A sustentabilidade é “o desafio da nossa geração” e as empresas europeias têm de apostar em inovação para o endereçarem: foi o que disse ao Dinheiro Vivo o CEO da Vodafone, Luís Lopes, em entrevista à margem da Vodafone Business Conference, que decorreu no Porto na semana passada.
“A Europa não pode ficar na cauda das principais economias mundiais em termos de investigação e desenvolvimento e patentes”, afirmou o executivo. “Porque é através dessa componente que nós vamos identificar ainda mais capacidade tecnológica para endereçar e resolver os problemas de sustentabilidade que temos.”
Luís Lopes citou o relatório de Mario Draghi onde é apontada a perda de competitividade da região europeia nos últimos anos. Para o CEO, há uma ligação direta entre a capacidade de inovar e desenvolver e a capacidade de tornar as empresas mais sustentáveis. A atenção está especialmente focada na crise climática, mas o responsável entende que a sustentabilidade deve ser vista também nas vertentes sociais e económicas.
“A sustentabilidade obviamente tem um problema de muito curto prazo, de resolvermos a parte ambiental do planeta, mas tem que ser feita também num equilíbrio do que acontece com o tecido económico e com a sociedade em geral”, afirmou. “Para nós, a sustentabilidade não é estritamente apenas uma questão de redução de CO2. Tem mais componentes que têm que ser abordadas e endereçadas.”
A 6ª edição da conferência, que este ano decorreu no Mosteiro de São Bento da Vitória, dedicou-se ao tema da tecnologia sustentável com três oradores nacionais e internacionais – Ana Casaca, head of innovation da Galp, Ed Gillespie, futurista e autor, e Jessica Groopman, fundadora do Regenerative Technology Project e conselheira de inovação sénior da Intentional Futures.
“Há uma panóplia muito grande de utilização de ferramentas tecnológicas que resultam em processos mais sustentáveis, não só do ponto de vista ambiental e de consumo energético, mas também do ponto de vista económico”, disse Luís Lopes. “Torna as empresas mais fortes, mais sólidas e mais sustentáveis.”
O executivo destacou dois tipos de soluções que a Vodafone Portugal tem estado a desenvolver e a implementar nesse âmbito: a utilização de sensores IoT e soluções integradas em sectores como o da agricultura, para redução do consumo de água. “Tem a ver com a utilização de dados climatéricos, co sistemas de utilização de vídeo para identificação do grau de temperatura e de desenvolvimento das plantas e com isso fazer otimizações de consumo de água, de consumo de energia”, descreveu o responsável. “Há exemplos na área da indústria”, acrescentou, “da utilização também de processos de digitalização tecnológica com redução substancial no consumo energético nesses próprios processos.”
Luís Lopes destacou ainda os compromissos públicos assumidos pela Vodafone, não só para a redução da sua pegada de carbono mas também dos seus clientes, de forma direta e indireta. A empresa pretende neutralizar as suas emissões até 2028, sendo que desde 2021 100% da eletricidade consumida na Europa – e também em Portugal – vem de fontes renováveis.
“Temos um conjunto de iniciativas muito alargadas dentro da própria Vodafone de poupança de energia”, sublinhou o CEO. “Há múltiplos exemplos não só nas redes que nós temos, mas também na própria maneira como operamos no dia-a-dia.”
Considero que o tema é particularmente relevante. Nós na edição passada abordámos o tema da inteligência artificial. O tema da sustentabilidade é o grande desafio que nós todos temos, não só no sector empresarial das telecomunicações e da tecnologia, mas em toda todos os sectores, todas as áreas da sociedade que possamos imaginar. É o desafio da nossa geração e, portanto, achamos particularmente importante, até porque nós acreditamos que a tecnologia é uma das principais formas para podermos abordar esse desafio da sustentabilidade. Sem a tecnologia, é muito difícil conseguirmos resolver o problema de sustentabilidade que existe.
Acima de tudo, aumentar ainda mais o conhecimento que as pessoas têm sobre sobre este problema e inspirar os nossos participantes em olhar também para os seus negócios, olhar para as suas empresas como consumidores. Que coisas podem alterar? De que forma é que podem utilizar soluções, com quem devem falar, com quem podem estabelecer parcerias para poder transformar? Se nós não transformarmos o que fazemos hoje, não vamos conseguir resolver o problema que temos entre mãos.
Cada vez mais. Apesar de parecer um paradoxo e uma dicotomia, ‘mas a sustentabilidade quer dizer que vou ter que estar a incorrer em custos?’, nós vemos isso de outra forma. O relatório Draghi refere uma parte essencial da competitividade europeia, que tem a ver com a inovação e a aposta do desenvolvimento e investigação. E acredito que é através desse pilar – não só desse pilar mas vai ter um papel muito importante – que vamos conseguir endereçar os temas de sustentabilidade.
Ana Rita Guerra