A Vodafone Portugal acredita que a tecnologia é um elemento essencial para tornar a sociedade e os negócios mais sustentáveis, mas tal não vai acontecer sem uma implementação estratégica e bem informada. Esse foi um dos motivos pelos quais a empresa escolheu o tema da tecnologia sustentável para a 6ª edição da Vodafone Business Conference, que decorreu no Porto na semana passada.
“É um tema que nos deve preocupar a todos enquanto cidadãos, empresários, membros da sociedade”, disse o administrador da Vodafone Henrique Fonseca, em entrevista à margem da conferência. “É uma responsabilidade de todos.”
Ao trazer o tema para o debate, um dos objetivos é que a sustentabilidade seja incluída nas agendas estratégicas das empresas, com foco no papel da tecnologia. Mas tendo uma visão clara sobre a necessidade de a usar corretamente, algo que um dos oradores, Ed Gillespie, apontou. O futurista salientou que 90% dos dados gerados e armazenados não são usados e isso está a causar um enorme desperdício de capacidade e a aumentar a pegada de carbono de grandes tecnológicas.
“Os números que o Ed divulgou são enormes. Não são surpreendentes e mostram bem a importância de as empresas terem uma estratégia para tocar nos vários pilares da sustentabilidade, na económica, social, ambiental”, referiu Henrique Fonseca.
O administrador considerou que o problema do desperdício “mostra que a tecnologia tem que ser bem utilizada”, voltando a fazer a ligação ao título da conferência: tecnologia sustentável.
“A tecnologia ‘per se’ não resolve os problemas, ajuda a resolver e tem que ser bem utilizada”, continuou o administrador. “Não basta uma empresa dizer que adquiriu um determinado software ou que está a utilizar um servidor na nuvem para poupar. A empresa tem que saber o que é que está a fazer com aquela informação.”
Internet das Coisas, sensores, 5G, blockchain e outras soluções estão no centro desta ligação entre tecnologia e sustentabilidade, permitindo às empresas serem mais eficientes e menos extrativas. “Temos soluções que vão desde smart cities aos sensores. Passam na agricultura, passam na gestão de frotas, passam na eletrificação das frotas”, disse o responsável. “Passam também no contributo para as empresas que estão a ter estas preocupações e que estão a eletrificar as suas frotas nos seus próprios escritórios terem estas soluções”, salientou. As soluções ‘end-to-end’ permitem aos empresários usar a informação para tomar melhores decisões, apontou ainda Henrique Fonseca.
O administrador lembrou que a Vodafone “sempre teve” uma preocupação com a sustentabilidade e ao longo dos anos tem procurado soluções para melhorar a sua própria contribuição para o desafio. O 5G é um bom exemplo disso, já que a nova geração móvel é mais eficiente e tem menores consumos.
“Claramente, o 5G é uma tecnologia que poupa muitos recursos. Só no próprio consumo da energia, o 5G, por ser uma tecnologia recente, é muito mais evoluída do que as tecnologias anteriores”, referiu o responsável. Essa é uma das razões pelas quais a Vodafone está neste momento a desligar a tecnologia 3G e vai reutilizar as frequências.
“Esses equipamentos vão ser desligados porque o 5G tem demonstrado uma capacidade muito superior e, por outro lado, consumos de energia muito mais baixos”, descreveu. “É claramente uma tecnologia muito mais sustentável e que é muito mais amiga do ambiente.”
Embora Portugal seja conhecido pelo desenvolvimento tecnológico e rápida adoção de tecnologias, Henrique Fonseca chamou a atenção para algum atraso na implementação de soluções que podem contribuir para a sustentabilidade. O administrador citou um recente estudo da União Europeia em que o mercado português aparece no terceiro lugar a contar do fim na adoção de sensores, que são considerados elementos fundamentais na automatização e uso da IoT para poupar recursos.
“Nós estamos avançados em termos de disponibilidade das tecnologias. Não estamos tão avançados em termos do desenvolvimento e da utilização dessas tecnologias”, considerou Henrique Fonseca, lembrando que o tecido empresarial português é constituído essencialmente por pequenas e médias empresas que não são tão rápidas a implementar, por exemplo, redes de sensores.
“É apenas uma amostra do tipo de utilização que se pode pôr numa máquina, num sistema de rega, e que nos ajuda a tomar melhores decisões e a utilizar os recursos quando eles efetivamente são necessários”, considerou o responsável.
“Portanto, temos um caminho a percorrer, mas essa é exatamente a razão porque estamos aqui”, disse, falando do momento e do tema da Vodafone Business Conference deste ano. “Queremos pôr este tema na agenda nacional, queremos pôr este tema na agenda dos decisores e, portanto, esperemos que ao saírem desta conferência levem este tema para refletir e para poder implementar estratégias que contribuam para a melhoria da sustentabilidade.”
A conferência decorreu no Mosteiro de São Bento da Vitória, no Porto, e teve como oradores a head of innovation da Galp, Ana Casaca, o futurista Ed Gillespie e a fundadora do Regenerative Technology Project e conselheira de inovação sénior da Intentional Futures, Jessica Groopman.
Ana Rita Guerra