Há quem lhe chame ponto de inflexão, outros apontam para uma evolução que capitaliza em vários anos de desenvolvimento. Qualquer que seja o ângulo de abordagem, o certo é que o vasto campo de tecnologias de Inteligência Artificial (IA) ganhou um destaque sem precedentes no último ano e é por isso que a quinta edição da Vodafone Business Conference, que acontece a 03 de outubro em Lisboa, vai debruçar-se sobre o tema.
“Não sendo um tema novo, porque já há muitos anos que se discute a IA, recentemente e muito por via do ChatGPT ganhou aqui uma preponderância grande na sociedade, nos media, na comunicação”, explica ao Dinheiro Vivo Henrique Fonseca, administrador da Vodafone com o pelouro da unidade de negócios empresarial.
O lançamento do bot de conversação da OpenAI, no final de 2022, iniciou um dos períodos mais efervescentes da indústria, com várias grandes empresas a anunciarem produtos similares e uma explosão de serviços de IA generativa – não apenas texto, como o ChatGPT, mas também imagens, áudio e vídeo.
“É algo que cada vez mais as pessoas querem saber como funciona, o que é, para que serve a Inteligência Artificial”, refere Henrique Fonseca, citando números impressionantes divulgados recentemente pela Google. Os dados indicam que a pesquisa por “Inteligência Artificial” em Portugal atingiu um máximo histórico em 2023, com um aumento de 300% desde o início do ano até agora e de 500% em relação aos últimos cinco anos.
“Nós discutimos este tema com os nossos clientes mas, mais do que isso, discutimos os desafios que os clientes têm, as soluções e os serviços que podemos ter para esses desafios, as tecnologias que podem ajudar a resolver e como é que os ‘enablers’ de comunicação como o 5G podem ajudar a resolver tudo isso”, ressalta o administrador.
É aqui que entra o foco específico na Inteligência Artificial das Coisas (AIoT), o tema dominante da conferência.
Segundo Henrique Fonseca, é o passo seguinte depois de anos a desenvolver o mercado de Internet das Coisas (IoT) e a falar sobre a importância de as empresas recolherem dados e medirem a sua eficácia ao longo da cadeia de produção. A Vodafone gere 170 milhões de ligações por IoT todos os dias nas suas plataformas, em várias geografias. “Agora vamos casar as duas coisas”, frisa o executivo.
A aplicação de IA permitirá analisar os dados recolhidos de sensores e outros dispositivos IoT e torná-los em informação que pode ajudar à gestão. “Ao fazer um tratamento de dados, ajuda a que as empresas consigam integrar essas conclusões na automatização dos processos, na modernização da indústria e na melhoria da qualidade do trabalho”, indica Henrique Fonseca.
O propósito é que usem essa informação para se diferenciarem e distinguirem. “Queremos utilizar esta conferência para reforçar a importância que o IoT e os dados têm quando ligados com a Inteligência Artificial e a forma como o 5G vai ajudar a potenciar tudo isto”, resume o administrador.
Os casos de estudo que a Vodafone tem em implementação ilustram os benefícios dessa combinação. Henrique Fonseca exemplifica com os resultados da prova de conceito feita com o Porto de Aveiro, num projeto que envolve várias tecnologias. “Mostrámos como é que, utilizando IA, IoT, realidade aumentada e uma rede privada 5G o Porto de Aveiro conseguia maior eficiência nas cargas e descargas dos navios, na arrumação, armazenamento e despacho das mercadorias”, indica. “Porque a IA, sabendo o tamanho da carga que está a chegar, a sua dimensão e volume e a data em que se vai embora, consegue logo dizer onde é que deve ser arrumada.”
Entre as vantagens, o Porto de Aveiro identificou poupanças relevantes de tempo, com as operações a serem mais rápidas. Outra vantagem é o menor consumo de combustível das empilhadoras, o que tem um efeito subsequente em termos de sustentabilidade. Por outro lado, com maior rapidez nos processos os funcionários ganham tempo para fazerem outras coisas.
“É um bom exemplo de como a IA pode ser usada na indústria dos portos”, resume Henrique Fonseca. Mas o administrador estende os benefícios a outros tipos de empresas.
“A questão da produtividade, da previsibilidade, o tema da sustentabilidade com a melhor utilização dos recursos, melhor eficiência energética e redução de desperdícios é um conjunto de vantagens que identificamos nos casos de utilização que estamos a implementar e a apresentar aos nossos clientes”, salienta.
Ao mesmo tempo que avança nas provas de conceito, a Vodafone Portugal tem consciência do atraso do mercado em matéria de transformação digital.
“Objetivamente, quando olhamos para as empresas portuguesas, vemos que há desafios enormes para avançarem no seu esforço de digitalização”, refere Henrique Fonseca. “Vemos que há muitas empresas que veem a digitalização como um custo e não como um investimento que pode ser recuperado até no curto prazo.”
Essa lentidão explica porque é que Portugal não está melhor classificado no Digital Intensity Index, segundo o qual apenas 5% das empresas têm um índice de intensidade digital muito alto.
“A nossa estratificação das empresas em Portugal é suportada em pequenas e médias empresas e em micro empresas. Estas são precisamente as que têm menor intensidade digital quando comparadas com as grandes empresas”, refere o administrador.
E quais os segmentos que podem beneficiar mais? Indústrias transformadoras, sector produtivo, indústria, aponta.
“Quando olhamos para fontes nacionais como o INE, também nos diz que as empresas portuguesas que utilizam a Internet das Coisas ainda estão abaixo dos 25%”, continua. “Apesar de 7% das empresas usarem robôs industriais na indústria e energia, são só 7%. Mostra bem que há aqui um longo caminho a percorrer.”
Ana Rita Guerra e Ana Maria Ramos