A Internet das Coisas já existe desde há cerca de 30 anos. Com o nascimento do 5G, à medida que vão sendo libertadas novas funcionalidades, há melhorias que vamos tentando incorporar nos serviços existentes e criando novos serviços para tirar partido das vantagens.
Uma delas é a grande baixa latência, a partir de um milissegundo, que é indispensável em serviços como as comunicações autónomas entre veículos.
Além disso, há a questão de preparar a rede para a existência de um milhão de sensores por quilómetro quadrado. Era algo completamente impossível de se pensar antes.
Por fim, o grande aumento de largura de banda, em que podemos estar a falar em taxas de pico da ordem dos gigabits por segundo, o que é muito importante para transmissão de imagem de alta qualidade, entre outras.
Por causa destas três funcionalidades, vai ser possível tratar a rede como em camadas de cebola, em que vou dando prioridade aos serviços que requerem mais largura de banda ou menor latência. Por exemplo, informação em equipamentos médicos, veículos autónomos ou drones militares em detrimento de todos os equipamentos que não têm esses requisitos, como a leitura de contadores de água ou painéis publicitários. Ainda que essa informação venha em tempo real na mesma, para nós é mais que suficiente 8, 10, 15 milissegundos.
Depois, sem 5G não seria possível desenvolver o conceito de conectividade gerida.
É a possibilidade de termos uma plataforma que permite interagir com todos os cartões que estão associados a um projeto, quando estamos a falar em clientes com grandes quantidades de sensores. Temos clientes com vários milhões de cartões e torna-se incomportável geri-los sem uma plataforma.
Portanto, combinar as tecnologias a outra necessidade. Juntamos o serviço no mesmo cartão em função das necessidades das comunicações em 2G, em 4G e em 5G e também satélite.
Imagine, por exemplo, um transporte marítimo ou uma cadeia de frio em que é necessário monitorizar o transporte frio ao longo de todo o percurso de uma carga. Enquanto está junto à costa e porque é mais económico vai-se ligar às redes normais GSM, mas quando entra em alto mar precisa de comutar para satélite para continuar a fazer essa comunicação.
Quando regressa a um mais perto da costa, comuta novamente e vai para a Rede 2G, 4G, 5G. Esta ideia da conectividade gerida é o que tem permitido a expansão dos negócios além do país de origem e utilizar as várias redes dos vários operadores, mantendo no dashboard o controlo sobre a plataforma. Esta, por sua vez, tem funções da analítica de inteligência artificial e machine learning e permite-nos identificar padrões e anomalias, gerando funções de monitorização preventiva.
Ou seja, antecipando resoluções sem que as anomalias venham a provocar problemas de fiabilidade das comunicações.
À medida que vamos avançando na tecnologia e dependendo cada vez mais dela, as consequências podem ser muito nefastas quando alguma coisa falha.
Como é que estas tecnologias se ligam à sustentabilidade das empresas, não apenas ao nível ambiental mas também económico?
Os dispositivos e estratégias IoT são em si ferramentas de apoio à decisão.
Temos que vê-los sempre como tal, a possibilidade de agregar informação dispersa por ’n’ locais e que essa informação chegue à mão dos decisores. São uma ajuda preciosíssima para a sustentabilidade das empresas, quer a nível ambiental e económico e eu diria até mesmo ao nível social e com muito foco na parte da inclusão.
Quando nós estamos a apoiar de forma remota doentes crónicos que estão em casa e podem evitar as deslocações às urgências ou acompanhamento para evitar crises.
Além do aspeto económico para o Serviço Nacional de Saúde, que essas pessoas possam evitar idas às urgências com os respetivos encargos, também ver como é que socialmente essas pessoas podem aumentar de forma substancial a sua qualidade de vida.
O conceito da Internet das Coisas não conhece fronteiras, quando fabricamos ou colocamos uma instalação num equipamento, num automóvel ou num contador de água. Temos clientes que instalam algures nas Filipinas e depois vêm para Portugal, podem ir para a África do Sul, para os Estados Unidos. IoT é um conceito muito vasto de aplicabilidade.
A nível da sustentabilidade, o controlo da pegada de carbono das empresas é algo que é extremamente importante e tem cada vez mais relevância. Aquilo que não se pode medir não se pode melhorar e as empresas estão muito preocupadas com a mensagem que passam aos seus clientes relativamente ao seu comportamento e à sua consciência social.
Todos os passos que vão sendo tomados vão sendo quantificados por forma a atingir a neutralidade carbónica, que é o que as empresas aspiram, inclusivamente a própria Vodafone.
