De todas as estatísticas sobre inteligência artificial reveladas pela nova edição do Barómetro de Tendências Globais da Vodafone, há uma que se destaca pelo determinismo: 85% dos inquiridos dizem que os humanos vão ter de trabalhar lado a lado com sistemas IA no futuro. É uma consciência definitiva, embora haja pouco consenso sobre exatamente como é que esse trabalho será feito e que implicações terá nos empregos das pessoas.
“O ponto mais forte do barómetro é a conclusão de que tudo está a mudar e a única constante é a mudança”, resume Mafalda Alves Dias, diretora de grandes contas e sector público da Vodafone Portugal. A executiva salienta a importância de a edição deste ano contar finalmente com a participação de empresas e profissionais portugueses, “uma mudança boa” porque “as conclusões têm mais colagem à nossa realidade.”
Essas conclusões apontam para um cenário de certezas e incertezas em simultâneo. Por um lado, a maioria das empresas está a trabalhar com inteligência artificial (33%) ou planeia implementar sistemas em breve (34%), havendo noção de que estas novas tecnologias são incontornáveis e vão mudar o mercado. Por outro lado, 78% dizem que há questões relacionadas com o uso de aprendizagem de máquina e IA que ainda não compreendemos totalmente.
“Ninguém tem dúvidas que a inteligência artificial vai fazer parte do mercado de trabalho, mas ainda ninguém sabe onde ela nos vai levar”, salienta a responsável. “As empresas e as pessoas têm que se adaptar a essa nova realidade, em que não sabemos o que vai acontecer no futuro e temos que estar preparados para isso e aprender a viver dessa forma.” Tal como em grandes saltos anteriores, a mudança causa receio e Mafalda Alves Dias reconhece que o momento “é desafiante.” Essa é uma das razões pelas quais a Vodafone elabora este Barómetro, que será apresentado na Vodafone Business Conference – A Caminho do Futuro a 8 de maio: para tentar perceber quais são as tendências e levantar o véu sobre o desconhecido.
A posição da operadora, diz a responsável, é “otimista.” Segundo o Barómetro, 81% dos inquiridos acreditam que a IA permitirá atingir um melhor equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, porque vai fazer as tarefas rotineiras e deixar os humanos disponíveis para outras coisas. Há até uma maioria que acredita que irá trazer mais empregos, 60% dos inquiridos.
Mafalda Alves Dias salienta que o advento da inteligência artificial vai afetar não apenas as empresas mas também a vida doméstica e que tudo passará por adaptação e habituação. “Há 30 anos ninguém diria que todos teriam o seu próprio PC no local de trabalho, e hoje é impensável trabalhar sem ele”, exemplifica. “Em relação à IA e às soluções de automação, o que vai acontecer é que vai ter que se reconstruir a forma de trabalhar para que as pessoas e os robôs atuem em conjunto e com isso sejam mais produtivos.”
Com os modelos de negócio das empresas a mudarem, como é que se pode planear para este futuro? “A empresa tem que se preparar para a mudança, acima de tudo”, estabelece a diretora da Vodafone. “Como tudo o que é novo, tem que se ir testando, tem que se ir adaptando, e acima de tudo a capacidade de adaptação e inovação perceber onde se quer chegar é o mais importante.”
A experiência da operadora no mercado português revela que já há empresas interessadas e discutirem estes temas, em sectores como indústria, retalho, saúde e administração pública. “Algumas já querem fazer provas de conceito para começar a experimentar e ver quais são os impactos que alguns processo mais automatizados vão trazer para os seus negócios.”
De acordo com a executiva, a tendência para aderir à IA nesta fase não está relacionada com o tamanho das empresas, mas com “motivação”, “cultura de inovação” e “orientação para a mudança.” Mafalda Alves Dias lembra que as startups são pequenas e ainda assim “disruptivas e inovadoras”, posicionando normalmente no mercado como algo diferente.
A própria Vodafone está a usar assistentes virtuais para ajudarem os vendedores, uma novidade que teve boa aceitação porque “torna a vida deles mais fácil.” Em termos da sua oferta, a operadora tem no mercado soluções de big data que fazem análise de grandes números. A solução recolhe a informação junto e faz o processamento dos dados, que depois são fornecidos para auxiliar a gestão.
“Esta é a base para começarmos a usar inteligência artificial em cima disto, porque a IA precisa de dados para aprender e evoluir”, explica Mafalda Alves Dias. “A primeira parte é a sensorização e a recolha de dados, para ter a base.”
O Barómetro de Tendências Globais da Vodafone não se debruça só sobre a IA, incluindo também três outros pontos dedicados à confiança num mundo digital, a ética perante as novas tecnologias e a (re)centralização dos clientes numa era em mudança permanente. O documento está disponível para consulta neste link.
Ana Rita Guerra, Los Angeles