Pouco mais de um ano foi o tempo de que a Galp precisou para montar a primeira comunidade energética do país, num projeto-piloto que serve como ‘sandbox’ para testar soluções inovadoras. O Caxias Living Lab é uma parceria entre a empresa portuguesa, o município e os moradores, sendo uma demonstração no terreno de como grandes organizações com mais de 100 anos de operação podem inovar em pouco tempo.
“A área de inovação tem como grande objetivo apoiar a empresa na procura de novas oportunidades de negócio no caminho da descarbonização”, disse ao Dinheiro Vivo a head of innovation da Galp, Ana Casaca, que foi uma das oradoras da Vodafone Business Conference.
“Baixamos as barreiras à entrada, trabalhamos com ecossistemas, criamos parcerias”, explicou, para encontrar “soluções de baixo carbono que permitam aos nossos consumidores fazerem este caminho de transição energética connosco.”
Com painéis solares, bombas de calor, carregadores e uma bateria de armazenamento de energia comunitária, o Caxias Living Lab é uma das formas como a Galp está a explorar soluções para o futuro. A empresa tem também o projeto Second Life Batteries, que dá nova vida a baterias de carros elétricos antes de as enviar para a reciclagem. Para Ana Casaca, estes são projetos que demonstram como a inovação pode ser colocada ao serviço da descarbonização e acontecer mesmo em organizações de grandes dimensões.
“É possível fazer numa grande empresa que tem sede em Portugal desde que consigamos ter uma equipa com conhecimento do sector e com um espírito de colaboração e de abertura, para de facto procurar as parcerias e de uma forma totalmente aberta e colaborativa testar soluções”, afirmou Ana Casaca. “Aquilo que nós queremos é que, por exemplo, as startups testem soluções connosco e consigam escalar de uma forma muito mais rápida”, frisou. “A principal mensagem seria se a Galp consegue, todos nós conseguimos.”
Ana Casaca falou, na sua apresentação. da importância de lançar testes no terreno e de encarar a inovação não como um departamento isolado mas como uma atividade em todas as áreas da empresa. Jessica Groopman, fundadora do Regenerative Technology Project e conselheira de inovação sénior da Intentional Futures, explicou como ambicionar ir para lá do carbono zero e atingir a regeneração.
“Se pensarmos nas tecnologias que estão hoje ao serviço da sustentabilidade, muitas vezes isso está virado para o carbono zero ou fazer menos mal”, explicou a norte-americana. “O que a tecnologia regenerativa faz é olhar para as tecnologias como uma forma de restaurar a saúde e ter um impacto mais positivo.”
Groopman deu vários exemplos corporativos de empresas que estão a fazer isto. Por exemplo, a Ecovative percebeu que pode usar cogumelos para criar alternativas a plásticos e materiais baseados em petroquímicos. “Fazem-no de uma forma que suporta a restauração dos ecossistemas de cogumelos, que suporta agricultores em todo o mundo e que é um negócio muito viável e lucrativo”. descreveu Jessica Groopman. Ou seja: não é apenas um modelo de negócio extrativo ou de produção intensiva, mas que contribui para a regeneração dos ecossistemas em que toca.
Outro exemplo dado pela especialista foi o de uma plataforma digital de aluguel que redistribui as receitas geradas na comunidade.
“A sustentablidade é crítica e temos de dar estes passos, mas podemos fazer ainda melhor”, afirmou Groopman. A especialista notou que o ritmo de desenvolvimento da tecnologia regenerativa tem estado a acelerar nos últimos cinco anos e há investimento corporativo a chegar ao segmento. “Isso é incrivelmente entusiasmante”, disse. “Estamos num momento crítico e a acelerar o financiamento, a inovação e as tecnologias.”
Depois de participar na Vodafone Business Conference, a autora reiterou também que podemos ir além da sustentabilidade e modelar os negócios à imagem da natureza. Em vez de extrair, pedir emprestado ao mundo natural e procurar formas de restaurar e acrescentar.
Apesar de promover esta mudança como algo necessário, Jessica Groopman não descreveu a era da tecnologia regenerativa como algo para o futuro, mas como algo que é fluído e presente.
“O futuro é fragmentado e isso é verdade também para a tecnologia e para a sustentabilidade do ambiente”, apontou. “Por outras palavras, já chegámos lá e ao mesmo tempo temos um longo caminho a percorrer. Depende de para onde olhamos, depende do sector, do contexto e da liderança”, afirmou. “Há exemplos abundantes de com que é que isto se pode parecer”, disse ainda. “É uma questão de os adotar e fazer escalar em contexto e em diversos ecossistemas.”
Realizada no Mosteiro de São Bento da Vitória, no Porto, a 6ª edição da Vodafone Business Conference teve como tema Sustainable Technology, sob o mote de que a tecnologia é um pilar essencial para endereçar os desafios da sustentabilidade ambiental, social e económica. Além de Ana Casaca e Jessica Groopman, teve uma apresentação do futurista britânico Ed Gillespie e uma intervenção do CEO da Vodafone Portugal, Luís Lopes, que caracterizou a sustentabilidade como “o desafio da nossa geração.”
Ana Rita Guerra