O administrador com o pelouro da Unidade de Negócios Empresariais da Vodafone Portugal, Henrique Fonseca, explica o foco na Sustainable Technology e como várias tecnologias já estão a tornar operações mais sustentáveis em Portugal.
O objetivo das nossas Vodafone Business Conference é sempre no sentido de sensibilizar, estimular a reflexão, alertar, pôr na ordem do dia dos nossos empresários e gestores a importância de um determinado tema. Este ano escolhemos o tema da tecnologia sustentável por forma a podermos cumprir estes objetivos a que nos propomos, tal como nos anos anteriores. Vamos ter três oradores que consideramos que cumprem estes requisitos de nos provocarem e de nos desafiarem.
Vamos ter o Ed Gillespie, que é um empreendedor ambiental e que nos vem falar sobre este tema. Vamos ter também a Ana Casaca, que é a diretora de inovação da Galp e nos vai trazer uma visão muito interessante, porque vai ter que aliar o tema da sustentabilidade ao tema da segurança energética e do preço. Vamos ter ainda Jessica Groopman, que nos vai falar sobre não só do acelerar da mudança da indústria tecnológica, mas também na parte da saúde social e na saúde ecológica.
Vamos tentar que os três pilares da sustentabilidade, a ambiental, a económica e a social sejam refletidas ao longo das reflexões destes três keynote speakers.
Sim, sem dúvida. Nós Vodafone Portugal desde sempre temos vindo a desenvolver soluções que ajudam as empresas a ser mais sustentáveis, quer na vertente económica, como na vertente ambiental. Todas as nossas soluções de sensorização, de gestão de frotas, de gestão eficiente da energia ou da água têm em em comum o facto de contribuírem para esta sustentabilidade, quer económica, quer ambiental.
Desenvolvemos isto não só antecipando uma procura, mas também como resposta a uma procura crescente das empresas. É um tema que preocupa as empresas e também o sector público, concretamente a questão das smart cities vai ao encontra desta preocupação.
Vemos também que há cada vez mais empresas conscientes dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e com metas específicas de descarbonização, que vêm não só da sua própria reflexão enquanto membros da sociedade, mas também da pressão dos consumidores. Tudo isto leva as empresas, nas quais nos incluímos, a fazer pressão junto da sua cadeira de de fornecedores, criando um efeito não só positivo, mas também virtuoso na sociedade.
Organizámos aqui na Vodafone um evento com uma série de empresas ligadas à área da agricultura, desde produtoras de vinhos e ramo da fruta,à da floresta e pecuária. Mostrámos que, através da sensorização da atividade, é possível melhorar a gestão dos recursos. Conseguimos fazer um doseamento dos fertilizantes que são necessários. Conseguimos otimizar as necessidades de rega em função dos sensores que medem o grau de humidade da terra. Não basta a automação. É preciso também autonomização. É preciso dados para se poder tomar as melhores decisões.
Isto casa com um estudo recente que fizemos em que 82% dos agricultores portugueses diziam que as tecnologias digitais vão contribuir para o sucesso da agricultura no futuro. Com um sector tão importante para a nossa sustentabilidade e para a nossa economia como a agricultura, achamos que isto é muito estimulante.
Não há dúvida que o facto de ajudarmos as empresas a produzir mais dados que requerem analítica de big data, IA, que estão ligadas ao IoT leva a mais consumos. Mas isso é um investimento que é preciso fazer de forma a conseguir uma redução. Um estudo muito recente da BCG dizia que todas essas tecnologias iriam ajudar as empresas a reduzir 10 gigatoneladas de gás até 2030. Isto corresponde mais ou menos a 15% de redução.
Mesmo nós, enquanto indústria de telecomunicações, o facto de migrarmos as tecnologias que temos e a adoção crescente do 5G tem um efeito muito positivo. O 5G é uma tecnologia muito mais eficiente do que as tecnologias anteriores. Quando tivermos um elevado volume de clientes a utilizar o 5G, vai-nos permitir consumos até 47% inferiores àqueles que tínhamos no 4G. Aliás, estamos em pleno processo de desligar a tecnologia 3G e vamos com isso conseguir uma série de ganhos de eficiência. Todas estas tecnologias são investimentos que é preciso fazer de forma a conseguirmos ter poupanças muito mais significativas.
Apesar de todas estas tecnologias existirem em Portugal, a verdade é que, segundo um estudo da Anacom do final de 2023, Portugal era o terceiro, a contar do fim na lista da penetração do machine to machine. E isto é um ótimo exemplo do desafio que Portugal tem à sua frente. Não há nenhuma razão objetiva para Portugal na lista dos países da União Europeia pertencentes à OCDE, com uma indústria de telecomunicações
tão avançada como a nossa – e nós somos muito avançados comparativamente com outros países – estarmos aqui no terceiro a contar do fim. Toda a indústria tem aqui um desafio no sentido de sensibilizarmos os empresários e o tecido empresarial português a cada vez mais utilizar este tipo de tecnologias, este tipo de sensores, de forma a conseguir ser mais eficiente e contribuir para aumentar a sustentabilidade das suas empresas.
Eu diria que esse há-de ser um motivo. O tecido empresarial português é muito diferente daquele que nós vemos no norte da Europa. Aquilo que nós consideramos uma empresa corporate em Portugal é uma pequena e média empresa em muitos países do Norte da Europa.
Esse há-de ser um motivo, não há-de ser o único.
