Gelataria artesanal usa sensores para garantir que a temperatura dos equipamentos de refrigeração é a ideal
Às vezes o alerta chega a meio da noite: um equipamento de refrigeração está com temperaturas abaixo do normal e é preciso enviar uma equipa para arranjar a máquina e salvar o produto. Os avisos vêm normalmente por SMS e indicam um comportamento anormal que pode ser crítico para os gelados Santini, a marca artesanal que conquista cada vez mais consumidores portugueses. Faz tudo parte de um projeto de Internet das Coisas que foi implementado para garantir a qualidade dos produtos durante a expansão da marca.
“Nós tínhamos uma loja em Cascais e uma em São João e com a abertura de novas lojas vimo-nos obrigados a ter a leitura em tempo real dos nossos equipamentos de congelação e exposição nos balcões de loja”, explica ao Dinheiro Vivo a diretora do Departamento de Qualidade e Segurança Alimentar da Santini, Rosário Ramalheira. “A única forma de termos a informação on time era com software de monitorização.” A marca contratou a CapTemp para fazer este projeto e instalou dezenas de sensores nas suas cinco lojas. “Estamos a falar de um investimento bastante avultado por local. Depende da dimensão da loja, mas pode ir de 2500 até 5000 euros”, revela a responsável.
Os benefícios são, no entanto, inestimáveis. “O nosso produto vive essencialmente de temperatura.” Isto significa que uma pequena variação pode pôr em causa a qualidade e levar a perdas. “Como o nosso produto não tem nenhum aditivo alimentar, nem mesmo natural, trabalhamos só com ingredientes frescos, qualquer variação de temperatura é fatal”, explica Rosário Ramalheira. “Estamos às vezes a falar de dois ou três graus que podem significar o produto estar não conforme.”
Como funciona
Cada loja tem quatro a cinco balcões de exposição de gelado, pelo menos uma câmara de armazenamento central e pequenos equipamentos de refrigeração, onde são guardados os leites e os produtos de pastelaria. A Santini instalou sensores em todos estes pontos, num total de sete a oito dispositivos por loja, que registam continuamente a temperatura. Essa informação é enviada para um sistema central através de cartões GSM da Vodafone e o software designa os vários parâmetros de normalidade. Quando a temperatura sai desses parâmetros, é desencadeado um alerta por SMS ou email (o departamento de qualidade recebe por SMS). Já na fábrica, que tem um sistema um pouco mais avançado (com registadores de temperatura e de termómetros verificados pelo IPQ), há entre 12 e 14 sensores – algo que varia conforme a altura do ano. As carrinhas de transporte também são controladas desta forma.
“Há uma coisa que nós conseguimos automaticamente reduzir, que foi quebra de produto por avaria de equipamentos”, revela a executiva. Os alertas passaram não só a permitir uma manutenção preventiva (antes da avaria total do equipamento) mas também a salvaguarda dos gelados e ingredientes lá armazenados. “Às vezes estamos a falar de uns milhares de euros que poupamos em quebra de produto”, continua. “Teríamos de remeter para seguros e nada disto paga o trabalho e o stress de não termos produto para entregar.” O sistema permite também detetar comportamentos errados por parte dos funcionários das lojas. “É quase assustador ligarmos para uma loja e perguntar se estiveram demasiado tempo com a porta aberta”, conta a responsável. Todos os dias há alertas, tanto na fábrica como nas lojas. “Às vezes uma simples abertura de câmara de um colaborador que demorou mais tempo a retirar gelado para abastecer o balcão é suficiente para emitir um alerta que nos chama a atenção.”
Ana Rita Guerra