“Sei que vos dececiono de não vir aqui em forma de holograma”, disse Mário Vaz, CEO da Vodafone Portugal, gracejando, “depois de termos teletransportado um jornalista de Queluz para o Paredes de Coura no ano passado.” O responsável falava na abertura da conferência “A Próxima Revolução Tecnológica”, que se debruçou sobre a chegada do 5G, e usou um dos exemplos que mais facilmente mostram as características técnicas da nova rede: latência tão baixa e largura de banda tão elevada que é possível interagir com hologramas em tempo real no palco de um concerto.
Esta vertente de entretenimento deverá ser amplamente explorada quando a cobertura da nova rede o permitir, previu Sabrina Baggioni, uma das oradoras da conferência. A diretora do programa 5G da Vodafone Itália contou como a 13ª edição do “X-Factor” italiano teve a presença holográfica da popular cantora Gianna Nannini num dos diretos.
A veterana estava em Berlim mas “atuou” no palco do X-Factor, com a sua canção “Ragazzo Dell’Europa”, numa performance que no local não se distinguia como sendo um holograma. A demonstração decorreu em Milão em novembro passado e “não teria sido possível antes do 5G”, disse Baggioni. No futuro, até mesmo conferências como a que aconteceu na Fundação Champalimaud poderão ter intervenções remotas em forma de holograma, em vez de obrigarem todos os apresentadores a apanharem um avião para o mesmo local.
Baggioni afirmou ainda que o 5G vai mudar a produção de notícias e a própria indústria mediática, já que poderá substituir a necessidade de utilização de satélite para a transmissão ao vivo. “Isto vai mudar a forma como se fazem reportagens no terreno”, considerou.
Também no terreno, mas de chão de fábrica ou outros locais, há projetos que capitalizam nas capacidades da rede para permitir assistência remota, em que os técnicos levam apenas óculos de realidade aumentada ou smartphones em vez de quilos de manuais em papel. A indústria 4.0 assistirá à chegada de “robótica colaborativa”, apelidou a responsável, em que o robô “pode reconhecer e adaptar-se ao operador humano que tem à sua frente.”
Entre outros projetos que vão ser implementados em breve, há drones com sistemas anti-colisão e robôs que dão assistência em terrenos agrícolas e locais de desastre.
E ainda que a cobertura seja incipiente onde a tecnologia foi lançada comercialmente, a responsável afastou a ideia de que estamos apenas a projetar para o futuro. “Já o fizemos. Não é apenas algo que estamos a pôr em slides.”
Mário Vaz, de resto, tinha referido o mesmo ao mencionar os casos de utilização que a operadora desenvolveu em Portugal, tanto com empresas como com universidades. Mas o responsável deixou um aviso: “Inovação é a palavra-chave”, afirmou. Sabrina Baggioni voltou a pegar na ideia quando referiu que as parcerias entre operadores, empresas e academia se tornam “completamente diferentes” com a chegada do 5G. “Se quiserem ser transformadores, têm de colaborar”, sublinhou. A cocriação é uma palavra-chave; tentativa e erro é outra.”
A conferência sobre a próxima geração teve ainda as intervenções de Mischa Dohler, professor de comunicações sem fios no King’s College em Londres, e de Jaime Trapero, responsável de marketing da Ericsson para a Península Ibérica.
O leilão de frequências para o 5G vai decorrer entre abril e junho, conforme o calendário estabelecido pela Anacom, e espera-se que a rede seja lançada comercialmente pelas operadoras que obtiverem licenças a partir do final do verão.
Ana Rita Guerra