Projeto inclui vários tipos de sensores e permitiu maior eficiência nas rotas e grande poupança de custos
Aquilo que começou como uma iniciativa para melhorar a gestão de lixo em Cascais transformou-se num projeto de Internet das Coisas com ganhos de eficiência, maior satisfação dos munícipes e poupanças avultadas. Luís Capão, presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente, diz ao Dinheiro Vivo que o sistema poupa cerca de 600 mil euros por ano à câmara municipal da cidade.
“Nós primeiro apostámos em inovação e a poupança de custos veio a seguir, ao contrário do que muitas vezes se pensa”, refere o responsável, indicando que o investimento global foi de 550 mil euros. A intenção era diminuir o número de camiões de recolha do lixo a circular pelas ruas, reduzindo a pegada de carbono, o barulho e até o risco, já que se trata de veículos pesados e de grande porte. O processo começou pela instalação de tags RFID nos camiões e nos contentores, de forma a recolher dados precisos sobre quando cada contentor é recolhido, mantido e lavado. A partir daí, a Cascais Ambiente começou a redesenhar os circuitos de recolha, identificando quais estavam sobrecarregados com muitos contentores ou pouco tempo para os fazer e quais tinham mais folga. “Podemos assim distribuir melhor e uniformizar o esforço de cada equipamento e operacional.”
A empresa municipal gere entre 8600 a 9000 contentores e neste momento todos eles têm um pequeno sensor RFID, que informa também sobre a localização e o seu histórico. Os dados de despejo e lavagem são carregados quando os camiões de recolha, que têm antenas recetoras, interagem com os contentores. O resultado foi a redução de 12 para 8 camiões em circulação todos os dias, o que poupa nada menos que 180 mil quilómetros de rodagem por ano. Além destas tags RFID, os cantoneiros dispõem de uma plataforma onde introduzem dados sobre os resíduos seletivos (papel, vidro, plástico).
“Enquanto nos resíduos comuns conseguimos ter uma modelação do comportamento de cada contentor, porque os dados nos permitem perceber isso, no resíduo seletivo às vezes é complicado”, explica Luís Capão. Por exemplo, no dia em que alguém decide limpar o escritório o papelão pode ficar mais cheio que o normal. Os sensores visuais são avaliações feitas pelo cantoneiro sobre os níveis de enchimento (de 1 a 5) dos ecopontos. “No dia seguinte eles só vão fazer o plástico ou o vidro que está no nível 4 ou 5, e 86% das recolhas são feitas neste nível.” Resultado: eliminam-se as viagens desnecessárias.
A terceira componente é a instalação de sensores IoT nos contentores subterrâneos, por exemplo em centros históricos, ou em contentores muito isolados. São sensores fabricados pela SmartBin com módulos de comunicação GPRS e cartões fornecidos pela Vodafone. Medem o nível de enchimento duas vezes por dia e têm limiares de alarme: se os atingem fora da data prevista, é enviado um SMS e um email aos responsáveis para espoletar uma recolha imediata. “O jeito que isto dá no contentor numa zona de difícil acesso é que o camião só lá vai no dia em que é preciso.”
As informações são todas enviadas para o ERP da Cascais Ambiente, juntando-se a um fluxo que inclui dados que chegam via centro de contacto, email, redes sociais e aplicação FixCascais (esta app permite aos munícipes identificarem lacunas que têm de ser resolvidas rapidamente). As entradas são geridas pelo ERP, que gera as ordens de serviço aos camiões.
Esta transformação da recolha de lixo em Cascais, que antes era feita em regime de outsourcing, também permitiu uma otimização dos próprios camiões. Baixaram a cabine, permitindo um acesso mais rápido por parte dos funcionários, e foram introduzidos dois botões, que os cantoneiros primem sempre que veem móveis na rua e resíduos resultantes de cortes de jardim que têm de ser recolhidos. Luís Capão destaca o aumento da motivação na equipa e as competências dos operacionais. “O cantoneiro é um agente que trabalha a 360 graus.”
Ana Rita Guerra