Assistir a um concerto dentro do palco, ver uma peça de teatro a milhares de quilómetros de distância, admirar peças de um museu que não estão expostas, aceder a informações históricas apontando a câmara. Estas são algumas das formas como tecnologias de realidade virtual e realidade aumentada podem melhorar a experiência de eventos e ofertas culturais, uma área que está novamente em expansão após o difícil período da pandemia. A Cycloid, empresa tecnológica com mais de 15 anos de experiência, está a trabalhar precisamente nesse sentido.
“Em Portugal, o leque de opções em termos de cultura é bastante grande”, diz ao Dinheiro Vivo o diretor de negócios, Sérgio Silva. “Tínhamos a noção de que podia ser potenciado não só pela parte dos museus mas também espectáculos e transmissões ao vivo. Fomos percebendo que havia espaço para implementar soluções tecnológicas.”
O intuito da empresa é levar a transformação digital à área da cultura, através de aplicações móveis, digitalização de acervos, quiosques digitais e conteúdos em realidade virtual e realidade aumentada. Foi isso que fez no Museu da Lourinhã, como parceira da Vodafone, e é isso que está a fazer noutros projetos que tem a decorrer ou em fase de negociação, como é o caso da Fundação Gulbenkian e do Museu do Caramulo.
“A Cycloid propôs um projeto que seria os museus digitais da Vodafone, uma transformação digital que abrangesse não aqueles museus de primeira linha, que estão na rede nacional e têm orçamentos próprios”, explica Sérgio Silva. “Focámos nos museus mais municipais, que estavam sob a alçada das câmaras com uma presença territorial muito grande, mas que não têm aquela componente tecnológica e não estavam a adaptar-se à transformação digital”, continua. “Pensámos numa solução que fosse abrangente para estes museus de dimensão mais pequena.”
O projeto no Museu da Lourinhã, que foi inaugurado em 2021, acabou por ser pioneiro e tornou-se emblemático.
“Eram três soluções distintas: uma aplicação móvel, uma solução de quiosques digitais que iriam estar disponíveis nas várias salas do museu, e uma aplicação de realidade virtual”, descreve Sérgio Silva. “As três dariam esta transformação digital do museu.”
O projeto custou 50 mil euros e foi desenvolvido ao abrigo da iniciativa comunitária, promovida pelo PDR 2020 (Programa de Desenvolvimento Rural), Portugal 2020 e cofinanciada pelo FEADER (Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural), Medida 10 Leader (Programa de Desenvolvimento Rural do Continente), Operação 10.2.1.6 Renovação de Aldeias.
A componente de realidade virtual “teve bastante sucesso”, diz Sérgio Silva, explicando que a Cycloid modelou dinossauros em 3D à escala para dar a experiência visual de estar junto a um destes animais extintos e inclusive passar debaixo deles.
Já os quiosques digitais promovem uma utilização interativa, com conteúdos multimédia que são mais ricos que os tradicionais painéis informativos dos museus.
Por último, a aplicação móvel para Android e iOS pretende assegurar a participação dos visitantes numa fase prévia e manter essa ligação ao museu depois da visita. No caso de escolas, é uma forma de os professores incentivarem os alunos a envolverem-se. Outra das componentes é a possibilidade de fazer streaming ao vivo de eventos, potenciado pelo 5G através da aplicação.
“Temos uma visão em conjunto com a Vodafone de promover esta transformação dos museus digitais”, estabelece Sérgio Silva, referindo que em Portugal há cerca de 450 museus e apenas uma pequena parte faz parte da rede nacional de museus.
“A Cycloid começou a desenvolver algumas estratégias com outras entidades, por exemplo a Gulbenkian, que tem a ver com a analítica e a digitalização do acervo”, revela. Neste caso, trata-se de uma solução baseada na nuvem, sendo que a empresa é um parceiro avançado da Amazon Web Services (AWS) e tem “as competências necessárias” para migrar infraestrutura de localizações físicas para a nuvem.
A Cycloid tem também na mira iniciativas com o Aquário Vasco da Gama e o Museu do Caramulo, que ainda não se concretizaram mas têm o mesmo intuito, e está a tentar promover algo similar na zona do Oeste, visto que a câmara do Bombarral vai inaugurar um museu.
Uma das ideias é expandir o alcance dos museus para lá das suas limitações logísticas. “Os museus só conseguem expor cerca de 20% do acervo”, diz Sérgio Silva. Uma solução seria organizar visitas virtuais, em que os visitantes podem pagar um bilhete para visualizar peças que não estão expostas. “Isto para os museus poderá ser uma outra forma de monetizar e trazer receitas”, explica, frisando que esta modalidade “reduz os custos de exposição.”
O objetivo, diz, é tornar o conteúdo que existe acessível fora do museu. “Há um projeto piloto em Vila Real com a Vodafone para trazer algo deste género para as escolas”, descreve.
No caso do Museu da Lourinhã, o valor da transformação que foi implementada é imenso. “O Museu da Lourinhã é um dos mais importantes de paleontologia que existem a nível europeu“, frisa Sérgio Silva. “Tem um acervo de fósseis que foram descobertos em Portugal, dinossauros únicos e que poucas pessoas conhecem”, continua. “Neste tipo de soluções, o propósito é trazer o museu às pessoas e conseguirmos expor todo o acervo.”
Ana Rita Guerra