Se todas as pesquisas que hoje se fazem no Google passassem a ser alimentadas por um sistema de Inteligência Artificial generativa, como o ChatGPT, gastariam o equivalente anual do consumo energético de um país europeu. É assim que Filomena Pereira, gestora B2B CVM e online da Vodafone Portugal, ilustra um dos dilemas de sustentabilidade da atual era de IA.
“Eu acho que é uma preocupação a ter em conta”, disse a responsável ao Dinheiro Vivo. “Também é importante relativizar.”
A gestora considera que os estudos são relevantes e exigem uma reflexão sobre o caminho a seguir, mas nota a importância do contexto.
“Nos países desenvolvidos, o consumo energético tem estado relativamente estável nos últimos dez anos”, salientou. Os anos da covid-19 registaram um decréscimo, mas nos restantes a Europa e os Estados Unidos mantiveram o consumo energético estável ao mesmo tempo que obtinham crescimento económico. “Quer dizer que tem havido uma capacidade de aumento da eficiência que tem compensado aquilo que seria o maior consumo por aumento da atividade económica”, resumiu Filomena Pereira.
A ascensão da IA surge neste ambiente. “O que nós acreditamos é que estas tecnologias vão permitir ganhos que mais que compensam o consumo energético.”
Um dado importante a reter, segundo a responsável, é que os centros de dados a nível mundial representam menos de 2% do consumo energético total. “Mesmo quando falamos de crescimentos exponenciais, estamos a falar de se calhar em 2030 chegar a 3%, 4% do consumo energético total”, sublinhou. “Se virmos o impacto que a Inteligência Artificial pode ter no total da economia e das atividades económicas, e quando vemos alguns ganhos que falam de 10%, 20%, 30% de ganhos de eficiência, parece-me que vamos conseguir compensar.”
Ainda assim, será necessário verificar se faz sentido usar a tecnologia em relação aos ganhos de eficiência obtidos. “Se não é uma utilização que tenha esse ganho, se calhar não estou a utilizar a tecnologia correta e é isso que que genericamente deve ser tido em atenção.”
A eficiência está ligada à sustentabilidade, defendeu Filomena Pereira, argumentando que tecnologias como a IA podem ajudar as empresas porque permitem “aumentos de eficiência e de produtividade, redução de desperdícios, redução do consumo de energia, de água e de matérias em geral.”
A gestora deu exemplos em vários sectores, que nos últimos tempos têm estado ligados aos grandes modelos de linguagem (LLM) como o que deu origem ao ChatGPT.
Um deles é nos contact centers, onde um modelo pode ser aplicado para analisar automaticamente as gravações das chamadas dos clientes e gerar um relatório dos temas que mais causam preocupação.
Outro é nas fábricas, onde os modelos preditivos permitem reduzir desperdícios ao indicar com exatidão os níveis de produção e armazenamento necessários.
“A redução dos consumos pela definição de rotas também é uma coisa que já é relativamente comum. Se eu conseguir otimizar os meus modelos de rotas, então posso reduzir o consumo de combustíveis”, continuou Filomena Pereira. Também há soluções de racionalização da utilização de água na agricultura.
“Outro exemplo é antecipar a manutenção de equipamentos”, disse a responsável. “Se conseguir fazer preventivamente a substituição de um equipamento, vou evitar períodos não produtivos e com isso fazer uma redução de custos e otimização dos recursos.”
Tecnologia sustentável é o tema da próxima edição da Vodafone Business Conference, que decorre no Porto a 11 de outubro.
Ana Rita Guerra