O Supersaurus Lourinhanensis e o Euronychodon Portucalensis são dois dos dinossauros portugueses que podem ser encontrados no Museu da Lourinhã, que tem uma das coleções mais importantes de fósseis de dinossauros do Jurássico Superior do mundo. As imagens nos livros dão uma ideia da grandiosidade destes animais, mas como seria caminhar ao seu lado ou passar-lhes por debaixo das patas? É isso que o projeto de realidade virtual implementado pela empresa tecnológica Cycloid, em parceria com a Vodafone, permite aos utilizadores descobrirem no Museu da Lourinhã.
“É uma experiência que nos aproxima muito daquilo que poderia ser a vida terrena há muitos milhões de anos. É o mais próximo que temos daquelas épocas”, explica Vital Rosário, presidente da direção do GEAL – Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã, que tutela o museu.
Através de óculos de realidade virtual e um controlador gerido com as mãos, o visitante vê-se transportado para o meio dos dinossauros, numa experiência sensorial e totalmente imersiva. “Vemos um dinossauro mais ao longe e conseguimos dirigir-nos para lá, conseguimos rodá-lo e vê-lo na sua imensidão como se estivéssemos ao lado dele”, descreve Vital Rosário.
A experiência é particularmente interessante para grupos escolares, permitindo aos alunos terem uma perspetiva muito mais realista do que eram os dinossauros. Para chegar a este resultado, a Cycloid modelou os animais em 3D à escala real e utilizou os óculos Quest 2 da Meta, casa-mãe do Facebook e da Oculus. “Teve bastante sucesso”, indica Sérgio Silva, diretor de negócios da tecnológica, frisando que a solução foi definida e implementada “em tempo recorde.”
A utilização de realidade virtual para mostrar estes dinossauros integrou-se num projeto mais alargado que tornou o Museu da Lourinhã no primeiro museu digital do país, com uma transformação que incluiu a digitalização do acervo, a implementação de quiosques digitais nas salas de exposição e o desenvolvimento de uma aplicação móvel. O projeto teve um custo total de 50 mil euros e foi financiado através do PDR 2020 (Programa de Desenvolvimento Rural), Portugal 2020 e FEADER (Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural), Medida 10 Leader (Programa de Desenvolvimento Rural do Continente), Operação 10.2.1.6 Renovação de Aldeias.
“Foi com muito orgulho que abraçámos este projeto num desafio da Vodafone para nos tornarmos o primeiro museu digital do país”, conta Vital Rosário. Sendo um museu antigo e tradicional, a digitalização e disponibilização da informação em várias plataformas permite torná-lo mais acessível a outro tipo de público. “Através dos quiosques digitais, da app para telemóveis e da realidade virtual, conseguimos agora ser acessíveis para diferentes públicos”, frisa. “Tornámo-nos mais digitais e dessa forma também mais apetecíveis para ser visitados por outros públicos-alvo.”
Enquanto os quiosques oferecem mais informação sobre as peças que estão expostas ao longo do percurso expositivo, a aplicação móvel enriquece a experiência do visitante mesmo antes da deslocação ao museu. “A Cycloid foi um parceiro que nos permitiu dar um salto qualitativo e passarmos de um museu dos anos 80 para um dos anos 2020, desta geração”, sublinha o presidente da direção da GEAL.
Os próximos passos serão capitalizar nas capacidades das tecnologias já implementadas. “Há muito mais que pode ser feito”, continua o responsável. “O mundo da realidade virtual e da realidade aumentada permite coisas quase sem limites e aqui temos uma pequena amostra do que é possível fazer.”
Uma das áreas em que estas tecnologias imersivas podem fazer a diferença é na expansão do alcance do museu, que está limitado pelo espaço físico onde está inserido. Sérgio Silva falou, por exemplo, da possibilidade de criar uma exposição virtual em que o visitante paga um bilhete para visualizar peças que não estão em exibição.
“O Museu da Lourinhã é um dos mais importantes de paleontologia que existem a nível europeu”, frisa o diretor de negócios da Cycloid. “Tem um acervo de fósseis que foram descobertos em Portugal, dinossauros únicos e que poucas pessoas conhecem.” Este formato permitiria trazer o museu às pessoas e conseguir expor todo o acervo, algo que os museus não conseguem fazer nas exposições físicas. “Isto para os museus poderá ser uma outra forma de monetizar e trazer receitas”, explica, frisando que esta modalidade “reduz os custos de exposição.”
O diretor diz também que este é um momento em que as tecnologias de realidade virtual e realidade aumentada – que fazem parte do conceito de realidade estendida, ou XR – já estão amadurecidas e capazes de oferecer experiências mais qualitativas. “A tecnologia está muito mais avançada. A experiência há quatro ou cinco anos era bastante desagradável, havia aquele efeito de tontura, desequilíbrio”, lembra Sérgio Silva. “Vai passar a haver soluções muito mais imersivas”, vaticina.
E há ainda outro fator que torna o momento propício: a nova geração móvel. “Todas estas tecnologias são potenciadas pela infraestrutura que existe”, afirma. “Foi com o 5G que começámos a aperceber-nos que seria um catalisador para que estas soluções se desenvolvessem.”
No Museu da Lourinhã, a renovação e modernização surtiu resultado, em especial após a quebra abrupta devido à pandemia de covid-19. “Este ano estamos a ter um aumento significativo dos visitantes, já a equiparar a valores pré-pandemia”, revela Vital Rosário. A expectativa é de ultrapassar os dez mil visitantes este ano, o que, para este museu, “é um número bastante simpático.”
Ana Rita Guerra com Ana Maria Ramos