O mercado de trabalho português está a registar um aumento da procura por profissionais para “green jobs”, cargos dedicados à sustentabilidade e à transformação dos modelos de negócio para que sejam mais sustentáveis. É o que nota a Gi Group, empresa dedicada a recrutamento e recursos humanos, que verifica uma aceleração da tendência nos últimos anos.
“Portugal não é um país que tenha um tecido empresarial de muitas grandes empresas, mas tem várias onde esse investimento é mais marcado”, disse ao Dinheiro Vivo Rui Rocheta, diretor regional do sul da Europa e Latam da Gi Group Holding. “Temos visto de facto essa tendência, nomeadamente no tipo de perfis dedicados a analisar a atividade da empresa de um ponto de vista ambiental.”
O responsável descreveu “green jobs” como cargos onde os profissionais ajudam as empresas a tornarem o seu negócio e cadeia de valor mais sustentável. Dependendo do negócio da empresa, podem ser engenheiros, pessoas focadas na melhoria de processos para reduzir desperdícios ou especialistas de análise de investigação e desenvolvimento para criar novas soluções técnicas mais amigas do ambiente, entre outros.
“A primeira marca de que há um interesse da empresa nesta tendência, o primeiro ‘green job’ que todas as empresas têm de abrir é de análise de processos e de análise do negócio”, frisou. “Essa é uma tendência que já se vem verificando e vem crescendo bastante em Portugal nos últimos anos.”
Estes analistas têm como missão identificar os principais pontos de melhoria em relação à sustentabilidade e apontar para o que a empresa está a fazer que é mais danoso para o ambiente. “Esse é o ponto de partida”, referiu Rui Rocheta. “Com este diagnóstico, a empresa consegue saber onde é que tem de reforçar as equipas.”
A tendência é forte em sectores como o industrial. Se o consumo de energia for um dos principais pontos a melhorar, a empresa pode contratar engenheiros elétricos com o objetivo de melhorar o consumo energético, otimizando máquinas e inovando em processos. Se o problema está nos materiais usados, a empresa pode ir buscar perfis de I&D que a ajudem a substituir os componentes – por exemplo, retirando o petróleo da produção de plástico e substituindo por outro material resistente mas mais sustentável.
“A principal razão por que nós acreditamos que é uma tendência que se vai manter é o incremento de pessoas para fazerem esta primeira fase, que é uma fase de análise, de diagnóstico” salientou Rui Rocheta.
Embora reconheça que as diretivas europeias têm tido influência, o responsável sublinha que há empresas proativas e que não se limitam a reagir às regulamentações.
“Normalmente essa parte reativa verifica-se em empresas de menor porte”, descreveu. “As empresas de maior porte já se aperceberam da importância desse trabalho para a própria sustentabilidade financeira da empresa. E portanto são bastante mais proativas.”
Muitos “green jobs” referem-se a posições que anteriormente não existiam, o que coloca grandes desafios para o recrutamento – em especial num mercado laboral pequeno como o português. A Gi Group está a ver movimento nas universidades, que dão mais ênfase a este tipo de competências, mas também aponta para a importância da formação de pessoas que já estão no mercado de trabalho.
“Há uma luta pelos talentos, porque de facto não existe tanta gente com esta experiência”, indicou Rui Rocheta. “No entanto, vemos também que existe bastante disponibilidade no mercado português de formação que ajude a capacitar e a dar os skills necessários a algumas pessoas”, frisou.
A Gi Group recomenda um olhar para o talento dentro das empresas, porque é possível a conversão de perfis em “green jobs” através do desenvolvimento das competências necessárias e da introdução de capacitações técnicas que se encontram disponíveis no mercado.
A sustentabilidade e o papel da tecnologia a tornar as empresas mais sustentáveis nos vários pilares serão os temas da 6ª edição da Vodafone Business Conference, que decorre a 11 de outubro no Mosteiro de São Bento da Vitória, Porto. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas através deste link.
Ana Rita Guerra