Muitas empresas estão interessadas em usar blockchain para resolver problemas de segurança e confiança na Internet das Coisas
O que é que a tecnologia que foi desenhada para sustentar a criação da moeda digital Bitcoin tem que ver com a Internet das Coisas? Tudo, dizem os especialistas que estão a olhar para a melhor maneira de garantir que a IoT não se transformará num pesadelo de segurança no futuro.
O conceito é o seguinte: a tecnologia blockchain cria um rastro digital de todas as operações relativas a qualquer tipo de transação. A informação é distribuída de forma igual por todas as partes e não pode ser alterada, o que justifica que haja tantas empresas interessadas em aplicar a tecnologia aos seus negócios. A indústria dos diamantes foi uma das primeiras a aderir com entusiasmo a soluções baseadas em blockchain, para garantir a autenticidade das pedras e tornar mais difícil o negócio dos “diamantes de sangue.
A IBM é, provavelmente, a tecnológica que mais tem investido neste segmento, tendo anunciado recentemente uma joint venture com a transportadora Maersk para melhorar a transparência das trocas comerciais a nível mundial. Se há tecnologia que está a virar cabeças por todo o lado é esta; na feira tecnológica CES, em Las Vegas, a sala reservada aos painéis sobre blockchain estava constantemente esgotada, com muita gente a assistir de pé ou sentada no chão. Foi um fenómeno raramente visto na conferência anual.
“Há muitos problemas para resolver com os receios sobre a cibersegurança e a privacidade”, sublinha o vice presidente da ABI Research, Dominique Bonte. “Para onde estão a ir estes dados todos?” O analista exemplifica com o caso da manufatura inteligente, onde é preciso ter muitos cuidados com a privacidade e segurança porque as plantas e planos podem ser pirateados remotamente.
“A tecnologia wireless torna muito mais fácil a um pirata conseguir entrar na rede. Conseguem atacar em todos os níveis; durante o design dos chips, software malicioso pode já estar integrado”, avisa Dominique.
O analista concede que a tecnologia blockchain está a tornar-se uma buzzword tão incontornável que poderá sofrer de sobrevalorização. Mas admite: “Talvez o salvador aqui, detesto dizê-lo porque toda a gente está a falar disto, é o blockchain.” A ideia é sedutora porque permite planear um caminho imutável e não pirateável. “É quase contraditório, porque é por cópias da informação serem mantidas em tantos sítios que se torna impossível pirateá-la.” Ou seja, diz Dominique, se alguém entrar num computador para manipular algo, os outros vão detetá-lo e passar por cima da alteração regressando à informação correta.
“É autorregenerável, é autocorretivo e é o poder da comunidade”, resume Dominique. “Seria necessário um ataque simultâneo em mais de metade dos computadores com a mesma informação para conseguir alterar, o que é difícil de imaginar.” Em suma, “é difícil ver como é que o blockchain pode ser pirateado neste momento”, o que é mais do que se pode dizer face a praticamente todas as outras alternativas. “Não se pode dizer que é impossível, mas é incrivelmente improvável.”
É por isso que se vê tanto esforço nesta área, com o surgimento de contratos inteligentes, rastreamento de produtos e aplicação no retalho. A cadeia de supermercados Wal-Mart, por exemplo, está a olhar para a possibilidade de implementar blockchain para rastrear a origem dos seus produtos. Dominique Bonte arrisca mesmo que o blockchain, neste momento, “quase eclipsa a importância da inteligência artificial do ponto de vista do capital de investimento: há mais startups de blockchain que de IA.” A Gartner estima que a tecnologia blockchain irá adicionar 3,1 biliões de dólares em valor de negócio até 2030, e a expectativa é de que as duas áreas – blockchain e IA – funcionem em conjunto.
Além de resolver questões de segurança, o blockchain também endereça o novo comércio, isto é, os micropagamentos. No futuro, as máquinas vão pagar umas às outras. Quando um carro autónomo for recarregar a bateria elétrica, terá de pagar pelo acesso à rede e nenhum humano estará lá para intervir. “Serão pagamentos máquina-a-máquina e vamos precisar de algo muito seguro para isso, que é onde o blockchain pode desempenhar um papel importante.”
Tipos de aplicações
Um dos problemas dos dispositivos IoT é que não partilham ainda standards de autenticação que permitam assegurar a segurança dos dados que recolhem e armazenam. A arquitetura distribuída do blockchain pode ajudar a resolver muitos destes problemas, tendo aplicações variadas. Estas são algumas, segundo a IBM:
– Monitorizar os dados medidos pelos sensores e prevenir duplicação com quaisquer outros dados maliciosos
– Assegurar a identificação dos dispositivos, autenticação e transferência de dados com este “livro de contas digital” que pode ser usado em implementações IoT
– Os sensores poderão trocar dados diretamente entre si, em vez de usarem um sistema terceiro para estabelecer confiança digital
– Um registo distribuído elimina o perigo do falhanço de um elo dentro do ecossistema, impedindo que os dados num dispositivo sejam manipulados
– Os custos de implementação e operação são reduzidos porque se eliminam intermediários
– Em caso de problemas, fica registado um histórico facilmente acessível e não manipulável.