Há mais de 15 mil milhões de dispositivos conectados em todo o mundo, compondo uma gigantesca rede de Internet das Coisas (IoT) que está a crescer a dois dígitos todos os anos. Muitos são sensores que estão no chão de fábricas, em campos de cultivo e em frotas de automóveis, já que agricultura, indústria e auto são dos sectores que mais têm investido nestas tecnologias. O impulso dado pelo 5G tem permitido alargar o impacto destes investimentos, que se focam em tornar as operações mais eficientes e o negócio mais sustentável.
“Os dispositivos e estratégias IoT são em si ferramentas de apoio à decisão”, disse ao Dinheiro Vivo Mário Peres, gestor de vendas IoT da Vodafone em Portugal. “Temos que vê-los sempre como tal, a possibilidade de agregar informação dispersa por vários locais e fazer com que chegue a mão dos decisores”, continuou. “São uma ajuda preciosíssima para a sustentabilidade das empresas, quer a nível ambiental e económico e até mesmo ao nível social.”
Frisando que o conceito de IoT é muito vasto, em termos de aplicabilidade, Mário Peres defendeu que as tecnologias contribuem para as várias vertentes de sustentabilidade, que estão todas ligadas.
“A nível da sustentabilidade, o controlo da pegada de carbono das empresas é algo que é extremamente importante e começa a ter cada vez mais mais relevância”, disse. Mas não só. “Toda a gente se preocupa em atingir poupanças, que não são de todo inconciliáveis”, disse. “Quando estamos preocupados com a sustentabilidade ambiental, não é inconciliável que ao mesmo tempo estejamos a atingir ganhos a nível económico.”
Segundo as projeções da firma MarketsandMarkets, só o mercado mundial de IoT para agricultura vai atingir os 18,1 mil milhões de dólares em 2026, com um crescimento anual agregado na ordem dos 9,8%. O relatório salienta o uso destas tecnologias para “aumentar a rendibilidade, melhorar a sustentabilidade, proteger o ambiente e minimizar o consumo de recursos como água, fertilizantes e energia.”
Em Portugal, há clientes que já passaram da agricultura de precisão para a agricultura de otimização, frisou Mário Peres, utilizando os dados recolhidos pelos sensores, tratores, inspeção por drones e outros.
“As informações que se conseguem coletar vão na ótica da sustentabilidade ambiental, na medida em que conseguem aplicar menos pesticidas e menos adubos porque vão tendo a capacidade de perceber onde é que o terreno tem necessidades e onde é que até pode nem haver interesse em cultivar”, indicou.
Às imagens e dados recolhidos, os agricultores aplicam modelos de machine learning, ou aprendizagem automática. Em cima disso, é possível obter um histórico e visualizar o que aconteceu ao longo dos últimos anos naquele terreno: por exemplo, até que ponto a cultura estava mais avançada ou mais atrasada? “É recolher informação para comparar e tomar uma decisão”, reiterou Mário Peres.
Uma aplicação adjacente é na identificação de padrões de incêndios, para tentar perceber o motivo pelo qual fogos conseguiram ser contidos naquele local – por uma questão de relevo do terreno, pelo tipo de vegetação, podendo detetar na floresta espécies invasoras e decidir se está na altura do abate de um eucaliptal para exploração comercial ou se há que aguardar mais algum tempo.
“Não falando nas estufas, que também são completamente controladas através de sensores”, referiu o responsável. “Há neste momento uma grande atenção por parte dos agricultores em encontrar soluções para isso.”
De todas as indústrias que adotaram IoT para se tornarem mais eficientes e sustentáveis, a automóvel está no topo. “A nível da Vodafone, na nossa plataforma de conectividade gerida temos cerca de 187 milhões de equipamentos ligados em 190 países”, revelou Mário Peres.
“A indústria automóvel por si só consegue agregar 40 milhões, porque somos os fornecedores de 7 dos 10 grupos principais de fabricantes da indústria automóvel.”
Segundo o especialista, a grande preocupação das empresas é cada vez que a manutenção seja feita de modo preventivo. “Ninguém quer que a cadeia de produção seja interrompida. Quer antecipar e detectar quaisquer anomalias.”
Um fator que se está a ver em Portugal, apontou Peres, é que há empresas a ganhar dimensão e a exportar equipamentos que precisam de estar conectados. Ainda assim, o responsável da Vodafone considera que o país está um pouco atrasado nalgumas áreas, como a da aplicação de IoT ao sector das águas e do tratamento de águas residuais.
“O nosso objetivo, que é o que estamos a fazer com algumas entidades gestoras, é começar a ter a monitorização em tempo real dos consumos”, frisou. “A sustentabilidade acaba por abarcar toda as questões de produtividade, mas também sociais e também e ecológica.”