Na baixa de Las Vegas, a vinte minutos do corrupio dos grandes casinos da Strip, há um edifício que alberga o Centro de Inovação Internacional, aberto pela cidade para incubar empresas e criar soluções urbanas. A intenção da autarquia é tornar Las Vegas numa cidade inteligente que facilita a vida aos moradores, turistas e empresas. Em especial aquelas que estão à procura de uma alternativa a Silicon Valley. Neste caldeirão de inovação que a cidade está a fomentar, onde cabem tecnologias de inteligência artificial, Internet das Coisas, robótica e automação, há um elemento considerado fundamental para realizar essa visão: a ultra-conectividade trazida pelo 5G.
Segundo Michael Sherwood, diretor do departamento de TI da cidade, Las Vegas está a criar a sua rede privada de 5G, utilizando espectro não licenciado com vista a um início de operação no verão 2020. O responsável disse à CNET, por altura do grande evento de eletrónica em janeiro, CES 2020, que uma rede privada ajudará a garantir que toda a gente tem acesso igual à conectividade 5G. Os testes vão decorrer no distrito médico da cidade, onde está a ser desenvolvido um projeto de carros autónomos. A ambição de Las Vegas é tornar-se um centro de inovação que rivaliza com as cidades mais avançadas do mundo, mas esta visão de smart city está ao alcance de muitos mais centros urbanos.
“Se falamos em cidades inteligentes, no fim das contas trata-se de um chapéu que cobre conceitos distintos que convergem num espaço”, diz ao Dinheiro Vivo Jaime Trapero, diretor de marketing de clientes da Ericsson na Península Ibérica. “O que temos são distintos clusters tecnológicos, quer seja no transporte, distribuição, carros autónomos, utilities“, refere o executivo, que será um dos oradores da Vodafone Business Conference na próxima semana.
A diferenciação do 5G, além das características de alto débito, velocidade e baixa latência, é suportar uma maior quantidade de dispositivos, explica Trapero. “Isso é muito interessante no que respeita a cidades inteligentes”, indica o responsável, mencionando também a importância do “fatiamento” da rede (slicing). “Muitos destes serviços vão requerer determinadas características de latência, então podemos fazer uma divisão da rede”, acrescenta.
As áreas que vão beneficiar são muitas, desde o retalho e transportes públicos à segurança pública, carros conectados, saúde e utilities. “Há casos de uso super interessantes”, estabelece.
Um deles é a gestão de tráfego. “Se temos um ecossistema de carros, autocarros e frotas de transporte conectados, os veículos serão capazes de falar em tempo real com qualquer elemento, como semáforos”, indica Trapero. Poderá ser feita uma modificação instantânea para ajudar à passagem de veículos de emergência, exemplifica. O carro pode ser programado para detetar elementos vulneráveis pelo caminho, como ciclistas. Usando geofencing, a autarquia pode limitar o acesso a certas áreas da cidade por questões de poluição, por exemplo. “Não sabemos quando, mas olhamos para um futuro em que até poderemos recolher sinais nas estradas, haverá para-brisas com realidade aumentada.”
Outra área importante para a cidade é a gestão de lixo, com sensores que indicam se um contentor está cheio e permitem facilitar a rota de recolha em função disso – algo que a cidade de Cascais já faz há algum tempo. “São casos de uso que não é que agora mesmo sejam impossíveis, mas vão ser mais fáceis de implementar de uma maneira muito rápida e ágil. Esta conectividade extra vai facilitar esse caminho”, frisa Jaime Trapero. Isso mesmo também será interessante para melhorar a cobertura em locais com grandes aglomerados, como estádios de futebol e arenas de concertos.
Trapero lembra que “o conceito de smart city não é novo” e já se vem falando e preparando há bastante tempo com as tecnologias existentes. “O 5G o que traz é mais potencial”, explica. “Desde logo, se melhoramos a rede, se melhoramos a conectividade, todo o ecossistema vai sair beneficiado.” Mesmo que a nova geração não seja essencial em todos os casos de uso, sê-lo-á na confluência de várias tecnologias.
“Do diálogo entre coisas surge a inteligência, que pode levar a que desde um centro de controlo da cidade se possa ter uma quantidade de serviços e informações que antes não eram possíveis”, sublinha o responsável da Ericsson. “No fundo, trata-se de tornar mais simples e eficientes os novos serviços oferecidos aos cidadãos.”
Ana Rita Guerra, Los Angeles