Especialista em inteligência artificial (IA), Ayesha Khanna fala sobre os desafios do futuro.
Que passos devemos seguir para assegurar que a tecnologia não cria vencedores e perdedores?
A melhor forma de assegurar que uma economia potenciada pela IA é equitativa e cria mais oportunidades para que empresas e indivíduos melhorem as suas vidas é dar-lhes acesso a educação em IA. Para pequenas empresas, isto significa subsidiar a sua infraestrutura na nuvem e o uso de ferramentas IA; para indivíduos, ensinar-lhes o básico da IA e como colaborar com equipas informáticas para desenvolver produtos e serviços inovadores. E para os cidadãos, incluí-los nos debates de como, quando e onde a IA deve ser exercida. Para uma tecnologia tão transformadora, é preciso que todos tenham literacia básica e saibam não só como usar machine learning para benefícios individuais, mas apreciar e mitigar riscos para a sociedade.
A IA pode reduzir o fosso de países emergentes e desenvolvidos?
Uma das razões que me inspiram a estar no campo da IA é que democratiza o acesso a serviços básicos para a classe média emergente. De acordo com o Financial Times, cinco pessoas sobem à classe média a cada segundo, a maioria na Ásia. Todavia, a infraestrutura urbana e serviços como educação, transporte e saúde estão muito mal preparados para esta migração em massa para as cidades. Usando IA, podemos otimizar redes de transporte e reduzir a pegada de carbono, podemos usar assistentes IA para ajudar a dar uma boa educação a milhares de pessoas através de telemóvel. E melhorar a manutenção de infraestruturas usando analítica preditiva baseada em sensores.
A IA deve ser regulada por um organismo internacional?
Porque milhões de pessoas serão afetadas pela IA, é imperativo ter governação para impedir a manipulação de sociedades e indivíduos. Singapura tem um modelo exemplar, com a estrutura de governação que guia as organizações no governo e implementação de IA de forma centrada no homem, enquanto encoraja a inovação na economia. O país ganhou o prémio da World Summit on the Information Society pelo trabalho em gestão e ética para IA. Na minha empresa, seguimos estas indicações e enfatizamos a cultura “segurança primeiro” para motores IA, o que abrange três áreas: cibersegurança, privacidade dos dados e ética.
Como é que as pessoas podem preparar-se para um futuro em que a automação vai eliminar milhões de empregos?
As pessoas precisam de sentir que têm poder num futuro em que vivemos com máquinas inteligentes, visíveis e invisíveis. Sem conhecimento, as pessoas são injustamente deixadas na ignorância sobre as implicações de um mercado de trabalho em mudança. Para adquirirmos capacidades e nos adaptarmos aos novos tipos de trabalhos no futuro, precisamos de aumentar a consciência e educar todos sobre como a IA vai afetar a economia.
A IA vai permitir-nos trabalhar menos e sermos mais produtivos, ou ainda valem ideias como a de Jack Ma, de trabalhar 12 horas por dia, seis dias por semana?
O que procuramos sempre é trabalho com significado – o que pode ser duro, mas satisfaz as nossas curiosidades intelectuais e é um meio para aspirações criativas. A questão é: a IA aproxima-nos do trabalho com significado? Acredito que o verdadeiro sentido da IA é precisamente este: amplificar o potencial humano. No entanto, para atingir este objetivo, é preciso ensinar as pessoas a usar a IA para aumentar a produtividade e a imaginação. É uma combinação de delegar tarefas rotineiras à IA e usá-la para obter insights e desenhar novos produtos. Dependendo do tipo de projeto e preferências, o trabalho pode levar algumas ou muitas horas.
Que inovações antecipa?
Vivemos tempos de grande potencial para melhorar a vida das pessoas: usando IA, podemos melhorar os cuidados de saúde através de prevenção, deteção e tratamento de doenças; a proliferação de uma série de serviços via telemóvel (educação, transporte, finanças) – todas as indústrias terão disrupção com a IA e digitalização; e melhorar as colheitas agrícolas através de uma combinação de deep learning e imagens de satélite, além de melhorar a logística através da otimização de rotas e uso de blockchain para prevenir roubo e desperdício de comida. Se for usada de forma apropriada, veremos um mundo mais equitativo e sustentável.