Há cada vez mais empresas a investirem em equipas dedicadas a tornarem os negócios mais sustentáveis. Não apenas do ponto de vista ambiental, mas também social e de negócio. As três vertentes estão interligadas e é nelas que se focam as grandes tendências de sustentabilidade em destaque em 2024. Estas são cinco das mais proeminentes.
A mitigação da pegada de carbono passa pela transição para energias limpas e a tecnologia está a ter um papel essencial nisso. A aceleração registada após a pandemia de covid-19 e o conflito na Ucrânia, que puseram em destaque a necessidade de diversificar as fontes energéticas, conheceu uma grande expansão nos últimos 18 meses. De acordo com a Agência Internacional de Energia, foi adicionada uma capacidade de 440 gigawatts de energia renovável à rede mundial em 2023. Incentivos e programas governamentais estão a impulsionar a subida, sendo que os preços competitivos e as vantagens ambientes das energias “limpas” deverão tornar o sector mais apelativo nos próximos tempos.
As empresas vão ter de sistematizar o seu impacto de sustentabilidade em reporte não financeiro e estão agora a investir nesses processos. Um estudo da Deloitte indicou que há três grandes benefícios internos reconhecidos pelas organizações quanto embarcam no reporte de sustentabilidade: maior eficiência, menor risco e aumento da confiança dos stakeholders.
Os benefícios externos são reputação da marca, atração de talento e capacidade de cobrar preços mais elevados.
Há várias startups e empresas a desenvolverem ferramentas para tornar mais fácil e precisa a recolha de dados de sustentabilidade da empresa, dos funcionários e dos fornecedores. Este também será um segmento em ebulição.
Aquilo que não se controla é mais difícil de contabilizar. Mas com as empresas a serem chamadas a detalhar os seus impactos no mercado e na sociedade, começa a haver um maior escrutínio das emissões “scope 3”. São as emissões indiretas resultantes da atividade de uma empresa que esta não consegue controlar. A atenção redobrada obrigará as empresas a darem mais visibilidade à sua cadeia de fornecimento, à forma como selecionam os fornecedores e parceiros, e os compromissos que assumem ao longo de toda a logística.
A explosão da IA generativa e a democratização do seu acesso está a automatizar serviços, a tornar os profissionais mais eficientes e a poupar tempo em todo o tipo de tarefas. Mas os grandes modelos de linguagem (LLM, na sigla inglesa) e as plataformas viradas para o consumidor, como o ChatGPT, representam um tremendo custo energético. Ao mesmo tempo, a aplicação de tecnologias de IA pode otimizar a utilização de recursos e até inventar soluções para os desafios da crise climática.
Sendo um dos sectores de mais rápido crescimento, podemos esperar que estes vetores contraditórios caminhem em paralelo nos próximos tempos.
Nos últimos anos, popularizou-se o termo ‘greenwashing’ para descrever um falso compromisso com sustentabilidade, recorrendo mais ao marketing que a mudanças estruturais para convencer o mercado de que as práticas e produtos de uma empresa são sustentáveis.
Agora, há um novo fenómeno a acontecer: greenhushing. É de difícil tradução, mas descreve um esforço para não reportar ou minimizar a informação sobre os esforços ambientais e de sustentabilidade de uma organização, por receio de ser criticada ou como insuficiente ou como demasiado progressista. As críticas aos investimentos ESG (ambiente, social, governança) e a políticas de diversidade e inclusão, explicam o aumento de práticas de sustentabilidade silenciosas. A KPMG descreve o motivo como receio de que os stakeholders considerem os esforços insuficientes ou de que os investidores se revoltem por acreditarem que investimentos ESG prejudicam os lucros.
Ana Rita Guerra