É o que defende o responsável de Go To Market da unidade de negócio empresarial da Vodafone, Nuno Bastos, explicando que empresas mais eficientes e sustentáveis a nível económico têm efeitos na sustentabilidade ambiental.
“Se a empresa é mais eficiente do ponto de vista económico, também pode haver um reflexo direto no ambiente”, disse ao Dinheiro Vivo. “Porque a tecnologia permite às empresas otimizar os seus processos e reduzir desperdícios, por exemplo de matérias-primas.”
Os quatro pilares de sustentabilidade de negócios a que as empresas estão a prestar atenção, disse, são conectividade robusta e fiável; ciberresiliência e proteção de dados; sustentabilidade financeira e social; e otimização de custos. Este último pilar é bastante visível neste momento, com as empresas à procura de reduzir custos operacionais, mas todos estão no topo das preocupações.
“Temos sentido um crescimento cada vez maior na procura de soluções de ciberresiliência e de proteção de dados, para garantir que não só os dados estão protegidos como o negócio não pára no mundo digital cada vez mais conectado”, indicou Nuno Bastos. “Sustentabilidade económica num mundo com cada vez mais conectividade é o negócio não parar”, resumiu o gestor.
Por exemplo, na área industrial está a ser procurada a manutenção preditiva e auxílio na gestão de informação no chão de fábrica para evitar a avaria e paragem de máquinas. Isso é conseguido através da Internet das Coisas (IoT), com sensores e uma plataforma de análise.
“Agora consigo perceber que a máquina já está com alguns picos e com um comportamento anómalo e posso fazer preditivamente essa reparação”, ilustrou Nuno Bastos.
Há também soluções de análise do chão de fábrica que permitem ao gestor operacional olhar para a linha de produção e identificar erros, tal como um molde que não está a sair com as dimensões necessárias. “Isto pode ser através de um sensor de temperatura, de uma câmara que identifica o formato através de visão por computador, se está ou não está a ter uma evolução de acordo com o padrão e, com isso, ser mais eficiente, seja nas matérias-primas como também no output e na garantia que a linha de produção está sempre a funcionar.”
“São coisas que, caso contrário, podem causar disrupção do negócio, porque a máquina parou”, afirma o gestor. “Quanto é o custo que tenho da minha empresa estar com a linha produtiva em baixo?”
Na área da sustentabilidade ambiental, um dos focos do portefólio é a redução dos consumos energéticos. A solução Smart Energy leva a uma poupança média de 20% do consumo energético nas empresas, enquanto a Smart Lights otimiza a iluminação pública. Há um município em Portugal “que poupou cerca de 70% dos consumos energéticos” ao utilizar sensores de movimento e algoritmos preditivos para iluminar apenas quando há veículos ou pessoas na zona.
A manutenção preditiva possibilita também perceber se uma viatura está a emitir demasiado dióxido de carbono e solucionar o problema.
Bastos mencionou outras áreas, como a saúde, em que o foco está em soluções de cuidados domiciliários, como telemedicina ou monitorização remota de doentes, e na gestão de dados de saúde, que são “extremamente sensíveis.”
E no retalho, a atenção está na experiência do cliente omnicanal, online e offline, e na gestão de stock inteligente.
“A sustentabilidade económica está de forma intrínseca ligada ao desafio da sustentabilidade ambiental e social”, atesta o gestor. “Nós reconhecemos que esta interdependência é fundamental e que a tecnologia pode e deve ser usada como um catalisador, para promover um futuro mais sustentável.”
Ainda há um caminho a percorrer, mas Portugal não está atrasado em matéria de sustentabilidade e por vezes serve como laboratório para casos de estudo que depois são exportados, explica Nuno Bastos, que vê uma ligação muito próxima entre a sustentabilidade ambiental e a económica.
“Há muitos casos que vamos criando e desenvolvendo com clientes em Portugal e depois exportamos para os outros mercados, servindo como um incubador”, referiu. O inverso também acontece: “importar aquilo que está a funcionar noutros mercados e a resolver problemas e implementar em clientes em território nacional.”
Embora se associem os maiores objetivos de sustentabilidade e projetos de transformação a grandes empresas, o gestor lembrou que cerca de 90% do tecido empresarial português é composto por PME (pequenas e médias empresas) e que aqui não é uma questão de se, mas quando vão implementar iniciativas sustentáveis.
“As PME, mais dia menos dia, têm que ter estas preocupações”, referiu Nuno Bastos. “Porque o reforço da competitividade das PME depende da rapidez com que elas reagem ao mercado e às necessidades dos seus clientes.”
Ainda que o racional económico seja o fator mais pesado do processo de decisão, pelo menos numa primeira fase, o executivo sublinha que as empresas percebem que os seus consumidores se preocupam e têm uma consciência ambiental. “E quando eles conseguem juntar as duas coisas, acabam por escolher a solução que junta a componente de viabilidade económica e que também tem impacto ambiental.”
Esse é um incentivo para que as empresas deem mais atenção a este fator, algo que foi comprovado recentemente.
“Fizemos um estudo em que as PME reconhecem que a tecnologia é fundamental para acelerarem a sua sustentabilidade económica”, revelou Nuno Bastos.
“Reconhecem também que há muitas lacunas no mercado de expertise e de conhecimentos dessas capacidades técnicas”, ressalvou. É aqui que podem identificar-se alguns atrasos.
“Nós sabemos que o conhecimento nestas áreas em Portugal tem vindo a ser cada vez mais escasso. A Vodafone aí tem um papel fundamental como parceiro tecnológico das empresas, porque nós temos esse expertise.”
Ana Rita Guerra