Cirurgias assistidas remotamente por especialistas com óculos de realidade mista, planeamento de tratamentos de quimioterapia com recurso a hologramas, formação de médicos e enfermeiros usando dispositivos imersivos de realidade virtual. A utilização de tecnologias de realidade estendida (XR) está a ter tanto impacto na área da saúde que já está em uso uma designação para este campo: MXR, ou Medical Extended Reality no original em inglês.
Trata-se de uma evolução relativamente nova mas com imenso potencial. Tanto que o regulador norte-americano, Food and Drug Administration (FDA), está a trabalhar num enquadramento regulatório próprio para incentivar desenvolvimentos, ao mesmo tempo que assegura a fiabilidade e segurança destas soluções.
Num dos primeiros workshops que a FDA organizou para explorar tecnologias e aplicações deste novo campo, participaram cerca de 70 organizações e mais de 700 profissionais da indústria, universidades e sector público.
Assumindo vários formatos, a MXR tem como objetivo último melhorar o tratamento dos doentes e dar-lhes um atendimento mais personalizado. Os estudantes de medicina conseguem aceder a uma formação mais eficiente, os médicos podem manipular imagens tridimensionais e simular procedimentos, melhorar o planeamento das cirurgias e colaborar em tempo real com especialistas localizados noutras cidades. Estas ferramentas podem otimizar os diagnósticos e até acelerar a recuperação dos doentes, no caso da realidade virtual, auxiliando no recobro, reabilitação e fisioterapia
De uma forma mais alargada, a MXR pode melhorar em simultâneo os resultados dos pacientes e a qualidade da saúde pública. Há poucas áreas onde os benefícios são tão evidentes como esta, o que explica a quantidade de experiências que estão a ser feitas em países como Estados Unidos, Reino Unido e vários mercados europeus, incluindo Portugal.
Em Itália, o hospital IRCCS San Raffaele está a testar uma solução que permite aos médicos visualizarem hologramas de imagens médicas e modelos 3D detalhados na preparação e condução de cirurgias. Na Alemanha, foi lançado o projeto “Healthy Reality”, que explora a forma como a realidade virtual e realidade aumentada podem ser usadas para melhorar o sector da saúde. O país recebe, aliás, um dos mais importantes congressos de Medical XR em setembro, a Shift Medical 2022.
Várias fabricantes de hardware e de dispositivos médicos assinaram parcerias para desenvolver tecnologia MXR, sendo a maioria de pequena dimensão. Mas há alguns nomes de monta: a Microsoft e a Philips têm uma parceria que cruza a plataforma de tratamento orientada por imagens Azurion com os óculos HoloLens 2, que estão na linha da frente da “medicina holográfica.” E a Magic Leap fez um acordo com a Brainlab para melhorar a forma como os médicos visualizam e acedem a imagialogia, através de uma versão modificada da plataforma Magic Leap.
O caso português
Em Portugal há já vários protocolos e projetos no terreno, incluindo a utilização de óculos de realidade mista na Fundação Champalimaud e no Centro Tecnológico Reynaldo dos Santos da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
“É importante que se pense nisto de uma forma comum para o país, de forma transversal e homogeneizada na área da saúde”, disse ao Dinheiro Vivo António Reis Silva, diretor de produtos e serviços da Vodafone Portugal.
O executivo exemplificou com a possibilidade de usar tecnologias imersivas nos centros de saúde localizados em zonas afastadas dos centros, onde há um número reduzido de especialistas em certas áreas e menor rácio de médicos por habitante. “A realidade aumentada permite melhorar isso”, frisou.
A utilização de dispositivos que recebem e projetam informação holográfica sobre os doentes e/ou órgãos afetados tem o potencial de melhorar de forma substancial a preparação de uma cirurgia, por exemplo.
“Há um enorme valor acrescentado nesta expansão da informação que o cérebro está a receber. Pode ser tridimensional e com enormes impactos”, sublinhou António Reis Silva.
E as potenciais aplicações de tecnologias imersivas cobrem todo o espectro da saúde, até mesmo áreas como o serviço de atendimento telefónico.
“Na Saúde 24, o ideal é que, além de ouvir a nossa voz, as pessoas no atendimento possam ver a nossa cara”, exemplificou António Reis Silva. “Já estamos um bocadinho atrasados, porque é possível fazer mais com o que já temos”.
É precisamente para falar de projetos que estão a ser feitos que a administradora do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, Elsa Justino, e o médico especialista em medicina intensiva na mesma instituição de saúde, Ricardo Amaral, vão estar na Vodafone Business Conference a 19 de maio no Palácio da Bolsa do Porto. Os especialistas irão explicar o que está a ser feito e de que modo a MXR pode melhorar a saúde em Portugal.
Ana Rita Guerra