Perante a crise climática e o desafio da sustentabilidade, há uma área em que muitas empresas não pensam mas está criticamente ligada ao problema: o desperdício digital. Foi o que defendeu hoje o futurista e autor Ed Gillespie na 6ª edição da Vodafone Business Conference, que decorre no Porto.
“Toleramos uma enorme quantidade de desperdício”, apontou o especialista britânico na sua apresentação. “90% dos dados nunca mais são consultados três meses depois do seu armazenamento”, revelou.
As estatísticas são alarmantes e apontam para uma dissonância entre a produção e recolha de dados e a sua utilização eficaz. “Estamos a fazer isto tudo sem o usar. Nenhum outro sector tolera este nível de desperdício”, frisou Ed Gillespie.
O futurista apontou que várias gigantes tecnológicas, incluindo Google e Microsoft, viram os seus objetivos de descarbonização desviados pela Inteligência Artificial. As exigências energéticas destes sistemas e a necessidade de mais centros de dados levou as emissões da Google a disparar quase 40% nos últimos cinco anos e as da Microsoft a subir quase 30% desde 2020.
“Um dia pode ser benéfica, mas neste momento a IA está a conduzir-nos rapidamente na direção errada”, considerou Gillespie.
O autor disse que a tecnologia, não sendo boa nem má, também não é neutra e que é perigoso pôr a tecnologia num pedestal.
É preciso colocar o foco na eficiência, mas sem esquecer que um aumento em eficiência na utilização de recursos costuma fazer subir a procura por esses recursos. Como é que resolvemos então o problema? Gillespie apelou à audiência que perceba que faz parte dele: você não está preso no trânsito, você é o trânsito. ”Temos de fazer isto juntos para quebrar o status quo”, afirmou.
Embora frisando que a Inteligência Artificial está a levar a um aumento do consumo energético e das emissões, o futurista também deu exemplos de como a aprendizagem automática (machine learning) está a ser usada para tornar as rede elétricas mais eficientes.
Um deles é o uso de algoritmos ML para prever quanta energia será gerada por turbinas eólicas, de forma a integrá-la mais eficazmente na rede.
Com o projeto Open Climate Fix, toda a rede fotovoltaica do Reino Unido está a ser mapeada para prever quanta eletricidade verde chegará à rede, numa medição quase em tempo real. Isso permitirá reduzir a reserva fóssil, reduzindo as emissões de carbono e permitindo um uso mais eficiente das renováveis.
Gillespie também deu o exemplo da Plant Village Nuru, uma aplicação móvel que dá aos agricultores ferramentas poderosas para identificar doenças e problemas nos cultivos. “Mas temos de usar a sabedoria que os agricultores já têm”, ressalvou. “A sabedoria é mais importante que apenas a informação.” Para ele, o melhor da IA deve ser combinado com a inteligência humana.
“No futuro, os empregos serão sobre o coração”, disse. “Usar o coração para endereçar e implementar tecnologia.”
Para sermos corajosos, disse, temos de “ouvir as perguntas que o futuro nos está a fazer.”
Ana Rita Guerra