Há um jogo da Seleção Nacional a decorrer e Cristiano Ronaldo acaba de marcar um golo com umas chuteiras em vermelho e verde. Na bancada, um fã recebe uma notificação a sugerir que experimente virtualmente aquelas chuteiras nos pés, através de realidade aumentada. E de seguida aparece-lhe um desconto de 30% se fizer a encomenda nos próximos dez minutos.
“É esse tipo de pontes que queremos criar”, explica David Olim, CEO da startup FootAR, que está a criar a plataforma para tornar este cenário possível. “As gerações Z e Millennials privilegiam as experiências customizadas, em vez de estarem a ver um jogo de futebol e lá ao fundo ter um banner que nunca vão explorar.”
O que a FootAR se propõe criar, no fundo, é o metaverso para desportos ao vivo. Um ecossistema em que são utilizadas tecnologias imersivas para enriquecer a experiência do consumidor, criando sinergias entre marcas, patrocinadores, clubes desportivos e fãs que estão a assistir a um jogo. Tudo começa num segundo ecrã, na maior parte dos casos o smartphone.
“Esta experiência é embeber elementos digitais no nosso contexto real”, descreve David Olim. “Nesta fase temos de usar um smartphone ou tablet, mas dentro de cinco a dez anos vai ser tão trivial ter uma espécie de óculos que vão embeber esses elementos no nosso quotidiano que esse tipo de experiências irá fazer a diferença para aqueles que são bem sucedidos junto da sua audiência.”
A plataforma criada pela startup já tem projetos no terreno em Portugal, Reino Unido e Brasil. Um é com o Clube Desportivo Nacional, mais conhecido como Nacional da Madeira, por onde Cristiano Ronaldo passou em criança. O outro é com um clube da Premier League inglesa, que está a testar esta solução embebida dentro do seu ecossistema. Eo terceiro é uma iniciativa com a LiveMode, que consegue embeber elementos imersivos dentro da transmissão televisiva no Brasil.
“Nós temos feito várias atividades, uma delas envolvendo uma zona específica do estádio experimentar o FootARenquanto acesso exclusivo a dados calculados em tempo real, assim como uma interface de colaboração e uma espécie de metaverso para que aqueles que tivessem acesso à aplicação pudessem interagir dentro do ecossistema digital”, descreve o responsável.
“As realidades imersivas, no geral, vão acabar por dominar os próximos anos”, considera. “Queremos mudar a forma como o desporto é consumido.”
A startup sediada na Madeira foi incubada pelo Vodafone Power Lab durante seis meses, onde
teve acesso a mentoria e apoio personalizado, e está agora em busca de financiamento. Tem uma avaliação de três milhões de euros e pretende levantar 300 mil euros por 10% de equity, estabelecendo como objetivos trabalhar com quatro clubes da Primeira Liga de futebol portuguesa e quatro clubes da Premier League inglesa.
Apesar de estar focada no futebol, a FootAR não limita as suas possibilidades nem o tipo de experiências que pode criar. “A escalabilidade da solução passa por oferecer outros serviços dentro do FootAR, do nosso metaverso para desportos ao vivo, e passa também por outros desportos. Não queremos que seja apenas para futebol.”
Um exemplo é o potencial nos sites de apostas online. Através de estatísticas inteligentes, é possível dizer qual a probabilidade de um remate resultar em golo porque o jogador rematou com o pé esquerdo ou o pé direito. “Sincronizando com os sites de apostas, faz com que haja uma janela de oportunidade para gerar uma aposta”, refere Olim.
Há também vertentes de comunidade que são relevantes dentro e fora do estádio, e é aí que a ideia de metaverso faz mais sentido. Criando um espaço virtual onde os fãs se podem encontrar através de avatares, a FootAR consegue gerar envolvimento e camadas de interesse que vão além do jogo que está a decorrer.
“Há mini-jogos durante o jogo”, indica o CEO. “Cada um de nós tem um avatar quando está dentro do estádio virtual”, continua. Na vertente de gamificação, um dos desafios é procurar o Wally nas bancadas: quem conseguir primeiro ganha 100 pontos que podem ser trocados por recompensas através dos patrocinadores.
“Temos três ativações: antes, durante e depois do jogo”, descreve. “A seguir podemos aceder aos destaques e perceber o que aconteceu do ponto de vista estatístico e através de uma análise personalizada.”
É claro que nem todos os fãs de desporto vão aderir da mesma forma ao conceito. Foi o que percebeu a FootAR através dos estudos que desenvolveu sobre o tema.
“Nem todas as audiências estão preparadas para este tipo de produto. Temos maior interesse dos 30 para baixo”, revelou David Olim. “Quando um sexagenário que já sabe que a experiência de futebol é ir ali, sentar e não ser chateado com nada, e até abomina quem esteja a mexer no telemóvel enquanto o jogo está a decorrer, sentimos que não há interesse, um não querer e uma inércia”, indicou. “Temos noção que o nosso produto não é para todas as faixas etárias.”
Mas é para todas as regiões do mundo, considera. “Da mesma forma que o Ronaldo conquistou o mundo a partir da Madeira, nós também estamos a começar aqui a conquistar o mundo.”
Ana Rita Guerra