Dizer que o a próxima geração de comunicações móveis é mais rápida é contar apenas uma (pequena) parte da história. Quase uma década depois da introdução do 4G, que bancava precisamente na aceleração da transmissão de dados, o investimento em 5G não poderá ser justificado apenas por esse aspeto. Maior velocidade é algo que já se espera de forma incremental. Para convencer consumidores e empresas, as operadoras de telecomunicações e fornecedoras do ecossistema móvel terão de ir mais além. É o que se está a ver um pouco por todo o lado onde os investimentos em 5G já começaram ou estão prestes a dar frutos.
“O 5G é como um canivete suíço, traz uma data de funcionalidades que podem ser usadas, mais do que de forma isolada, na sua combinação, o que permite que sejam criados serviços inovadores”, explica Pedro Santos, responsável pelo 5G Hub na Vodafone Portugal. De acordo com o especialista, este centro tem como objetivo “desenvolver todo o ecossistema em torno da tecnologia 5G, desde a sua preparação tecnológica até um conjunto de parceiros que estão integrados neste hub e permitem tirar proveito da tecnologia.”
O centro tem estado a validar o funcionamento dos equipamentos “porque o 5G vem introduzir um conjunto de novas tecnologias, que são diferentes das gerações anteriores, funciona sobre novas frequências, e tudo isto são desafios.” Os operadores estão a tentar perceber, por exemplo, qual a densidade de estações 5G que precisam de ter para um funcionamento ótimo dentro das casas e dentro das empresas.
O Instituto Superior Técnico de Lisboa e a Faculdade de Engenharia da Faculdade do Porto estão integradas no hub, como parceiros de investigação, e há um conjunto de startups que contribuem com ideias de utilização e testam a rede nos seus negócios. A Live Electric Tours, por exemplo, acredita que o 5G trará uma revolução ao seu negócio. E há outras startups, como a OnTop, para quem a nova geração móvel será absolutamente essencial. Também fazem parte do 5G Hub parceiros tecnológicos como a Ericsson, a Altran e a Celfinet.
“Acreditamos que o percurso que o 5G tem que fazer é um trabalho em equipa, ninguém o conseguirá fazer de forma isolada”, sublinha Pedro Santos. O Hub foi criado em junho de 2018, o primeiro centro deste tipo em Portugal, “e visa juntar todas as peças deste puzzle necessárias para que o 5G seja um sucesso.”
Uma vez que esta geração é mais um salto que uma evolução, o que a distingue? “Ao contrário de gerações anteriores, que apenas traziam mais uma característica relativamente às antecessoras, tipicamente mais velocidade, o 5G traz um conjunto mais alargado de possibilidades, assentes nas suas características técnicas”, estabelece Pedro Santos. O responsável explica que a nova geração, além de maior velocidade, permitirá suportar mais dispositivos em simultâneo e terá muito menor latência, abrindo portas a uma resposta imediata da rede.
No entanto, avisa, “estas características não surgem todas no arranque. É importante explicar que no dia em que ligar o 5G a primeira característica que se vai notar é mais velocidade, e largura de banda”, indica. “Todas as redes 5G que viram o seu lançamento, nomeadamente aqui na Europa no ano passado, lançaram serviços centrados nesta característica.”
Os testes que o 5G Hub vem conduzindo organizam-se por clusters, havendo uma área em Lisboa e outra no Porto onde a rede está a funcionar de forma standard e muito similar ao que foi lançado comercialmente noutros países, disse Pedro Santos. Cascais está também em vias de iniciar os testes. Neste momento, a alguns meses do início do leilão, a Vodafone está a fazer testes usando espectro cedido pela Anacom para esse efeito. No contexto do Hub, são distribuídos cartões SIM e emprestados equipamentos compatíveis – desde routers a smartphones – para que os parceiros possam fazer os testes.
Em novembro passado, um documento da União Europeia indicou que Portugal era o oitavo país da UE com mais testes da nova geração móvel, havendo várias operadoras envolvidas. O documento destacou a preparação de cidades como Aveiro, Évora e Porto não apenas com infraestruturas mas também corredores tecnológicos virados para o 5G.
Embora Portugal tenha perdido o comboio da primeira vaga de lançamentos da nova geração, que chegou a vários países da Europa em 2019, um estudo da sueca Ericsson estima que o impacto do 5G a 10 anos atinja os 3,6 mil milhões de euros no país. Pedro Santos indica que a Vodafone está otimista quanto a estas perspetivas.
“Vemos com bons olhos que há expectativas de o mercado gerar bastante valor e o país só tem a ganhar quanto mais rápido colocar as mãos no 5G e poder começar a fazer essa transformação”, afirmou, frisando que estes números representam volumes globais, gerados por todo o ecossistema.
“É importante frisar que o 5G é um trabalho de equipa. Ninguém pode achar que vai conseguir ter tudo, vão ser feitas parcerias na cadeia de valor!”, frisa. “Ao se introduzirem empresas de verticais que não estavam associadas às redes móveis haverá parcerias pelo meio para se desenvolverem novos produtos.”
O responsável lembra também que o 5G representa “um grande investimento por parte dos operadores”, que vai além do espectro em si. É preciso o desenvolvimento e da construção de uma rede nova, “que representa a instalação de muitos equipamentos e tem um grande investimento.”
Ana Rita Guerra, Los Angeles