A próxima década será revolucionária para a gestão de projetos, devido à ascensão de sistemas de inteligência artificial nas empresas. De acordo com um novo estudo da Gartner, 80% do trabalho de gestão de projetos feito atualmente vai desaparecer em 2030, uma vez que a IA irá alterar funções como recolha de dados, monitorização e relatórios. O vice presidente de pesquisa da Gartner, Daniel Stang, explicou ao Dinheiro Vivo que tal não significa que os profissionais encarregados das tarefas de gestão de projeto serão substituídos.
“Os 80% que serão eliminados são no trabalho administrativo”, detalhou. Ao longo dos anos, os gestores de projetos grandes ou mais complexos foram precisando de um administrador de projeto, porque 10% a 15% da duração de um trabalho é gasto com tarefas administrativas. No futuro, “a IA vai aliviar a necessidade de fazer tarefas intensivas e por vezes manuais de planeamento, introdução de dados, recolha de dados, reporting e análise, necessárias para a tomada de decisões”, adiantou o especialista.
A Gartner antecipa que esta componente de gestão será substancialmente reduzida, mas tal não significa que os gestores de projeto percam o emprego. Eles vão é passar a ser “líderes de projeto.” A recolha de dados, análise e reporting são uma grande porção da área a que a consultora chama PPM – Program & Portfolio Management. A IA vai “melhorar o resultado destas tarefas”, incluindo a capacidade de analisar os dados mais rapidamente que um humano.
No estudo “Como a IA irá reinventar a gestão de programas e portfólio”, divulgado em março, a consultora refere que os fornecedores de software para este mercado estão atrasados e ainda não oferecem suites de gestão totalmente digitalizadas. De acordo com Daniel Stang, um dos dilemas cruciais de hoje é que muitos fornecedores de software usam tecnologia baseada em padrões tradicionais. No entanto, a metodologia low-code/desenvolvimento ágil e uma mudança para um pensamento baseado nos produtos com foco no digital tornaram-se mais apetecíveis, o que apanhou os fornecedores de tecnologia na curva. A previsão é de que soluções de gestão de projetos embebidas com inteligência artificial comecem a aparecer já este ano.
Daniel Stang diz que tal virá tanto de pequenas startups como de empresas mais bem estabelecidas. Algumas estão já a contratar cientistas de dados e a desenvolver ‘bots’ de conversação, a fazerem experiências com aprendizagem de máquina e a entrar em parcerias com clientes para testarem software com IA. Inicialmente, estas tecnologias vão centrar-se em melhorar a experiência de utilização dos gestores de projeto, passando mais tarde a ajudá-los a tornarem-se melhores gestores. “Em 2023, os fornecedores de tecnologia focados em IA, realidade virtual e plataformas digitais vão gerar disrupção no mercado e causar uma resposta clara por parte das empresas tradicionais”, prevê a Gartner.
A inteligência artificial, em particular aprendizagem de máquina, vai permitir aos fornecedores de sistemas o desenho automático de planos, evitando que os gestores de projeto tenham de começar sempre do zero. A aprendizagem de máquina também servirá para criar um sistema de alertas atempados, com base em dados históricos dos projetos.
Todavia, Stang indica que as empresas que desenvolvem sistemas ainda não perceberam bem como aproveitar o seu historial de sucessos, falhanços e lições aprendidas. Salientando que este não é um assalto à posição do gestor de projeto, o analista refere que estes profissionais estão “intrigados”, na sua maior parte, pelos benefícios da aprendizagem de máquina, tal como o potencial para gerar conhecimento sobre comportamentos e erros humanos recorrentes. Estão “menos interessados na IA de conversação”, reconhece, mas prevê que vai acontecer o mesmo que sucedeu com as mensagens de texto, que “mudaram a forma como comunicamos com outros.”
Os ‘bots’ a que os utilizadores se foram habituando nos últimos anos estão a caminho da massificação, apesar da evolução necessária. “Neste momento, falar com o Google Home ou outro dispositivo de reconhecimento de voz que usa processamento de linguagem natural ainda é um bocado imperfeito e estranho”, diz. “Ainda é uma novidade.” No entanto, o analista considera que tal vai mudar e que quando a IA de conversação se tornar um valor integral para os consumidores em casa, nas suas vidas privadas, também vão querer utilizar isso no seu ambiente de trabalho.
Os casos de uso são interessantes: por exemplo, um gestor pode passar a usar a sua voz para fazer um pedido ao software e emitir um comando, em vez de pegar no rato e no teclado. Os líderes de projeto que abraçarem mais rapidamente a tecnologia terão melhores resultados, acredita Stang, com mais chances de reduzirem a ocorrência de problemas nos projetos e riscos associados a erros humanos. “Quando todos estivermos a usar IA de conversação porque aporta valor às nossas vidas, a mesma perceção irá emergir e crescer nos ambientes de gestão de projeto nas empresas”, diz. No fundo, a previsão é de que a inteligência artificial vá revolucionar a forma como os líderes de projeto utilizam a tecnologia para atingirem os seus objetivos empresariais.