A chegada do 5G aos quatro cantos do mundo está a ser feita a ritmos muito diferentes, mas a associação de operadores de telecomunicações GSMA tem uma previsão notável: nos próximos cinco anos, 1,2 mil milhões de ligações serão asseguradas pela nova geração. Nessa altura, as redes 5G irão cobrir um terço da população mundial e “o impacto na indústria móvel e nos seus clientes será profundo.”
O mapa do lançamento do 5G mostra que o cenário ainda é muito incipiente. Os únicos mercados onde a nova geração móvel está totalmente lançada são a Coreia do Sul, a China e a Austrália. Nos Estados Unidos, várias operadoras começaram a implementação da rede e oferecem o serviço comercialmente, tal como no Reino Unido, Irlanda, Finlândia, Itália, Alemanha, Suíça, Áustria, Roménia, Kuwait e Emirados Árabes Unidos. E numa mão cheia de países — Espanha, Hungria, África do Sul, Omã, Arábia Saudita, Filipinas – uma operadora adiantou-se às outras e já lançou o serviço. No resto do mundo fazem-se ainda preparativos para a nova rede com a expectativa de que a maioria dos lançamentos seja feita entre 2020 e 2023.
“O 5G é mais que uma nova geração de tecnologias”, sublinha a GSMA. “Denota uma nova era na qual a conectividade se irá tornar cada vez mais fluida e flexível.” As redes 5G vão “adaptar-se às aplicações” e o seu desempenho “será feito à medida precisa das necessidades do utilizador.”
A Coreia do Sul foi a primeira a acender a luz nesta nova era, em dezembro de 2018. A partir desse momento, KT. LG Uplus e SK Telecom passaram a oferecer cobertura e assinaturas 5G, o que explica porque é que no país se venderam mais de um milhão de smartphones Galaxy S10 5G assim que a Samsung iniciou as vendas, em abril do ano passado.
A Austrália foi o segundo mercado a entrar na nova geração, com a Telstra a iniciar operações 5G em maio de 2019. Seguiu-se a Optus (Singtel), primeiro com acesso fixo em agosto e depois com acesso móvel em outubro.
No caso da China, a ligação do 5G iniciou-se em outubro de 2019, com três ofertas comerciais: China Telecom, China Unicom e China Mobile. A marca chinesa Vivo foi a que mais beneficiou do lançamento da rede no grande mercado asiático, tendo conseguido 54,3% deste mercado no país, com vendas de 485 mil smartphones 5G (dados IDC). Segundo as previsões da Counterpoint Research, em 2020 o mercado chinês será inundado de telefones 5G abaixo dos 400 dólares e isso levará a China a liderar a adesão à nova geração em termos de dispositivos.
Uma ausência significativa neste rol de early adopters é o Japão. O país atribuiu espectro à NTT DoCoMo, KDDI, Softbank e Rakuten e deverá atribuir licenças para redes 5G locais a uma série de outras empresas que estão interessadas em redes privadas locais, incluindo a Nokia e a Fujitsu.
De longe uma das regiões mais avançadas do mundo em termos tecnológicos, os Estados Unidos tomaram a dianteira em relação à Europa nos lançamentos e nos investimentos avultados em 5G. Entre 2018 e 2025, as operadoras de telecomunicações nos EUA vão investir 380 mil milhões de dólares (341 mil milhões de euros) na implementação das redes.
A dimensão do país e o número de subscritores móveis assim o obriga; os dados da GSMA indicam que há 321 milhões de assinantes nos EUA, número que deverá subir para 345 milhões em 2025. Três quartos das ligações móveis neste momento são asseguradas por 4G e a previsão é de que as novas redes 5G assegurem 46% das conexões em 2025.
“O nosso estudo sublinha como a região da América do Norte está a competir com os mercados pioneiros pela liderança global em 5G”, comentou o diretor geral da GSMA, Mats Granryd, aquando da apresentação dos números para a região no MWC LA. “Os investimentos das operadoras nas redes e serviços de nova geração ajudaram a criar uma indústria que agora vale um bilião de dólares por ano na economia da região, fornecendo uma plataforma para inovação, empregos e crescimento económico.”
A Verizon Wireless foi a primeira a chegar, com o serviço fixo em outubro de 2018 e o móvel em abril de 2019. Seguiu-se a Sprint em maio, a AT&T em meados de junho e a T-Mobile no final desse mês. A disponibilidade difere e concentra-se em grandes áreas metropolitanas, como Los Angeles, Chicago, Nova Iorque ou Houston. Um dos problemas, aqui, é que a Apple tem uma base de utilizadores muito significativa e os iPhones ainda não são compatíveis com 5G. A AT&T, para contornar esse problema e mostrar aos clientes o que está a fazer, passou a identificar como 5Ge a rede nas cidades onde a nova geração já está disponível mas o dispositivo não é compatível.
Reino Unido, Irlanda, Finlândia, Itália, Alemanha, Suíça e Áustria já têm múltiplas ofertas de 5G desde 2019, a maioria a partir do verão. Na Espanha e na Hungria a Vodafone foi a primeira e até agora única a lançar uma oferta comercial, junho no primeiro caso e outubro no segundo. Em Portugal, o leilão de frequências será realizado em abril e tudo deverá estar concluído em junho, com a Anacom a garantir que estão reunidas condições para um processo mais vantajoso que a maioria dos congéneres europeus.
Do outro lado do Atlântico, no Brasil, o quadro regulatório está mais atrasado. A entidade regulatória Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) voltou a adiar em dezembro a decisão das regras de atribuição de frequências e agora prevê-se que esse edital seja publicado apenas na segunda metade de 2020.
Em causa está o formato de divisão das frequências, sobre o qual os conselheiros da agência ainda não se entenderam, que antecede a decisão, a consulta pública e o leilão das frequências. Acresce a este impasse um problema técnico, a interferência de uma das frequências no sinal de antenas parabólicas usadas por milhões de brasileiros. O conselheiro Emmanoel Campelo disse, no MWC LA em outubro de 2019, que a previsão era de que o 5G chegasse ao Brasil em 2021.
Ana Rita Guerra, Los Angeles