A inteligência artificial já está a tomar decisões importantes para a nossa vida, tais como quem consegue um empréstimo ou quem acede a uma entrevista de trabalho. Por isso, as empresas devem concentrar-se em desenhar algoritmos e sistemas inteligentes que “funcionam para toda a gente”, disse Kriti Sharma na Vodafone Business Conference – A Caminho do Futuro, que decorre neste momento na Alfândega do Porto.
“É importante garantir que as máquinas não funcionam apenas para fragmentos da sociedade”, afirmou a especialista, que é vice-presidente de inteligência artificial do grupo Sage, referindo que “há formas de fazer com que trabalhem para a sociedade.”
A mais importante, explicou, é garantir a diversidade: “A sociedade do futuro precisa de ser desenhada por pessoas com diferentes backgrounds”, o que significa que os sistemas não devem ficar a cargo apenas de tecnológos como ela, mas também de outros profissionais, como psicólogos e antropólogos. Tudo, explicou, tem a ver com o design.
Um dos problemas dos sistemas inteligentes, disse Kriti Sharma, é que estão a apreender os preconceitos já existentes no mundo. Isso reflete-se até mesmo no perfil de assistentes de IA que existem hoje: as assistentes virtuais que podemos usar para acender a luz ou desligar a televisão têm nomes e vozes femininas, como Siri e Alexa; os sistemas usados para decisões importantes e de negócio, têm nomes e personalidades masculinas, como IBM Watson e Salesforce Einstein. “Pensem no impacto que isto está a ter nos jovens”, sublinhou Sharma.
No seu trabalho na Sage, ciente deste problema, a responsável criou o cargo de designer de conversação, para desenhar as personalidades dos assistentes com que a empresa de software empresarial trabalha. Isto resultou de forma positiva. “Quando há alguém especialista em linguagem, a adesão cresce mais rapidamente, porque tem a ver com a criação de relações com os humanos e a conversação é mais envolvente”, concluiu.
Outros projetos paralelos que Sharma está a liderar fazem uso da IA para ajudar vítimas de violência doméstica na África do Sul e dar acesso a informações de saúde a um milhão de pessoas na Índia. “Este é o momento”, referiu, para investir e desenvolver “sistemas que funcionam para toda a gente.”
Porque interessa o que fazemos agora com a IA para preparar o futuro. O seu mantra, revelou, é uma brincadeira com a ideia hollywodesca de que as máquinas vão dominar o mundo: “quando os robôs tomarem conta disto tudo, ao menos que sejam simpáticos.”
Ana Rita Guerra