteligentes, drones e sensores de solo, robôs, conexões terrestres e de satélite e plataformas de análise remotas, com o “agricultor conectado” ao comando.
Ana Rita Guerra, Los Angeles