O painel dedicado à indústria reuniu um conjunto de empresas portuguesas de tecnologias que estão a dar cartas numa área muito dinâmica.
Quando José Mendes Leal decidiu investir num sistema inovador de internet das coisas (IoT) na subsidiária portuguesa da Elis, o objetivo era conhecer o consumo de energia por quilo de roupa lavada nas suas lavandarias industriais, que nos picos sazonais operam 24 horas por dia. “É preciso que haja grandes eficiências industriais para otimizar, melhorando todos os setores da nossa prestação”, explicou o diretor-geral da Elis durante o debate sobre a indústria na Vodafone IoT Conference.
O projeto-piloto implementado pela Vodafone decorreu durante os últimos oito meses na unidade de Porto Alto e obteve resultados positivos, pelo que os sistemas IoT serão agora instalados nas restantes lavandarias da empresa, em Algoz e Famalicão. A quarta unidade industrial da Elis, que será instalada em junho em Torres Vedras, também vai receber um pacote de soluções IoT. Este é um exemplo forte de como a internet das coisas está a chegar a áreas que anteriormente não estavam no radar de operadoras e tecnológicas e a levar eficiências a partes cruciais da indústria.
A portuguesa ThinkDigital é uma das responsáveis por esta expansão, já que nasceu dentro de um grupo industrial e tem competências específicas nesta área. Foi a parceira da Vodafone no projeto da Elis e esteve no painel da IoT Conference a falar dos desafios e das oportunidades que se vivem no momento. O cofundador Nuno Ferreira sublinhou a grande evolução feita. “Antes não havia condições, mas hoje há um grande investimento”, declarou, dizendo que Portugal é um dos países pioneiros na expansão de Narrowband IoT, um standard de transmissão de dados pensado para esta área e que a Vodafone desenvolve no centro de competências nacional.
O responsável explicou ainda que uma das questões centrais é a segurança e a privacidade e declarou como “fundamental” para qualquer indústria incorporar a digitalização, sob pena de fecharem. “Com a IoT passamos a monitorizar muito mais informação, digitalizar processos que antes estavam circunscritos numa ilha, numa pessoa”, indicou. Ainda assim não tem dúvidas: “Nós nunca estivemos tão seguros quanto hoje.” O responsável sublinha a evolução que se verificou, referindo que “antes, na automação industrial, ninguém estava preocupado com a segurança”. Hoje essa é uma atenção central. “Ao circular na rede core da Vodafone, minimiza-se a possibilidade de um ataque”, indicou, ressalvando que “nenhuma solução é totalmente segura” mas que a segurança é hoje introduzida “by design”. André Lourenço, CEO da CardioID, acrescentou que a questão da privacidade é fundamental em qualquer área e em particular com tecnologias novas, como a da sua empresa.
A CardioID desenvolveu um sistema que identifica os utilizadores através do registo do eletrocardiograma e está a ser instalado em volantes automóveis num projeto com a Barraqueiro. “A nossa tecnologia é aplicável não só a volantes como também noutros setores”, disse Lourenço, referindo a utilidade do sistema na monitorização, por exemplo, de pessoas que trabalham sozinhas. “Obviamente a questão da ética é muito importante”, sublinhou, fazendo eco da apresentação de Gerd Leonhard, que insistiu na necessidade de definir regras para que a tecnologia não “engula” os humanos no futuro. “Nós não queremos ser um Big Brother, queremos ser algo que ajuda os utilizadores.” Foi nesse âmbito que se discutiu o novo Regulamento Geral de Proteção de Dados, que Nuno Ferreira considerou um diploma muito genérico. “A proteção de dados não é tema novo”, indicou, frisando que o RGPD irá agora colocar o ónus nas empresas.
Ana Rita Guerra