No histórico edifício do Palácio da Bolsa da Porto, que demorou mais de meio século a ser construído, a Vodafone Business Conference projetou um futuro que está cada vez mais perto: o de uma realidade que mistura o físico e o digital, onde tecnologias imersivas conseguem estender os nossos sentidos.
A Extended Reality, ou XR na sigla inglesa, foi o foco da quarta edição da Vodafone Business Conference, com oradores nacionais e internacionais que falaram do potencial da tecnologia e dos casos de utilização que estão no terreno.
“Em Portugal, já fazemos essa ponte com soluções de realidade aumentada e virtual em áreas como a cultura, o suporte a serviços de manutenção e apoio ao cliente”, disse o CEO da Vodafone Portugal, Mário Vaz, na abertura da conferência. Estas tecnologias são agora impulsionadas pelo 5G e terão impacto transversal, desde a saúde e retalho à indústria e cidades inteligentes. “Talvez ainda estejamos longe de imaginar as promessas que trazem, a forma como podem ajudar a transformar o modo como vivemos, trabalhamos e usufruímos dos nossos momentos de lazer”, disse o responsável.
O foco deste evento na XR acontece num momento pós-pandemia de covid-19 em que muitas empresas foram obrigadas a acelerar a sua digitalização, mas com evidências de que a maior parte do trabalho não está feito. Isso mesmo foi referenciado por Mário Vaz, que citou um estudo recente da Vodafone segundo o qual apenas 7% das empresas em Portugal implementou totalmente um plano de transformação digital. Pouco mais de um terço iniciou a jornada e um quinto não começou sequer ainda a pensar neste processo. São dados que, na visão do CEO, provam que “há ainda muito caminho a andar no uso da digitalização para crescer, ganhar clientes e melhorar a sua experiência”, disse.
As tecnologias imersivas aplicadas em contextos empresariais são ferramentas que vão auxiliar nessa transformação digital, algo que permitirá às organizações estarem “em forma” para o futuro.
“Ser capaz de se adaptar a esta transformação, de estar atento às necessidades personalizadas dos clientes e dos colaboradores no mundo digital e conseguir equilibrar processos manuais e automatizados são características de empresas que estão prontas para enfrentar o futuro”, salientou Mário Vaz.
Nos próximos anos, sublinhou, a realidade estendida “fará parte do quotidiano dos negócios.”
E essa difusão terá um impacto bilionário, segundo as estimativas da PwC em Londres, como revelou o orador Jeremy Dalton, diretor de tecnologias do metaverso da consultora.
“A XR tem o potencial de contribuir com 1,5 biliões de dólares para a economia até 2030”, afirmou o especialista, um valor que equivale a cerca de 1,42 biliões de euros à taxa atual. O autor do livro “Reality Check”, publicado em 2021, disse na sua apresentação que a realidade estendida “pode impulsionar resultados de negócio valiosos em diversas funções”, desde a formação ao desenvolvimento, operações, vendas e marketing.
Segundo uma pesquisa da PwC feita nos últimos dois anos sobre XR, só no Reino Unido há 4.000 exemplos de utilização, sendo a maioria em engenharia e manufatura (24,13%), seguindo-se retalho e consumo (10,9%), serviços profissionais (10,65%), desporto e lazer (8,97%) e saúde (7,68%). Neste momento, os indicadores apontam para uma prevalência da realidade virtual, sendo expectável que a realidade aumentada venha a ganhar terreno nos próximos anos.
Dalton exemplificou com os casos de utilização de empresas em diversos sectores. A Coca-Cola, por exemplo, introduziu realidade aumentada em tablets para a venda de equipamentos de refrigeração e aumentou as vendas em 27%. A Boeing está a usar realidade aumentada para otimizar a sua produção de aeronaves e registou uma redução de 30% no tempo necessário para a cablagem.
A Promark-Telecom implementou realidade aumentada para melhorar a segurança e eficiência da construção e o resultado foi que três quartos dos trabalhos passaram a ser concluídos em metade ou menos do tempo, uma poupança mensal de 12 a 20 horas por localização. A Sky criou um formato que permite aos fãs de desporto a imersão nos jogos ao vivo e a GlaxoSmithKline aplicou realidade virtual à análise do comportamento dos clientes, melhorando a sua compreensão. Dalton falou também da EDP, cuja utilização de realidade aumentada permitiu acelerar de forma substancial (30x) o acesso à informação.
E ainda da construtora automóvel Ford, que reduziu em 70% a taxa da acidentes nas linhas de produção de veículos com realidade virtual e a plataforma de moda online Poizon, que triplicou a conversão de clientes quando adicionou uma funcionalidade que permite aos consumidores “experimentarem” virtualmente os produtos.
Na formação, uma área com aplicabilidade transversal, Dalton referiu que os indicadores são muito promissores. “A realidade virtual consegue ser melhor, mais rápida e mais barata quando em escala que os métodos de treino tradicionais”, com maior retenção dos conhecimentos.
“O intuito destes exemplos é mostrar que a tecnologia XR já está a ser aplicada em todas as indústrias em todo o mundo”, em empresas de todos os tamanhos, frisou o responsável. “Há lugar para a XR na vossa organização neste preciso momento.”
Ana Rita Guerra