A nível da sustentabilidade ambiental, todas as empresas se preocupam em divulgar essas métricas que atingem, até para medirem e poderem ir melhorando e trazer esta mensagem é positiva, verde, de sustentabilidade aos seus clientes.
Toda a gente se preocupa em atingir poupanças, que não são de todo inconciliáveis. Quando estamos preocupados com a sustentabilidade ambiental não é inconciliável que, ao mesmo tempo, estejamos a atingir ganhos a nível económico.
Quanto é que vale o doente crónico que não vai requerer uma urgência ou, por exemplo, o surgimento de um incêndio ou de uma cheia ou de um derrame numa Ribeira com produtos contaminantes?
São tudo situações que estão misturam as vantagens da sustentabilidade quer na parte social, quer na parte económica.
Relativamente à Vodafone, o que nós conseguimos poupar durante o ano transato foi da ordem de 32,8 megatoneladas de CO2. Equivale a 75 vezes as emissões geradas pelas nossas próprias operações. A nível económico, todo o nosso esforço de operação está contabilizado e sempre tendo em conta as vertentes da casa, quer a nível das antenas instaladas quer ao nível dos escritórios e das próprias lojas. Tudo isso nós temos formas de identificar.
Cada empresa tem os seus objetivos e nós não temos uma varinha mágica e uma receita única para todos. Temos que ir ao encontro dos objetivos da empresa do cliente e desenhar aquilo que faça sentido.
A indústria automóvel é, digamos, talvez a indústria rainha. A nível da Vodafone, na nossa plataforma de conectividade gerida, temos cerca de 187 milhões de equipamentos ligados em 190 países.
A indústria automóvel por si só consegue agregar 40 milhões de veículos, porque nós somos os fornecedores de 7 dos 10 principais grupos de fabricantes.
A nível de Portugal, um factor muito curioso que está a acontecer é que vemos algumas empresas a ganhar dimensão e até a exportar equipamentos que precisam estar conectados para fora. Ou então empresas internacionais que se implantaram em Portugal e que, a partir dos desenvolvimentos que são feitos em Portugal e com o nosso apoio, vamos dando hipótese a que ampliem a sua atividade.
Essa é a chamada agricultura de precisão. Temos aqui alguns clientes que inclusivamente dizem que já não estão na fase da agricultura de precisão, já estão na fase da agricultura de otimização. Recolhem tantos dados da partilha dos instrumentos dos sensores, inspeção por drone e outros que já têm informação a mais para aquilo de que necessitam.
Falando no caso da agricultura, um condutor de um trator pode ir sentado apenas para qualquer eventualidade e no final da fiada de uma cultura virar o trator ao contrário. Confia na orientação do satélite que não pode falhar, porque tem previsões da ordem de 10 a 15 centímetros. São coisas realmente muito rigorosas.
As informações que se conseguem coletar vão na ótica do sustentabilidade ambiental, na medida em que conseguem aplicar menos pesticidas e menos adultos porque vão tendo a capacidade, dividindo o terreno em quadrículas, de perceber onde é que o terreno tem efetivamente necessidades, onde é que até pode nem sequer haver já interesse em cultivar e nessa altura dotar esses espaços com o desenvolvimento de plantas para evitar as pragas. É uma mistura de várias informações.
Quando o trator passa, recolhe informações do subsolo e quando está com o drone, faz inspeção cromatográfica das imagens e percebe onde há faltas de água, se há algum adubo que seja necessário colocar. Com a inspeção por satélite há uma confirmação acrescida.
Muitos agricultores recolhem este conjunto de imagens, aplicam a modelos de machine learning que fazem a agregação de toda esta informação que de outra forma não é tratável e, por exemplo, há serviços que nós também podemos prestar, juntamente com nossos parceiros, que é a possibilidade de visualizar o que aconteceu ao longo dos últimos 15 anos naquele terreno.
Ou seja, à data de hoje, o que é que aconteceu no ano passado? Até que ponto a cultura estava mais avançada ou mais atrasada? Recolher informação para comparar e tomar uma decisão.
Ver ao longo dos anos até onde é que os incêndios chegaram e tentar perceber o motivo pelo qual conseguiram ser contidos naquele local. Por uma questão de relevo do terreno mas também pode ser pelo tipo de vegetação, detetar na floresta espécies invasoras, como é que elas se se estenderam ao longo dos anos e o que é que há a fazer. Ter uma primeira aproximação para perceber que está na altura do abate de um eucaliptal para exploração comercial ou se há de há-de se aguardar mais algum tempo, enfim. Não falando nas próprias estufas, que também são completamente controladas através de sensores. Há neste momento uma grande atenção por parte dos agricultores em encontrar soluções para isso.
Ana Rita Guerra