Os Estados Unidos lideram, com 19% das empresas a registar mais de dez mil dispositivos conectados.Mas a Europa está a apanhar o comboio
Tomar o pulso ao estado do mercado da internet das coisas (IoT) é tão difícil quanto contabilizar o número de plataformas e diferentes fornecedores que estão disponíveis. Os números das consultoras variam conforme o alcance da análise e o horizonte temporal, mas todas apontam para crescimentos superiores a 20% ao ano nos próximos tempos. É por isso que as conclusões do Barómetro IoT 2017-2018 da Vodafone providenciam um ângulo importante: olham para os resultados concretos dos projetos nas empresas, os seus retornos e o obstáculo à adoção. O dado mais importante é o de que, em 2016 e 2017, o número de empresas com mais de 50 mil dispositivos IoT duplicou. É um indicador de que os projetos implementados começaram a ter resultados visíveis.
Mafalda Alves Dias, diretora de grandes contas e setor público da Vodafone Portugal, sublinha isto mesmo: “Os projetos evoluíram de pequenos projetos-piloto para implementações globais com dezenas de milhares de dispositivos conectados.” Os EUA lideram, com 19% das empresas com mais de dez mil dispositivos conectados. A Europa vem a seguir (13%) e depois a Ásia-Pacífico (7%).
A amostra de empresas analisadas no barómetro reflete uma tendência comum, já que 84% disseram que a implementação e a utilização de soluções IoT aumentou no último ano. Ou seja, as organizações estão a tirar maior partido dos projetos, criando novos serviços e diversificando as fontes de receitas, ao mesmo tempo que contribuem para a transformação dos negócios e para a melhoria da tomada de decisões. São, em traços gerais, as quatro áreas de intervenção mais visíveis. A Vodafone refere que isto é um sintoma de amadurecimento da IoT, com reflexos em todas as indústrias – desde a administração pública à saúde, energia, automóvel, logística, retalho, indústria transformadora e eletrónica, entre outras. A própria evolução na Vodafone contabiliza este crescimento: a operadora está a registar um milhão de novas ligações IoT todos os meses.
Retorno e mais receitas
Um dos elementos determinantes nesta onda de transformação é o retorno do investimento, que muitas vezes é difícil de quantificar ou demora mais tempo do que o desejado pelos líderes de negócio. Mafalda Alves Dias frisa que este retorno “será tanto maior quanto os resultados alcançados em múltiplas variáveis: redução de custos, crescimento de receitas, minimização de riscos e aumento de eficiência”. O prazo para obtenção desse retorno será tão mais curto quanto o estado de maturidade do projeto, o que também depende muito da especificidade do negócio. De acordo com o barómetro, 51% dos inquiridos disseram que a IoT está a aumentar ou a criar novas oportunidades de receita. Para as empresas que já registam uma subida de receitas, a média de aumento foi de 19%. A redução de custos foi, em média, de 16%. “Este sucesso está inclusivamente a promover um reforço do investimento”, refere a executiva da Vodafone Portugal. Entre os utilizadores de IoT que afirmam ter registado vantagens significativas, 88% aumentaram os investimentos em tecnologia em 2017. O problema da segurança É aqui que muitos projetos encalham. Os receios de segurança levam os decisores a pensar duas vezes sobre a implementação, conforme nota o vice-presidente da consultora ABI Research, Dominique Bonte. “A tecnologia wireless torna muito mais fácil a um pirata conseguir entrar na rede”, diz, sublinhando também questões de privacidade e de prevenção de espionagem industrial.
O barómetro da Vodafone aborda esta questão, mas extrai da pesquisa um dado interessante: as empresas que têm projetos IoT mais pequenos estão mais preocupadas com a segurança do que as organizações com implementações de maior dimensão. Isto significa que os riscos são mitigáveis e que a experiência das empresas nos projetos contribui para diminuir os receios. “A cibersegurança deve ser encarada como um investimento para a proteção do seu negócio e não como um custo acrescido ou dispensável”, afirma Mafalda Alves Dias, para quem é evidente a necessidade de se promover uma cultura de segurança organizacional. Além das medidas que devem ser tomadas pelos fornecedores dos dispositivos e pelos integradores, as empresas também estão – ou devem estar – a aumentar o grau de formação dos funcionários nesta área. “Um forte sistema de cibersegurança cria novas oportunidades de negócio e é um fator determinante na conquista da confiança e da lealdade dos seus clientes”, conclui.
O papel do 5G
A nova geração de telecomunicações será crucial para a adesão à IoT? No futuro talvez, mas este é um tema sem consenso. Dominique Bonte, por exemplo, acredita que o 5G será essencial para “desbloquear a próxima grande onda de crescimento da IoT” e considera que esta transição será mais radical do que a de 3G para 4G. No entanto, o analista refere que nos Estados Unidos já há operadoras com planos de implementação para 2018 e que isto poderá ser um problema, porque os standards ainda não estão prontos. “Será compatível com o standard do futuro?”, questiona. Mafalda Alves Dias considera que, para já, o 5G não é um fator crítico no momento de decisão. “Segundo o barómetro, os utilizadores de soluções IoT privilegiam, acima de tudo, a segurança, a fiabilidade, a cobertura e a abrangência de rede.” O impacto virá mais tarde, quando o 5G impulsionar a proliferação da comunicações entre coisas e abrir as portas a serviços pioneiros, como telemedicina, segurança, carros autónomos, controlo à distância, monitorização doméstica e robótica.
Ana Rita Guerra