O crescimento do mercado ligado à Inteligência Artificial generativa vai ser exponencial durante os próximos anos e levará à massificação da tecnologia nas empresas de todo o mundo, segundo um novo relatório da IDC. Os dados publicados esta semana pela consultora apontam para que as organizações gastem cerca de 15 mil milhões de euros em soluções de IA generativa só em 2023, distribuídos por software ‘GenAI’, na designação inglesa, na infraestrutura de hardware necessária e em serviços de TI e de negócio.
O estudo “GenAI Implementation Market Outlook”, que faz estimativas para o período 2023-2027, indica que o mercado vai ter uma taxa anual composta de crescimento de 73,3%, atingindo os 135 mil milhões de euros no último ano da análise. É mais do dobro da taxa de crescimento de todo o mercado de IA e 13 vezes mais que a taxa anual composta dos investimentos genéricos em TI.
“A IA generativa é mais que uma tendência passageira ou mero hype”, diz a vice-presidente do grupo de IA da IDC, Ritu Jyoti, sobre as previsões. “Com implementação ética e responsável, a IA generativa está a posicionar-se para remodelar indústrias, mudando a forma como trabalhamos, brincamos e interagimos com o mundo.”
Os 15 mil milhões de euros de investimento em IA generativa representam 9% do total de gastos em Inteligência Artificial, um peso relativo que deverá aumentar bastante em 2027. Nesse ano, vai pesar 28,1% do total investido em IA.
No entanto, não será um caminho em linha reta. Segundo o vice-presidente de pesquisa da IDC, Rick Villars, a evolução pode vacilar no início, à medida que as organizações e a sociedade lidam com estas tecnologias.
“A taxa de investimento em IA generativa será algo restrita até 2025 devido à turbulência nas mudanças das cargas de trabalho e alocação de recursos, não apenas em termos de silício mas também redes, instalações, confiança no modelo e capacidades da IA”, disse o analista. “Outros fatores que podem restringir o ritmo esperado de investimento incluem preços, receios sobre privacidade e segurança, e a possibilidade de uma crise existencial que desencadeie uma enorme antipatia dos consumidores ou intervenções governamentais.”
Em condições normais, avança a IDC, haverá uma “progressão natural” nos investimentos nesta área durante os próximos anos, à medida que as organizações transitam da experimentação inicial para um desenvolvimento “agressivo” virado para casos de utilização e depois para adoção generalizada nas atividades de negócio, com extensão do uso de IA generativa a todos.
A consultora indica que o investimento vai manter-se forte para lá da fase de implementação, visto que estas soluções “irão tornar-se um elemento fundacional nas plataformas digitais de controlo do negócio nas empresas.”
A área que vai receber os maiores investimentos é a da infraestrutura, o que inclui hardware, IaaS (infraestrutura-como-serviço) e SIS (software de infraestrutura), pelo menos durante a fase de desenvolvimento. Depois, os serviços de IA generativa irão tornar-se prevalecentes nos gastos.
Ainda assim, é no software de GenAI que haverá o crescimento mais rápido, de quase 97% ao ano, seguido de desenvolvimento e implementação de aplicações e software aplicacional, com quase 83%.
Num estudo separado sobre todas as vertentes da Inteligência Artificial, que a IDC partilhou com o Dinheiro Vivo, a previsão é de que os gastos na Europa atinjam os 32,3 mil milhões de dólares em 2023 – um peso de 20,6% no bolo mundial. A taxa anual composta de 29,6% indica que os gastos na região europeia vão crescer acima da média mundial (26,9%) até 2027. Nesse ano, os investimentos europeus irão exceder os 90 mil milhões de euros.
Embora nesta pesquisa virada para a Europa não seja detalhada a porção dedicada à IA generativa, a IDC sublinha que é este segmento que está a impulsionar o crescimento.
“A GenAI está a ganhar atenção dos fabricantes, consumidores e empresas, levantando questões que vão desde como integrar a tecnologia em produtos até como retirar os maiores benefícios do seu uso e assegurar um uso responsável, dada a procura”, sublinha a analista Carla La Croce.
“Os gastos em IA generativa ainda são mais baixos que nos casos de utilização de IA mais bem estabelecidos, mas está a crescer rapidamente.”
A analista salienta que a criação de imagens, textos e vídeos são os casos de utilização mais comuns e os que tiveram o maior crescimento no último ano. “As empresas estão na corrida para melhorar aplicações existentes com funcionalidades de IA generativa, enquanto fabricantes mais inovadores e virados para o futuro estão a embeber GenAI nas suas soluções para ir ao encontro do aumento da procura.”
Salientando que “os casos de utilização da IA generativa estão a explodir”,o guia de gastos da IDC detalha que a criação de imagens é a área em maior aceleração, com aplicação nos segmentos de media e marketing. Segue-se a criação de texto, com ênfase na indústria dos serviços profissionais.
No panorama geral de toda a Inteligência Artificial, banca, serviços profissionais, retalho, manufatura e telecom são as maiores indústrias, representando mais de 60% do investimento europeu na tecnologia. As que crescem mais rapidamente, no entanto, são outras: saúde, media, serviços de consumo e utilities.
Ana Rita Guerra