Um dos problemas mais urgentes para resolver na Europa, onde vários países enfrentam anos de seca severa, é o desperdício de água causado por problemas na rede de distribuição – tal como anos mal vedados e sistemas a precisar de reparação. A EurEau, que reúne vários fornecedores de água na Europa, estima que 25% da água europeia é desperdiçada todos os anos, o que equivale a milhares de piscinas olímpicas. Nalguns países, o desperdício é tão severo que atinge 60% de toda a reserva de água.
Este é um dos segmentos em que a combinação de tecnologias de Inteligência Artificial e Internet das Coisas (AIoT) pode ter um grande impacto. Em Portugal, onde se estima que as fugas na rede de abastecimento provoquem o desperdício de 237 mil milhões de litros por ano, a Vodafone está a trabalhar com várias entidades para mitigar o problema.
“Um dos casos que estamos a trabalhar agora, que é muito importante para o país, é a sensorização das águas e das perdas das águas”, diz ao Dinheiro Vivo Mafalda Alves Dias, diretora de grandes contas e sector público da Vodafone Portugal. “Estamos a perder quase 10 piscinas olímpicas por hora de água não faturada. Perde-se no caminho até à entrega.”
O projeto de sensorização destas águas tem como objetivo minimizar as perdas. “Depois de ter a sensorização, podemos pôr inteligência artificial em cima daquilo”, explica a responsável. Quando é detetada uma perda de água, há um profissional que analisa o alarme e envia um técnico reparar um furo. “No futuro, pode ser a máquina a dar a instrução ao piquete para se deslocar àquele sítio”, exemplifica a executiva da Vodafone.
A operadora tem uma solução IoT dedicada a este segmento, Smart Water Reader, cuja aplicação auxilia as entidades gestoras a monitorizar e controlar perdas de água. A empresa tem projetos em curso com sete subsistemas locais de gestão de água no Norte e também no Algarve, com a InfraLobo.
Para conseguir aplicar IA e tornar o sistema mais preditivo, é preciso aumentar a quantidade de dados recolhidos. É algo em que o sector público não está tão adiantado quanto o privado, como diz Pedro Santos, diretor de desenvolvimento de rede da Vodafone Portugal.
“A mim choca-me que, num dia de chuva, estejamos a regar jardins e parques, porque tem um calendário fixo”, ilustra. “Há autarquias que já evoluíram nesse sentido, mas há muito por fazer.”
Este é um desafio comum na administração pública, quer local quer regional. “É preciso que os organismos do sector público trabalhem os seus dados”, refere, “a transformação digital tem de acontecer.”
Mas não é só ao nível das perdas e da gestão pública que a AIoT tem um papel a desempenhar. Um outro projeto nesta área faz uso da combinação das tecnologias no sector privado, para obter eficiência com a rega inteligente.
“Pomos sensores no solo que detetam se precisa de água; se precisar, mandam regar. Não tem intervenção humana”, resume Mafalda Alves Dias.
Este projeto foi implementado num dos maiores produtores de cereais de Portugal, que opera com apenas cinco funcionários – dos quais dois são programadores informáticos.
“Tem a quinta toda sensorizada e automatizada”, explica a responsável. Os sensores que estão no solo transmitem informação aos tratores autónomos, guiados por GPS, sobre se é preciso regar ou adubar em cada quadrícula, com todo o terreno analisado ao milímetro.
“Tem eficiências brutais em termos de custo e um aumento de produtividade gigante, porque tem sempre aquilo otimizado”, diz Mafalda Alves Dias.
A diretora frisa que há um problema cada vez maior em termos de mão-de-obra – mais escassa e mais cara – com a evolução a uma velocidade crescente. “Os casos que temos feito todos têm ROI positivo e poupam dinheiro na sua implementação”, indica. “É natural que haja mais investimentos em IoT.”
Ana Rita Guerra