No hospital IRCCS San Raffaele, em Milão, está a ser testada uma solução que permite aos médicos visualizarem hologramas de imagens médicas e modelos 3D detalhados na preparação e condução de cirurgias. Os médicos usam visores e a tecnologia é da startup artiness, em parceria com a Vodafone Itália. com foco na área da imagialogia cardiovascular e modelação de doenças cardíacas, a validação clínica da solução é um avanço tremendo na utilização de realidade aumentada para auxiliar uma atividade tão crítica como a da cirurgia. E isto só é possível pela combinação de tecnologias imersivas com a nova geração móvel, num momento fundamental de inovação tecnológica.
“O 5G faz uma grande diferença na utilização e na experiência da realidade estendida”, diz ao Dinheiro Vivo Mafalda Alves Dias, diretora de sector público e grandes contas da Vodafone Portugal. “Este é o ano em que finalmente temos as licenças 5G e achamos que vai haver um boost grande na sua utilização.”
A realidade estendida (XR, na sigla inglesa) é um conceito que abrange várias tecnologias imersivas, como a realidade aumentada e a realidade virtual, de forma a alargar a perceção humana. O exemplo do Milão mostra o potencial do uso destas tecnologias e não é caso único. Há múltiplos projetos em curso que permitem fazer coisas que até agora não eram possíveis, apesar de o hardware ligado à XR já existir há algum tempo – não só os óculos de realidade virtual e aumentada, como também lentes e os próprios smartphones.
No entanto, é o 5G que abre a porta a uma utilização diferente. Com maior velocidade e menor latência, já não é preciso fazer o processamento dentro dos óculos: pode ser feito na nuvem. Isto significa que os óculos são muito mais simples e leves, argumenta a responsável, conseguindo comunicar rapidamente sem interferência na experiência do utilizador porque a capacidade de processamento é feita longe do hardware. “É isto que o 5G vai permitir e é por isso que este tema vai sofrer uma melhoria na experiência de utilização”, refere Mafalda Alves Dias. “A realidade virtual vai ser mais imersiva, vai ser mais interessante.”
Por outro lado, há agora muitas empresas a trabalhar em software para este segmento e isso também faz diferença. “Tecnicamente há aqui uma alteração que não deixa de ser importante”, indica. “O 5G vem alterar visivelmente a experiência de uso.”
As tecnologias imersivas como realidade aumentada e virtual têm sido mais associadas ao segmento do consumo, popularizadas por jogos como Pokémon Go e por dispositivos como o Oculus Quest. O que a Vodafone considera é que tal vai alargar-se rapidamente porque estão a surgir vários casos de utilização relevantes nas empresas e no sector do ensino.
“A visão que temos sobre a panóplia de realidade estendida é que vai mudar a forma como nós vemos o mundo”, atesta Mafalda Alves Dias. “Onde nós achamos que vai arrancar e ter uma grande mudança, numa primeira fase, é na parte da formação”, continuou, indicando a aplicabilidade na educação (escolas e universidades) e no treino dentro das empresas.
Na Universidade de Coventry, por exemplo, há uma faculdade de ciências humanas que está a usar uma solução virtual para que os alunos viajem dentro do corpo humano, tendo aulas completamente imersivas.
Nas empresas, a operadora antecipa uma disseminação de soluções para dar formação aos profissionais e ter acesso a informação especializada de técnicos que estão distantes. “A realidade aumentada e virtual vai aproximar muito a capacidade técnica”, considera a executiva. “Vai levar a capacidade técnica a sítios onde antigamente era preciso uma deslocação física e isso vai ajudar muita gente que está na linha da frente.”
Um caso que já está no terreno é o de uma refinaria em Espanha onde é dada assistência técnica via realidade aumentada, o que é de particular importância nas zonas que são perigosas em termos de deslocação. “Não precisam de ir dois ou três técnicos fazer vistorias e reparações”, indica Alves Dias, “vai um e com realidade aumentada consegue mostrar aos colegas que estão no escritório o que está a acontecer e quais são as intervenções que é preciso fazer.”
Na lógica de suporte ao cliente, o técnico dá auxílio remoto de uma forma mais eficaz que a marcação de uma deslocação ao local. “Vai ser uma vantagem óbvia porque poupa tempo, poupa deslocações, é imediato e aumenta a satisfação.”
Estes tipos de casos de utilização também estão a ser desenvolvidos em Portugal, onde há empresas com interesse específico na sua aplicação. Isso é igualmente verdade por parte de autoridades locais, nalguns municípios onde poderá haver cocriação de soluções com a Vodafone.
Um projeto que já está no terreno é o do Museu da Lourinhã, que se dinamizou com uma solução de realidade virtual, quiosques digitais e uma aplicação móvel. A Vodafone tem ainda um projeto com o Torneio de Wimbledon, no Reino Unido, que envolve realidade virtual, aumentada e háptica (interface que dá a sensação de toque), algo que Mafalda Alves Dias apelida de “próximo nível.”
A responsável sublinha o valor de aproximar sensações físicas de mundos virtuais. “É uma tecnologia que já existe, estamos num momento de transformação e vai haver coisas novas no futuro”, considera. “Já estamos entre o Star Wars e a Matrix”, comparou. “Já existe uma mescla entre a virtualidade e a realidade. Essa é a chave.”
Ana Rita Guerra