O crescimento exponencial das tecnologias de Inteligência Artificial tem levantado questões sobre o seu potencial disruptivo no mercado de trabalho. Com a automatização de tarefas, a disseminação de modelos de Inteligência Artificial Generativa e a integração de IA em cada vez mais decisões, a questão é pertinente: a IA irá substituir profissionais e eliminar postos de trabalho?
Um novo estudo do IBM Institute for Business Value (IBV) debruça-se sobre este tema e conclui que a IA não vai substituir as pessoas – mas as pessoas que usam IA irão substituir aquelas que não o fazem.
Intitulado “Augmented work for an automated, AI-driven world” (Trabalho aumentado para um mundo automatizado e orientado por IA), o estudo declara que a revolução da IA atingiu um ponto de inflexão e terá um impacto profundo na organização de recursos humanos.
Segundo a pesquisa, os executivos estimam que 40% da sua força de trabalho terá de adotar novas competências como resultado da implementação de IA e automação durante os próximos três anos.
É um horizonte curto para reequipar uma porção tão grande dos funcionários com competências inteiramente novas, mas a pesquisa indica que as empresas que já estão a reestruturar o seu modelo de operações superam a performance de receitas das restantes.
“A IA e a automação estão a criar uma nova divisão de trabalho entre humanos e máquinas”, lê-se no relatório, que cita previsões assombrosas do Fórum Económico Mundial. O WEF (na sigla inglesa) prevê uma disrupção em 85 milhões de empregos entre 2020 e 2025 em resultado desta evolução tecnológica, compensada pela criação de 97 milhões de novos postos de trabalho. A questão é que as pessoas que vão ver os seus postos extintos podem não ser as mesmas que ocupam os postos recém-criados.
É “uma mudança radical” a que o IBV chama de “força de trabalho aumentada”, caracterizada por parcerias humano-máquina que impulsionam a produtividade e aumentam exponencialmente o valor de negócio.
No entanto, isto ocorrerá em simultâneo com o alargamento das lacunas de competências – segundo o WEF, 44% das competências dos trabalhadores sofrerão uma disrupção entre 2023 e 2028. E o advento da IA generativa torna esta pressão ainda maior. Todos os trabalhadores, independentemente do nível e do cargo, vão sentir os efeitos, mas aqueles em posições mais baixas irão sentir mais.
Ainda assim, a grande maioria (87%) dos executivos não espera que a IA generativa elimine postos de trabalho, devendo antes “aumentá-los.”
Este relatório do IBV sublinha ainda que não adianta de muito às empresas implementarem estas tecnologias disruptivas em cima de modelos operacionais obsoletos. Algumas organizações que estão na linha da frente optaram por transformar o seu modelo, em vez de automatizarem atividades e processos iguais aos de sempre.
“Embora pequenas mudanças possam aumentar a eficiência, automatizar maus processos não vai torná-los melhor”, refere o IBV.
O relatório considera que os líderes de recursos humanos podem desempenhar um “papel fundamental” na forma como as empresas se adaptam às mudanças impulsionadas pela IA generativa. “Estes líderes podem estar na linha da frente a endereçar estes desafios, redesenhando o trabalho e os modelos operacionais para orientar as suas organizações para o futuro”, lê-se no resumo do estudo.
Nele, o Instituto destaca três prioridades para reestruturar as operações e liderar a força de trabalho aumentada durante esta era de mudança. Elas são:
Ana Rita Guerra