A empatia e o afeto são das características humanas mais complexas e aparentemente opostas do conceito de máquina. Mas parte do trabalho da investigadora portuguesa Ana Paiva, que está na área da inteligência artificial há mais de vinte anos, é dedicado a esta área. Professora do Departamento de Engenharia Informática do Instituto Superior Técnico e coordenadora do GAIPS – (Grupo de Investigação em IA para as Pessoas e a Sociedade) do INESC-ID, a investigadora tem especial interesse nos aspetos sociais e afetivos dos agentes artificiais e vai falar da utilização de IA para benefício da sociedade na Vodafone Business Conference — A Caminho do Futuro.
“A área em que trabalho mais é como colocar inteligência artificial e humanos juntos a colaborar”, explica a professora. “A ideia é criar algoritmos e agentes, que podem ser robôs, personagens virtuais, que em colaboração com os humanos fazem algo que contribua para a melhoria da sociedade.” Este trabalho, descreve, pode ser aplicado em muitas áreas. Por exemplo, em jogos de simulação social ou em sistemas que levem a mudanças na área das alterações climáticas. “Há um conjunto de áreas de aplicação que nós podemos usar e que têm a ver com esta ideia que quando ponho os humanos e a inteligência artificial a colaborar isto vai permitir melhorar o grupo e a sociedade”, resume.
Exemplo disso é um dos projetos em que a investigadora está neste momento a trabalhar e que usa inteligência artificial para ajudar crianças vítimas de cyberbullying. “O projeto que temos atualmente é para treinar o que chamamos de bystanders, pessoas que assistem a situações de bullying”, refere, com sistemas que os direcionam a perceber que têm que ajudar as vítimas. “Isso é feito com IA, com agentes, de maneira a promover a pró-socialidade”, diz, ou seja, apelando à característica que os humanos têm de ajudar os outros. “A IA aqui está a colaborar com os humanos para ajudar vítimas de cyberbullying motivando outros a reportar e ajudar.”
Outro trabalho importante de Ana Paiva, que obteve financiamento da União Europeia, foi o desenvolvimento de “companheiros” para idosos e crianças, “no sentido de criar uma relação entre humano e máquina e perceber como isso pode acontecer.”
Apesar do desenvolvimento extraordinário que a IA teve nos últimos anos, Ana Paiva coloca um travão nos receios que por vezes surgem nesta temática e que olham para as máquinas como substitutos dos humanos. “A inteligência humana geral é muito difícil de atingir, algo que nós, que desenvolvemos os algoritmos, sabemos que não conseguimos neste momento fazer”, afirma. “Estamos muito longe disso acontecer.”
A professora explica que os algoritmos conseguem fazer muito bem coisas muitos específicas, “mas esses algoritmos e essas máquinas só fazem isso.” É “importante” perceber este aspeto, considera, “porque as pessoas pensam que a inteligência artificial vai ser melhor que nós em tudo.”
Há tarefas que a inteligência artificial consegue fazer melhor, explicita, exemplificando com o xadrez, em que a IA consegue vencer o mestre. “Há tarefas muito específicas que requerem conhecimento específico e que as máquinas sendo treinadas para tal conseguem fazer melhor do que os humanos”, estabelece. Todavia, essas máquinas não conseguem fazer o que os humanos fazem. “A capacidade que temos de falar, andar, agir, jogar, ler, perceber os outros, as máquinas não conseguem.”
Ana Rita Guerra, Los Angeles