Ainda que o 5G não tenha chegado a Portugal ao mesmo tempo que a outros países europeus, a experiência e capacidade dos profissionais de telecomunicações no país tornam o mercado apetecível na nova geração. É o que explica Frederico Torres, diretor de pré-vendas do World Class Center Advanced Networks da Altran Portugal, que pertence ao grupo francês de engenharia e consultoria.
“Portugal desenvolveu uma grande capacidade nas telecomunicações e engenharia de redes”, afirma o responsável, que lidera uma equipa global a partir de Lisboa. O caminho para a nova geração está a ser traçado agora e a Altran conta com a expertise portuguesa. “O que estamos a fazer com a minha equipa global é que estamos a desenvolver, além desta componente de redes, as camadas acima de plataformas, a que nós chamamos aceleradores.” São, no fundo, as plataformas de criação para o desenvolvimento dos serviços que vão suportar as novas potencialidades do 5G, permitindo agilizar a sua implementação.
Frederico Torres exemplifica com microserviços, virtualização das redes, orquestração e edge computing. “Estamos a desenvolver várias soluções nestas áreas e estamos a juntá-las, a compor vários cenários”, indica. “Depois fazemos a integração das aplicações nas redes. A nossa proposta de valor é exatamente conseguir criar esses novos serviços baseados em componentes especializados.”
O diretor adianta que a sua equipa está responsável por vários investimentos da Altran a nível global e um deles trará um laboratório 5G para Portugal. “Já foi decidido e está em implementação neste momento, para o desenvolvimento e incubação das novas soluções ou serviços aplicados a ecossistemas de 5G”, referiu o responsável. O laboratório será inaugurado oficialmente em abril e irá desenvolver “os novos serviços que vão correr nas redes de operador”, que hoje em dia não existem ou se existem não têm o efeito que vão ter num contexto de 5G. “É um dos investimentos que a Altran Portugal está a liderar para o grupo.”
Em termos de projetos experimentais, a empresa fez uma demonstração em dezembro das capacidades do 5G aplicadas à saúde através de uma ambulância conectada, em parceria com a Vodafone e a Cruz Vermelha. O que a Altran fez, neste caso, foi garantir o encaixe das aplicações a correr vídeo de alta definição na cloud e dentro da rede, numa lógica de cobertura 5G, com sensores de equipamentos médicos.
A saúde é, diz Frederico Torres, uma das indústrias que vai ter bastante relevo na nova geração. “A tecnologia vai evoluir não só na continuidade do que são os serviços típicos de telecomunicações mas expandir para toda a sociedade, toda a economia”, acrescenta. A Altran está a trabalhar em áreas como indústria 4.0, transportes, utilities, cidades inteligentes, carros conectados. “O nosso foco é trabalhar junto com estes clientes, temos de fazer use cases de acordo com os requisitos e necessidades concretas, problemas que podemos solucionar.” O intuito é “criar um ecossistema e trazer as indústrias para a mesa.”
Nesse sentido, a empresa tem feito testes em ambientes industriais com Internet das Coisas (IoT), realidade aumentada e realidade virtual, para efeitos de treino ou assistência remota, e trabalha em vários segmentos distintos, como farmacêutica e equipamentos médicos.
“Um dos diferenciadores da Altran é que trabalhamos a área telecom de forma vertical mas também muitas outras indústrias”, indica Frederico Torres. “A Altran está de forma forte em dez, doze indústrias, temos uma abordagem transversal e vamos buscar o conhecimento a todas essas indústrias.”
O diretor considera que “ainda há bastante evangelização a fazer” numa altura em que Portugal está “um pouco para trás” no desenvolvimento do 5G, mas que “as grandes empresas já estão expostas ao que será o 5G e têm esse conhecimento.”
Ainda assim, embora a Altran tenha interações com empresas em Portugal e registe interesse delas em perceber os benefícios, Frederico Torres indica que “há algum ceticismo em termos de o que é que o 5G vai trazer de novo em use cases que não possam ser entregues com as tecnologias atuais.”
É isso que justifica o empurrão que a Altran – e outras fornecedoras de tecnologia, como a Ericsson, estão a tentar dar aos ensaios e projetos-piloto. “O nosso posicionamento é estar na crista da onda na lógica de aceleração e transição para o 5G, ajudando os nossos clientes com serviços, com laboratório para conseguir incubar, acelerar estes processos de validação das novas soluções”, frisa Frederico Torres. “Estamos a trabalhar em casos concretos com indústrias, o que é muito importante porque vai garantir a monetização destes grandes investimentos em 5G.”
Ana Rita Guerra, Los Angeles