A fundadora do estúdio de realidade virtual CATS are not PEAS, Alex Rühl, é uma pioneira de narrativas imersivas e o seu trabalho já mereceu várias distinções internacionais. A especialista inglesa foi uma das oradoras da Vodafone Business Conference e esteve no Porto a falar das estratégias mais eficazes para usar a realidade virtual, de forma a tirar total partido das suas características diferenciadoras. Alex Rühl auto descreve-se como “uma realizadora de realidade virtual”, o que significa que cria experiências baseadas em narrativa, ou projetos que contam histórias e ganham vida na realidade virtual. A especialista acredita que dentro de três a cinco anos os óculos de realidade virtual vão começar a entrar no nosso quotidiano.
Porque é que acha importante fazer conferências como esta neste momento, que a Alex considera ser um ponto de inflexão?
Penso que é importante agora, mais que nunca, porque frequentemente tivemos equívocos sobre para que serve esta tecnologia. Muitas pessoas pensam, até hoje, que é só para videojogos, ou vemos gente a usá-la para experimentar montanhas russas, e é importante espalhar a palavra de que há tantos outros casos de utilização para a tecnologia. Acredito fortemente que esta tecnologia será o futuro do hardware. Vamos usar um par de óculos XR na cara tal como interagimos com o nosso smartphone neste momento. Agora é a altura para as pessoas, e especialmente empresas, levarem isto a sério. Porque vai ter impacto em todas as partes das nossas vidas.
Em termos empresariais, para que serve a tecnologia?
Penso que a área mais fácil de ver a utilidade prática neste momento é o setor da formação. Muito do trabalho que faço com as empresas é no treino de soft skills. Quão incrível seria estar cara-a-cara com um gestor com quem temos de falar sobre uma promoção, ou navegar uma conversa de vendas, e poder praticar isso e sentir que já o fizemos? Que já estivemos cara-a-cara com alguém, o mais próximo possível de um cenário real mas em realidade virtual? O treino de soft skills é uma forma fantástica de demonstrar a utilidade. Também a diversidade e inclusão, a importância disso. Falei de uma experiência que criei com o Jeremy Dalton e a equipa da PwC intitulada “In my shoes“, que nos permite estar no corpo do Sam, um colega negro da PwC a passar pelo seu dia-a-dia, e experimentar algumas das microagressões de que os colegas de minorias étnicas nos falam.
Tudo bem que podemos ouvir falar disso, tudo bem que podemos ver um vídeo sobre isso, mas senti-lo realmente, estar num elevador com alguém que altera a linguagem corporal, nós sentimos isso na realidade virtual. Esse é o seu poder. A formação é uma área incrível, mas vamos ver isto a expandir. Essa é a área em que se consegue obter o melhor retorno do investimento neste momento, mas vamos ver isto a expandir-se eventualmente para todas as áreas de negócio.
O que é que torna este meio tão diferente e tão único?
Penso que tem a ver com a presença. Este meio dá-nos uma presença que não sentimos quando vemos um vídeo – sabemos que estamos a ver um vídeo. Mesmo que seja filmado numa perspetiva de primeira pessoa, não pensamos que somos essa pessoa. Quando ouvimos uma música, podemos sentir emoções mas não estamos lá, não conseguimos ver a história toda. Ao passo que a realidade virtual nos traz para dentro. Em vez de falarmos de contar histórias, falamos de viver histórias, porque estamos a ter uma experiência vivida. De tal forma que o nosso cérebro vai registar coisas que vivemos em realidade virtual como se fossem memórias. Essa é a diferença. Estamos a fazer algo, não estamos a assistir ou a ouvir algo, estamos a fazê-lo em primeira mão. Essa é uma enorme distinção em relação a outros meios.
Quando é que vamos ver isto a ser usado de forma maciça? É quando tivermos uns simples óculos em vez de grandes dispositivos?
Sim, penso que uma grande barreira neste momento é o hardware. Ninguém quer usar um computador volumoso na cara durante várias horas seguidas. A resposta mais ligada a marcas é que será quando a Apple entrar no jogo.
Quando a Apple entra no jogo as pessoas prestam atenção, esse é um facto. Porque eles fazem coisas que não só são cool como são orientadas para o utilizador. Neste momento, o hardware que temos serve, desempenha a sua função, mas não eleva realmente a experiência do utilizador. Quando a Apple entrar no jogo, quando introduzirem óculos inteligentes, quando estivermos todos a interagir com conteúdos espaciais no dia-a-dia, acabou-se a discussão. Isso será o equivalente a todos termos smartphones no bolso.
Diria dois, três ou quatro anos?
Diria provavelmente que vamos começar a ver a tecnologia aproximar-se mais de óculos nos próximos três anos, e penso que levará cinco anos até chegarmos ao nível de óculos simples e leves. E cinco a dez anos para vermos o equivalente ao iPhone. Tivemos o primeiro iPhone, que tinha internet, mensagens e iPod, fixe. Mas olhem para o que consegue fazer agora: tem Netflix, tem YouTube, podemos usá-lo para criar filtros de realidade aumentada, podemos ver como uma cozinha ficaria na nossa casa. Podemos fazer todas estas coisas. É nesse ponto que os óculos vão estar dentro de cinco a dez anos.
Ana Rita Guerra