Dentro de cinco anos não nos vamos recordar do que significa estar offline. Parece uma previsão disparatada, mas é o que vaticina Gerd Leonhard, o futurista que esteve em Portugal para falar sobre tecnologia e humanidade na Vodafone IoT Conference. O luxo, em breve, será poder desligar a ficha e é importante que se definam hoje as condições para fazer isso. A apresentação centrou-se numa dicotomia em que muitos players do mercado não pensam: de que forma a tecnologia vai ter impacto na nossa humanidade e como poderemos garantir que ela é usada de forma a servir os humanos e não a torná-los reféns da sua utilização? “O desafio é não impedir o progresso, mas proteger o que nos torna humanos”, afirmou Gerd Leonhard, que apresentou nove princípios da IoT do futuro que todas as empresas deverão ter em atenção.
1. IA é a nova eletricidade
O matemático inglês Clive Humby disse que os dados são o novo petróleo e Gerd diz que a inteligência artificial é a nova eletricidade. “Primeiro eletrificámos, depois digitalizámos, agora vamos cognificar”, declarou. Isto significa que as máquinas serão inteligentes e no futuro conseguirão pensar, em muitos casos melhor do que nós. A questão transversal é esta: quando as máquinas ultrapassarem a nossa capacidade de aprendizagem, como vamos garantir que nos mantemos humanos?
2. O futuro já não é uma extensão do presente
Nem do passado. “Todos teremos de nos reinventar.” A era das grandes empresas centenárias terminou e há muitas áreas em transformação, por exemplo, a indústria automóvel. “O futuro do carro será não ter carro, é a mobilidade.” Em menos de dez anos, calcula Gerd, teremos uma espécie de “Spotify dos carros.”
3. O futuro é exponencial, combinatório, convergente
Muitos negócios vão explodir, tal como a mobilidade-como-serviço. Há um grande investimento em machine learning que dará às máquinas a capacidade de desenharem as suas próprias regras de gestão dos dados. “Esta é a espinha dorsal da IoT.” Máquinas que serão um milhão de vezes mais rápidas e permitirão, por exemplo, analisar o ADN com um smartphone em cerca de dez segundos. Assistiremos também à conectividade gigabit e à computação quântica. Poderemos conversar com máquinas usando linguagem natural, de uma forma que nem Siri nem Google Assistant ou Alexa conseguem hoje compreender.
4. As megatendências
Gerd considera que há dez mega-tendências a ocorrer ao mesmo tempo e que as empresas devem ter em conta: virtualização, personalização, automação, digitalização, robotização, “dataficação”, desintermediação, cognificação e aumento. “O principal objetivo da tecnologia não é só tornar as coisas mais eficientes, é criar coisas novas, novas possibilidades. Não façam apenas coisas melhores.”
5. Do físico ao digital
Em específico, a convergência da tecnologia e da biologia. Dentro de dez anos será possível tratar a diabetes com tecnologia. Em 30 anos, poderemos evitar a morte. “É o fim da morte, como se diz em Silicon Valley.”
6. A IoT terá mais impacto que a revolução industrial
Impulsionada pela nuvem, big data e inteligência artificial, a IoT terá um efeito mais transformador do que a Revolução Industrial. Aliás, Gerd vai mais longe: “Estamos à beira da 5.ª revolução industrial.” É por isso que é tão importante decidir agora o que se vai fazer com ela. “A conectividade não é apenas tecnologia: é pensar em ecossistema, hipercolaboração, confiança, responsabilidade e responsabilização. A quem se vai confiar isto?” Num mundo com um bilião de aparelhos conectados, quem quiser desencadear uma guerra começará por aí. Alguém terá de estar no comando. “Silicon Valley é como o centro de comando para a humanidade, e não tenho a certeza de que isso seja uma boa ideia para nós.”
7. Externalidades devem ser incluídas na IoT
O que o futurista quer dizer com isto é que os efeitos colaterais devem ser pensados e integrados no desenho da tecnologia desde o início, porque há muitas consequências que não estavam previstas. Por exemplo, o Facebook era para ser uma rede a ligar amigos e acabou por ser usada para manipulação significativa. “Quando construímos coisas, mudamos a sociedade.” A IoT tem o potencial de tornar possível o capitalismo sustentável.”
8. Foco na magia
A magia é uma evocação das palavras de Steve Jobs para descrever os produtos mais revolucionários da Apple: eram mágicos. “A magia é excelente, mas depois a tecnologia tornou-se demasiada”, disse Gerd, exemplificando com a pessoa que acorda às quatro da manhã e faz um update no Facebook, ou partilha tudo o que come. Esta é a abordagem maníaca, acrescentou o futurista, seguida de comportamento tóxico – por exemplo, as pessoas que usam mais redes sociais apresentam distúrbios emocionais. A ideia é então focar na magia, desencorajar o que é maníaco e banir o que é tóxico.
9. O fim da rotina
Esta é a questão de um milhão de dólares: o que irá acontecer ao nosso trabalho? Tudo o que forem tarefas rotineiras serão aprendidas e executadas por máquinas. “Será mais importante ter quociente emocional.” Gerd Leonhard está com Elon Musk no debate sobre os perigos da inteligência artificial e diz que “temos de ter muito cuidado com isto”. Tudo o que puder ser virtualizado e automatizado sê-lo-á. Por exemplo, pilotar um avião, fornecer assistência legal de rotina, serviços de banca. “O fim da rotina não é o fim do trabalho”, ressalvou. “Mas se o seu trabalho é 100% rotina, tal como cozinhar fast-food, você está em apuros.”