Faltam exatamente quatro meses para a entrada em vigor da Diretiva de Sustentabilidade Corporativa da União Europeia (CSRD, na sigla inglesa), e quase dois terços das empresas acreditam que vão estar preparadas para os novos requisitos. No entanto, não sabem bem como. A maioria usa folhas de cálculo em vez de ferramentas específicas ou tecnologias avançadas de Inteligência Artificial (IA).
É o que mostra o primeiro estudo PwC 2024 Global CSRD Survey, conduzido junto de empresas de 38 países e territórios entre abril e junho deste ano.
A CSRD vai exigir que as empresas reportem os impactos ambientes e sociais que têm na União Europeia, mesmo que sejam subsidiárias de companhias não sediadas na UE, e ainda como é que as suas iniciativas ESG (ambientais, sociais e de governança) afetam os negócios. Uma das conclusões interessantes da pesquisa é que a diretiva, que vai afetar diretamente cerca de 50 mil empresas, já está a ter um impacto global antes mesmo de estar oficialmente ativa. Os executivos de mais de três quartos (79%) das empresas com sede fora da União Europeia e de 74% das empresas dentro da UE acreditam que a CSRD vai levar os líderes a considerar mais a sustentabilidade na tomada de decisões. De todos os inquiridos, 75% dos grupos já planeiam reportar de forma consolidada, abrangendo as operações fora da UE.
“Uma vez que a CSRD essencialmente obriga a que o reportar de sustentabilidade esteja ao nível do reporte financeiro, os executivos de topo estão a reconhecer que a informação de sustentabilidade tem de estar disponível, ser precisa e pronta para auditorias”, disse Nadja Picard, líder de Global Reporting na PwC Alemanha, no resumo do relatório. “Não apenas uma vez avulso, mas anualmente.”
O impacto global da diretiva mostra, segundo a responsável, a importância de estabelecer um padrão de reporte global, para reduzir a complexidade e melhorar a capacidade de comparar empresas.
E a confiança está elevada, apesar de haver reconhecimento dos desafios. Os dados indicam que 63% das empresas estão muito ou extremamente confiantes quanto à sua preparação para a legislação, que estará ativa a partir de 5 de janeiro de 2025. A lei será faseada, o que significa que haverá certos tipos de empresas obrigadas a cumprir os requisitos antes de outras.
“Com o aproximar da contagem decrescente para a conformidade com a CSRD, é positivo ver que as empresas estão maioritariamente confiantes que estarão prontas para reportar”, salientou Nadja Picard. “No entanto, ainda há um grande caminho a percorrer, com a maioria a debater-se com desafios complexos, em particular a quantidade e qualidade dos dados requeridos, não apenas para as suas operações mas em toda a cadeia de valor.”
Os obstáculos mais citados são, precisamente, a disponibilidade de dados e a sua qualidade: é um desafio referido por 59% dos inquiridos. Isto explica porque é que apenas um quinto das empresas que vão ser obrigadas a reportar sob as novas regras no ano fiscal de 2025 já completaram a validação e precisão dos seus dados.
Há aqui outra estatística importante: menos empresas que o esperado estão a usar tecnologia para este fim (abaixo de 60%). A maioria pretende vir a fazê-lo, mas para já a maior parte das empresas não está a usar ferramentas especiais ou tecnologia específica. Estão a recorrer sobretudo a folhas de cálculo (74%), o que compara os 26% que usam ferramentas centralizadas como data lakes e apenas 20% que usam Inteligência Artificial.
Além de aumentar o peso da sustentabilidade na tomada de decisões das empresas, os inquiridos esperam ver uma série de outros benefícios associados à diretiva, incluindo aumento de receitas. Mais de metade (51%) espera ver benefícios na melhoria do desempenho ambiental, 49% aponta para maior envolvimento com os stakeholders e 48% espera melhor mitigação de risco. Quase um terço antecipa um aumento das receitas (28%) ou de poupança de custos (26%).
O objetivo da CSRD é dar transparência ao desempenho de sustentabilidade das empresas na União, de forma sistemática e acessível a investidores, analistas e consumidores.
Ana Rita Guerra