O CEO da startup, André Lourenço, vai explicar o conceito no painel de indústria da Vodafone IoT Conference na próxima semana, em Lisboa
Numa altura em que a autenticação biométrica se torna cada vez mais comum, com o reconhecimento facial, de íris ou impressão digital, a CardioID tem uma proposta diferente de identificação: a atividade cardíaca. A startup portuguesa desenvolveu uma tecnologia que permite registar o eletrocardiograma da pessoa através do contacto com os dedos ou as mãos, identificando o utilizador e detetando o seu estado físico e até mental. “O sistema baseia-se numa patente que fizemos ainda enquanto estávamos no [Instituto Superior] Técnico, que tem a ver com o sistema que utiliza o eletrocardiograma como bioética, para identificar unicamente o indivíduo”, explica o cofundador e CEO da empresa, André Lourenço. A vantagem de usar este bioindicador é que está continuamente disponível, é único em cada pessoa e dá detalhes sobre o seu estado, ao contrário de elementos biométricos – que apenas identificam alguém. Mais: a tecnologia base é muito versátil.
“Podemos instalá-la em qualquer objeto e conseguimos recolher a identidade de uma forma não intrusiva”, reitera André Lourenço. “Desde que a pessoa interaja com um objeto com as duas mãos nós conseguimos reconhecê-la e portanto a partir daí podemos comunicar numa perspetiva de Internet das Coisas com outros dispositivos e melhorar a experiência de utilização pelo simples facto de reconhecermos o indivíduo.” Um dos projetos mais emblemáticos que a CardioID tem em mãos é o CardioWheel, um sistema de assistência à condução que adquire o eletrocardiograma e monitoriza problemas cardíacos e sonolência, além de identificar o condutor. Este volante inteligente está a ser desenhado e testado com a Barraqueiro há cerca de um ano e a intenção é torná-lo num produto comercializável no mercado internacional. “O produto está na fase de scale-up. Estamos a minimizar os custos de produção e a garantir que podemos entregar em escala”, adianta o CEO. A equipa de sete pessoas faz o desenho dos circuitos e a produção é feita na Europa, com montagem em Portugal.
“O nosso mercado é muito interessante para testar as ideias, mas para escala tem de ser internacional”, refere Lourenço. O responsável pretende conseguir uma ronda de financiamento para este efeito, calculando que precisa de 250 mil euros para pôr o CardioWheel no mercado. A startup, que foi criada em 2014, recebeu anteriormente 100 mil euros da aceleradora SOUL-FI para um projeto baseado na tecnologia Fiware da Comissão Europeia. André Lourenço será um dos oradores da Vodafone IoT Conference que decorre na próxima semana, em Lisboa, e irá falar da aplicação da sua tecnologia no mercado de Internet das Coisas.
Outras aplicações
O volante inteligente está a ser testado em conjunto com os dados obtidos pela tecnologia da Mobileye, que a CardioID distribui. “O que fazemos é correlacionar os dados obtidos com o Mobileye e o CardioWheel e ter modelos que permitem perceber melhor o estado fisiológico mediante o contexto da condução”, explica André Lourenço. “Fazemos sistemas multimodais de processamento de sinais difíceis e só isso tem um valor muito grande. Estamos a falar da transição entre a parte automática e a parte que ainda vai ter um humano. O que estamos a fazer permite validar isso.” A empresa pode, por isso, desempenhar um papel interessante mesmo com a indústria a caminhar para a condução autónoma. André Lourenço explica ainda que a tecnologia pode ser aplicada a comandos de televisão, que permita fazer monitorização da insuficiência cardíaca e personalização da experiência de utilizar o televisor.
O executivo fala ainda dos aspetos ligados aos estados emocionais: é possível perceber como é que a pessoa está quando interage com um objeto, quer em termos de fadiga quer outros estados que vão poder identificar no futuro, como o stress. A CardioID antevê assim a aplicação da tecnologia à monitorização de pessoas em situações laborais distintas. Por exemplo, operadores que trabalham em linhas de alta tensão ou trabalhadores que por estarem sozinhos precisam de uma tecnologia que os possa auxiliar e informar os empregadores se estão bem em termos de dados vitais e de saúde. Outro projeto, que está a ser realizado com o CEIIA (Centro Para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel) e com a Ibérica, passa pela integração da tecnologia em guiadores de bicicletas. A ideia do Generation.mobi é adquirir o ritmo cardíaco do utilizador no contexto de mobilidade urbana, em que há, por exemplo, projetos de partilha de bicicletas. “É sempre a mesma tecnologia nuclear, aplicada a diferentes verticais.”
Ana Rita Guerra