Há mais de 1.000 estagiários e 700 médicos internos no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, que em breve poderão beneficiar de um projeto de realidade estendida virado para a formação e treino de técnicas difíceis. Em parceria com um consórcio de universidades europeias, o PrepaCare XR recebeu um financiamento europeu de 300 mil euros e tem a duração de um ano.
“O projeto pretende usar tecnologia imersiva para o treino de profissionais de saúde usando realidade virtual, aumentada e mista”, disse a vogal executiva do conselho de administração do centro hospitalar, Elsa Justino, que apresentou a iniciativa na Vodafone Business Conference.
“Juntamos universidades e um hospital para desenvolver um projeto diferenciador do treino de profissionais de saúde”, continuou, sublinhando que “há uma grande necessidade de formação contínua” e estes profissionais estão em aprendizagem ao longo da vida.
“É preciso haver treino, de preferência sem dor para o doente”, afirmou.
Esse é o intuito do PrepaCare XR, com foco nas técnicas mais intrusivas.
“A maior parte do treino é feito em ambiente real, nas pessoas”, frisou Elsa Justino. “Aqui é que está a mudança da forma de trabalhar. Podermos fazer a simulação de técnicas, em especial técnicas de eventos raros”, descreveu.
Com acesso a treino virtual, o médico pode treinar várias vezes técnicas que no mundo real aparecem poucas vezes, sem qualquer risco para os doentes. Outra vantagem é a renovação de competências de médicos que já se formaram há anos e poderão “treinar novas técnicas num ambiente de equipa”, sem deslocações.
O médico intensivista Ricardo Amaral, que também foi orador na conferência, explicou que a simulação em realidade virtual vai permitir aos médicos treinar melhor antes da exposição precoce aos doentes. Poderão perceber o stress que vão sentir e a gravidade da situação sem que a sua prestação seja julgada. “Podem repetir aquele cenário várias vezes”, destacou o médico, o que será benéfico para as suas competências de comunicação, liderança e treino sem recorrer a casos reais.
“Temos um livro em branco para podermos mergulhar num mundo completamente alternativo”, descreveu.
O foco está no treino da via aérea difícil, mas o consórcio pretende alargar a outras técnicas.
Elsa Justino sublinhou que a implementação destas tecnologias inovadoras, além dos benefícios de retenção de conhecimentos, treino e redução de custos, vão ser importantes num futuro em que a área da saúde terá maior peso.
“O sector da saúde é importantíssimo, com um peso entre 10 a 12 % no PIB nacional, e vamos ter mais no futuro”, disse, mencionando questões demográficas e de longevidade, com maior consumo de produtos relacionados com a saúde.
A tecnologia traz ainda uma melhoria da qualidade do atendimento e maior capacidade de ter tempo para os doentes.
“Os meios complementares de diagnóstico fazem parte vital do que acontece no hospital mas no fundo somos pessoas para pessoas”, afirmou. “É isto que nos faz andar e a tecnologia tem que nos ajudar a estar cada vez mais disponíveis para o tratamento e para ver a pessoa.”
Ana Rita Guerra