Acho que é preciso também sensibilizarmos os empresários portugueses e perceberem que, investindo na sustentabilidade ambiental, estão também a investir na sustentabilidade económica das suas próprias empresas, e que vejam a digitalização não como um fim em si próprio, mas como um meio para aumentar a sua sustentabilidade económica e ambiental.
Temos. Desde há muito tempo que temos um conjunto de produtos e serviços relacionados com a sensorização com IoT, com a utilização eficiente da energia, da água, com a comunicação entre máquinas que permitem ajudar as empresas a serem mais sustentáveis economicamente e na vertente ambiental.
Recentemente fizemos uma prova de conceito com o Porto de Aveiro. Através de uma rede privada mostrámos que era possível, na utilização das empilhadoras no processo de descarregar de um navio e trazer a carga para um armazém e depois levar para o comboio ou transporte terrestre, poupar de imediato 10% do custo do tempo de utilização e do consumo energético da empilhadora. Só com a digitalização de alguns processos.
Além disso, também temos vários exemplos de municípios que investiram em sistemas inteligentes de iluminação, em que a luz só acende com mais força quando passam pessoas ou carros, caso contrário, está num nível mais baixo de consumo. Há aplicações que gerem o consumo da água e processos de regas inteligentes que temos em vários outros municípios. Tudo isto permite-nos ter ‘use cases’ para mostrar às empresas que podem ser mais sustentáveis e permitir aqui poupanças através da digitalização.
Por outro lado, também conseguimos demonstrar que as empresas que são mais digitais têm mais dados para medir e conseguem tomar melhores decisões de gestão. Há estudos, concretamente da BCG, que mostram que as empresas mais digitais por terem acesso a mais informação e conseguirem tomar decisões com base em dados têm 2,5 vezes mais probabilidades de serem ambiental e economicamente mais sustentáveis.
Isso é uma preocupação que temos praticamente desde a conceção da empresa. Há 25 anos que é possível um cliente ir à nossa loja e entregar um telefone velho, antigo, que já está avariado para reciclar. Hoje vamos a qualquer empresa de eletrónica nas grandes superfícies e todas têm, mas há 25 anos ninguém tinha.
Já desde 2021 que na nossa empresa em Portugal só consumimos energia 100% renovável. Os colaboradores da Vodafone que quiserem comprar um carro só podem comprar carros elétricos. E a nossa frota de carros, que os técnicos utilizam para monitorizar a rede espalhada pelo país fora, há muitos anos que é totalmente elétrica.
Não só nós Vodafone de Portugal temos há muitos anos esta preocupação como em 2019 fez-se uma reflexão no grupo Vodafone sobre qual é a nossa razão de existir. E o que nós definimos como modus operandi é “We connect for a better world”. Neste propósito temos três pilares: um pilar relacionado com a sociedade digital, um relacionado com a inclusão e um pilar Planeta. Este é aquele que mais diretamente está relacionado com a sustentabilidade ambiental.
O grupo Vodafone tem vindo a ser bastante vocal nessa matéria, e não é só. Há uma série de outras empresas do ecossistema onde nos inserimos que têm vindo na União Europeia a sistematizar aquilo que são os pedidos para a nossa indústria, por forma a que esta decalage da Europa versus os Estados Unidos e a Ásia não continue a aumentar. O próprio estudo Draghi falava sobre a necessidade de uma série de alterações na indústria das telecomunicações.
Há quatro coisas que o grupo Vodafone e também o ecossistema em que nos inserimos tem vindo a solicitar. A primeira é a definição de um verdadeiro mercado único digital e, portanto, para isso poder acontecer precisamos de políticas coerentes de regulação que sejam verdadeiramente únicas, para se poder criar este ecossistema digital.
A segunda é endereçar o gap de investimento que temos na conectividade digital e, portanto a necessidade de haver políticas públicas e também privadas com incentivo ao investimento na modernização e também no enquadramento regulatório aplicável às empresas de telecomunicações.
Depois temos a necessidade de melhorar e reforçar todos os processos de financiamento à investigação e desenvolvimento. E nós aqui estamos muito atrás de outros países, como os Estados Unidos. E ainda, esta é aquela que é mais difícil de todas, que é evitar a introduzir medidas regulatórias que são totalmente desnecessárias e que travam o desenvolvimento das empresas e nas quais muitos reguladores na Europa são especialistas.
Todo este conjunto destas quatro medidas, se nós as conseguíssemos verdadeiramente endereçar, não tenho qualquer dúvida que iriam contribuir para o reforço da competitividade das empresas europeias face às suas congéneres nos Estados Unidos e na Ásia.
O tema da tecnologia sustentável tem estes três grandes vetores. O impacto tecnológico na criação de modelos de negócio mais sustentáveis é algo que veio para ficar. Quanto mais depressa os empresários e os gestores portugueses perceberem esta necessidade mais sustentáveis economicamente vão ser, mesmo que tenham uma perspetiva muito egoísta da sua indústria vão ter este ganho na sustentabilidade económica.
Por outro lado, todos aqueles que têm uma perspetiva com maiores preocupações com a sociedade em que se inserem, é importante que percebam que a digitalização da sua empresa é claramente um rumo à sustentabilidade.
A digitalização permite às empresas não só ter ganhos de produtividade e ganhos de eficiência, permite também a empresa ter mais dados. Com os dados podem tomar melhores decisões de gestão, podem encontrar mais oportunidades para serem economicamente e socialmente mais sustentáveis e, portanto, arranjar aqui um ciclo virtuoso entre a sustentabilidade ambiental, económica e social.
Ana Rita Guerra