Telefones analógicos, walkie-talkies e antenas gigantes. Era assim que funcionava o sistema de monitorização de utentes que o Montepio Rainha D. Leonor usava nas suas residências assistidas, nas Caldas da Rainha. O sistema era dispendioso, complexo e pouco funcional, disse ao Dinheiro Vivo Paulo Ribeiro, vogal do conselho de administração do Montepio Rainha D. Leonor – Associação Mutualista.
“Nós tínhamos um sistema muito antigo, caríssimo, que não dava cobertura e só funcionava dentro do edifício”, explicou o responsável. “Quando a pessoa ultrapassava aquela linha imaginária das antenas disparava um alarme e tinham que ir ver o que é que se passava.” Não funcionava fora do edifício e estava dependente de telefones analógicos, com os funcionários a comunicarem entre si com walkie-talkies cujo alcance era limitado. “Tínhamos de ter antenas. Tínhamos de ter emissores. Aquilo era um pesadelo autêntico.”
Um dos principais objetivos das residências assistidas, disse Paulo Ribeiro, é as pessoas terem autonomia ao mesmo tempo que beneficiam de monitorização de segurança. Tudo mudou quando o Montepio Rainha D. Leonor instalou uma solução completamente nova, em parceria com a Vodafone.
“O Care Tracker veio a revelar-se uma ferramenta muito importante”, descreveu Paulo Ribeiro. Consiste num pequeno dispositivo que os utentes podem usar no pulso ou à volta do pescoço e que lhes permite pedir ajuda, faz monitorização via GPS e consegue detetar emergências, como por exemplo uma queda na casa de banho durante a noite.
“Passámos a ter a possibilidade de controlar a localização dos nossos utentes dentro e fora do edifício e agora eles utilizam o Care Tracker para falar com os auxiliares, chamar os enfermeiros, falar para a receção”, salientou o administrador.
O outro salto qualitativo é os utentes poderem ir à rua e serem autónomas com uma camada adicional de segurança. Paulo Ribeiro deu os exemplos de uma utente que se sentiu mal numa agência dos CTT e obteve ajuda imediata da instituição através do aparelho, e de outro utente que se perdeu e conseguiu ser localizado pelo GPS. “É esta autonomia que permite entregar uma qualidade de vida que não tínhamos.”
Além da melhoria de condições para os residentes, que podem ser idosos ou pessoas com necessidades especiais, a solução também tem outros benefícios de sustentabilidade.
Por um lado, há uma componente de eficiência no sistema, já que requer apenas uma peça pequena. “O sistema anterior tinha uma peça maior, depois tinha que ter mais uma série de antenas, de rastreadores e de sensores”, lembrou o vogal. “Aquilo era plástico e metal por todo o lado e agora basta só um pequeno aparelho que parece um relógio.”
O outro aspeto é a redução de custos e simplificação operacional. “Em termos económicos foi uma grande poupança, apesar de ter os seus custos, porque não há investimento em hardware”, explicou Paulo Ribeiro.
Os walkie-talkies foram trocados por smartphones com a aplicação Care Tracker que os enfermeiros e auxiliares usam para comunicar e monitorizar os utentes. A app tem todas as ocorrências, lança os alertas e dispara para vários telefones ao mesmo tempo ou de forma sequencial, com assistência 24 horas por dia.
“O único investimento que fizemos foi em cartões de dados”, indicou o administrador. “Acabámos por poupar também dinheiro nos smartphones e nas chamadas e há uma agilidade no nosso processo todo.”
A aplicação dá para inserir dados de saúde, desde os cuidados que tem que ter às ocorrências ou acidentes que a pessoa teve.
“Nós somos uma associação mutualista e temos estas residências, temos um lar e uma casa de saúde, uma clínica. Queremos começar a disponibilizar este serviço aos nossos associados”, explicou Paulo Ribeiro. Com 7.000 associados, a ideia é oferecer o serviço com uma mensalidade a quem o queira subscrever, algo que poderá custar entre 20 a 30 euros.
Uma ideia adicional para o futuro é interligar a solução com outras aplicações. “Agora também há todo um mundo para explorar com inteligência artificial e através da análise de dados”, frisou Paulo Ribeiro. A associação está a iniciar um projeto de teleassistência com outro parceiro tecnológico para pessoas com doenças crónicas.
“Será interessante depois interligar os dados que este aparelho recolhe com as outras plataformas que já utilizamos e com o nosso sistema de gestão hospitalar.” No fundo, é monitorizar o estado de saúde da pessoa 24 horas.
“Um dos nossos objetivos é prolongar a autonomia das pessoas ao máximo, porque acreditamos que o idoso deve viver um estilo de vida saudável e ativo, mas acima de tudo alcançar uma longevidade com saúde”, frisou Paulo Ribeiro. “Uma longevidade sem saúde há-de acontecer, mas não faz grande sentido.”
Ana Rita Guerra