Qual a estratégia para a introdução de 5G em Portugal, nomeadamente parcerias e partilha de infraestrutura?A nossa estratégia para o 5G não difere daquilo que tem sido a nossa atuação desde sempre, de compromisso com o país, com o desenvolvimento da economia, a melhoria da qualidade de vida das pessoas, das empresas e da sociedade. Tudo isto através da tecnologia, a base do negócio. O advento do 5G não altera a nossa postura de abertura e disponibilidade para coinvestimento. Pelo contrário, reforça essa vontade. A prová-lo temos a carta de intenções assinada com a NOS com vista à tentativa de encontrar oportunidades de alargamento do acordo já existente, em que o 5G funciona como catalisador de encontro de interesses comuns na definição de um modelo de investimento sustentável, que permita uma maior e mais rápida cobertura do território nacional.
Visto que o 5G exige mais antenas, a cobertura do território pode demorar?
A tecnologia 5G terá uma evolução crescente até atingir um nível de maturidade que consubstancie o seu superior desempenho face à rede móvel atual. Ou seja, não é algo que aconteça no dia seguinte ao lançamento. A disponibilidade e níveis de acessibilidade de equipamentos terminais e acima de tudo a existência de use cases que tirem partido das características únicas do 5G, determinarão muito a evolução da rede e do número e tipo de antenas que venham a ser necessárias. Naturalmente que exigências “administrativas” de aceleração de cobertura podem originar uma equação de difícil resolução. Em condições normais de evolução da tecnologia, a qualidade, tipologia e capilaridade da atual rede da Vodafone está bem preparada para responder às exigências iniciais que o 5G coloca.
Que lições internacionais poderão ser úteis na implementação em Portugal?
Uma das vantagens de estarmos inseridos no grupo Vodafone é a partilha de know-how das experiências que têm vindo a ser realizadas nos países onde a Vodafone já tem a rede 5G – Alemanha, Espanha, Itália, Reino Unido, Hungria, República Checa, Roménia. Temos acesso a muitos casos em diferentes setores de atividade que estão a ser testados noutros países, já estando a avaliar a possível aplicação de alguns deles em Portugal, juntamente com os clientes. Temos trabalhado de forma próxima com o tecido empresarial português no sentido de cruzar necessidades com oportunidades que possam ser potenciadas pelo 5G, olhando sempre para o que já foi feito noutros mercados.
Há algum caso de estudo, nos vários países onde o grupo já está a operar 5G, que mereça destaque?
Existem inúmeros casos de estudo sobre o 5G nos países onde a tecnologia já está implementada, mas destacaria um de segurança rodoviária desenvolvido pela Vodafone Itália. A solução Intelligent Speed Adaptation and Control usa a comunicação V2V (veículo para veículo) e V2I (veículo para infraestrutura) para partilhar informações sobre o ecossistema rodoviário perto do veículo, tais como limites de velocidade, trabalhos temporários, estreitamento da estrada, curvas perigosas ou condição dos semáforos, entre outros, a fim de aumentar a segurança e o conforto da direção. Esta é apenas uma das imensas possibilidades do que se pode fazer com a tecnologia de quinta geração e deixa-nos uma ideia de como o 5G vai ser transformacional na vida das pessoas e das cidades.
O facto de Portugal não ter entrado na primeira vaga de lançamentos europeus terá impacto no desenvolvimento da rede?
O facto de Portugal não ter entrado nesta primeira fase teve impactos, sobretudo, ao nível dos fabricantes, que sempre usaram Portugal para testar, em primeiro lugar, os seus produtos. Neste aspeto perdeu-se uma oportunidade.
Sendo este um investimento considerável, que diferenças haverá em relação à forma como o 4G foi monetizado?
Numa primeira fase, serão as empresas a beneficiar mais do 5G. Esta tecnologia vai potenciar o crescimento exponencial dos equipamentos ligados entre si e a massificação dos serviços que têm por base esta comunicação entre máquinas. Também é expectável que surjam novos verticais que até então usavam outras tecnologias, nomeadamente fixas – robótica, Indústria 4.0, medicina. A par disso, a automatização total de máquinas, sem ser necessária a intervenção humana, tornar-se-á mais real, impulsionando a Indústria 4.0. Qualquer modelo de negócio que surja terá de ter este enquadramento em consideração, razão pela qual defendemos que o mesmo deve ser motivado por necessidades concretas, que tragam valor acrescentado para a sociedade e para o desenvolvimento do país. Esta será a grande diferença face ao 4G.
São esses os setores empresariais portugueses que estarão mais recetivos à transição para o 5G no curto/médio prazo?
É importante não esquecer que o 5G é uma evolução e as mudanças não acontecem do dia para a noite, havendo uma evolução gradual no número de empresas e pessoas que vão beneficiar desta tecnologia. Tal como referi anteriormente, espera-se que o 5G traga novas oportunidades de negócio e novos verticais: robótica, Indústria 4.0, medicina. A quinta geração móvel é uma tecnologia que não vai funcionar isoladamente, mas juntamente com outras, como a Internet das Coisas e a inteligência artificial. A sua aplicação resultará da cocriação entre a Vodafone e as empresas, feita à medida de cada negócio e não de cada setor.
Para os consumidores, quais as características da nova geração que serão mais visíveis?
Para os clientes particulares assistiremos a melhorias significativas no desempenho da rede, principalmente na experiência de utilização de dados, o que vai potenciar a utilização de serviços interativos, como a realidade virtual e aumentada. Já no setor empresarial as mudanças irão verificar-se sobretudo ao nível do IoT, no que diz respeito ao crescimento exponencial dos equipamentos ligados entre si e à massificação dos serviços potenciados por esta comunicação entre máquinas.
Que aplicações serão possíveis que hoje não estão disponíveis?
Da cirurgia remota à robótica de reabilitação, passando pela telemedicina e pelos sensores vestíveis, o 5G será um grande precursor da inovação na área da saúde, ajudando a melhorar a eficiência das equipas médicas e os cuidados com os pacientes. No setor automóvel, a telemática – dados sobre a performance ou localização do veículo – irá dar lugar à “condução” de veículos autónomos nas estradas e autoestradas. O 5G vai permitir que os veículos comuniquem entre si e com as cidades onde circulam, bem como com as pessoas que estão na rua, o que terá um impacto muito significativo na segurança e na eficiência das cidades. Nas fábricas, a tecnologia irá ligar não só as máquinas mas também os produtos que estão a ser trabalhados. As empresas podem utilizar tecnologia holográfica em reuniões para melhorar a forma como trabalham e ligar empresas que operam em localizações diferentes. No setor do turismo assistiremos à aceleração do desenvolvimento de conteúdos de realidade virtual e realidade aumentada, criando experiências quase reais do mundo que nos rodeia.
O que vos parece a estratégia 5G que foi aprovada pelo governo?
Uma vez que está a decorrer a esta data a consulta sobre as regras e condições do leilão – o qual deve traduzir os objetivos estratégicos nacionais para o 5G aprovados pelo governo –, a Vodafone reserva comentários para esse momento, sem prejuízo de manifestar desde já a sua satisfação por ver o governo reconhecer a importância estratégica do 5G para o futuro do país. Porém, na forma, timings e responsabilidades exigidas aos operadores atuais para a concretização dessa ambição, existem dúvidas, reservas e discordâncias que farão parte da nossa resposta à consulta em curso. O importante é que usemos agora o pouco tempo que nos resta até ao lançamento comercial do 5G para que possamos acordar uma estratégia de implementação, eficiente e potenciadora da transformação das promessas atuais desta tecnologia em casos de real sucesso.
Ana Rita Guerra