O especialista em tecnologias do metaverso da PwC Reino Unido destaca a variedade de aplicações de tecnologias imersivas, muito para lá dos videojogos.
A ideia de que a realidade virtual é para videojogos e que a realidade aumentada serve para capturar criaturas no Pokémon Go é um equívoco que Jeremy Dalton pretende dissipar. O responsável de tecnologias do metaverso da PwC Reino Unido dedicou a sua apresentação na Vodafone Business Conference precisamente a isso: desconstruir a noção de que a realidade estendida está orientada para o entretenimento. “Demasiadas pessoas consideram que se se trata apenas disso e nada mais”, disse o orador ao Dinheiro Vivo, nos bastidores da conferência. “Mas o facto é que esta tecnologia XR, a realidade estendida, tem potencial em todas as indústrias e está a ser usada nos negócios neste momento em todo o mundo”.
De acordo com Dalton, que publicou em 2021 o livro “Reality Check“, as tecnologias imersivas aplicam-se em muitas funções de todo o tipo de setores. “Pode ajudar da perspetiva operacional, para se tornar mais eficiente, pode ajudar da perspetiva da aprendizagem e desenvolvimento, para aumentar o foco dos formandos e melhorar a velocidade com que aprendem certas coisas”, descreveu. “Pode ajudar da perspetiva das vendas e marketing, para promover a sua marca e os produtos que vende”.
A apresentação de Dalton incluiu vários casos práticos de organizações a tirarem proveito de realidade virtual e aumentada com resultados concretos, incluindo a Coca-Cola, Boeing, Poizon, Ford, Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS), Promark-Telecom, Sky, GlaxoSmithKline e a portuguesa EDP.
“A coisa maravilhosa desta tecnologia é que tem uma variedade tão grande de aplicações, e eu de facto dediquei um slide inteiro a uma longa lista desses benefícios. E ainda assim não foi exaustiva”, frisou.
Para que estes casos se multipliquem, entende, será necessário fazer algum trabalho de evangelização para mostrar às empresas e organizações o que podem retirar de aplicações imersivas. “Há uma falta de compreensão do verdadeiro potencial da tecnologia”, disse, considerando ser importante que as empresas abracem esta tecnologia.
“Não é que tenham necessariamente de fazer tudo em grande e gastar milhões e milhões de dólares”, ressalvou, “mas penso que é importante experimentar a tecnologia na primeira pessoa, usar um destes dispositivos e ser submergido num destes ambientes virtuais, usar realidade aumentada e perceber como é.”
Dalton explicou que a tecnologia é tão virada para a experiência que só usando em primeira mão se pode ter noção real do seu potencial. Aqui reside, no seu entender, o que a diferencia.
“É impossível ter uma experiência tão visceral com qualquer outra tecnologia”, considerou. Enquanto outras tecnologias promovem uma interação passiva, em que o processamento acontece nos bastidores e obtemos um resultado, da mesma forma em que normalmente trabalharíamos com ecrãs, a realidade virtual e realidade aumentada são distintas.
“Esta tecnologia é mais no front end, oferece uma forma completamente nova de interface com o mundo digital, e permite-nos experimentar coisas que são completamente novas”, descreveu o especialista. “Penso que isso é incrivelmente fascinante e entusiasmante, tanto do ponto de vista do consumo como do mundo empresarial.”
Segundo a análise conduzida pela PwC, é a realidade virtual que está a captar uma maior fatia da utilização empresarial (cerca de dois terços dos casos de utilização identificados) neste momento. No entanto, a expectativa é de que a realidade aumentada comece progressivamente a acelerar o crescimento.
“A razão para isso é que é possível usar a realidade aumentada com o hardware que já temos agora no bolso, e também pelas aplicações da vida real, que se alinham com a realidade aumentada porque permanecemos no mundo físico”, explicou Jeremy Dalton. “Essas são mais prevalecentes que o desejo de estar em ambiente virtuais.”
E embora seja certo que deverá levar alguns anos até que as tecnologias de realidade estendida se tornem ubíquas, o orador considera que já há indícios de uma adoção em massa.
Dalton citou a teoria de Geoffrey Moore sobre a adoção de tecnologias pelas massas, que aponta a adesão em torno dos 17% como o ponto em que saímos do mercado incipiente e early adopters e chegamos ao mainstream. “Algumas estimativas já mostraram que a realidade virtual e realidade aumentada passaram dessa marca. Portanto, há um argumento a referir de que esta tecnologia já está no mainstream”, sublinhou. O livro, “Crossing the Chasm” (Atravessando o Abismo), foi publicado originalmente em 1991 e dedica-se ao marketing de produtos de alta tecnologia.
Ainda assim, Dalton não considera que haverá um ponto fixo a partir do qual se declarará a realidade virtual e aumentada como massificadas.
“Não vamos sentir que é mainstream num determinado ano. Da mesma forma que não sentimos que os telemóveis o eram”, comparou o especialista. “Não houve um ano em particular do telemóvel. Penso que vamos ver uma coisa similar com esta tecnologia, em que vai aumentar e antes que nos apercebamos olharemos para trás e perguntaremos se alguma vez existimos sem esta tecnologia.”
Ana Rita Guerra