As soluções ioT no retalho português estão numa fase incipiente e a própria Europa anda mais devagar do que os EUA, mas é onde estão projetos interessantes.
O retalho foi um dos segmentos que chegaram mais tarde à internet das coisas e ainda há um longo caminho a percorrer, mas é aqui que se encontram alguns dos projetos mais interessantes do momento. A startup portuguesa Crossing Answers, por exemplo, desenvolveu um sistema IoT que tem potencial para revolucionar o mercado das máquinas de vending, com ambições internacionais. Foi dessa solução, que está a ser comercializada pelo spin-off Luope, que o CEO Cristóvão Cleto falou na Vodafone IoT Conference.
“Estamos a inserir no mercado tradicional das máquinas de vending tecnologia a que não estavam habituados”, explicou o executivo. “A mais-valia que traz, e os empresários estão a perceber isso, é menos gastos em transporte, em desperdícios de stock, em comida.” Através de um sistema instalado dentro da máquina, o empresário tem acesso permanente a tudo o que se passa lá dentro; por exemplo, se é detetado que um produto passou de validade, o canal é automaticamente fechado.
“Neste momento, se o sistema falhasse nos operadores onde já estão instalados, eles não conseguiam trabalhar, o que nos dá muita responsabilidade”, frisou o CEO. Ainda assim, Cleto considerou que “estamos atrasados em relação aos EUA”. Foi uma opinião partilhada pelo resto do painel, onde também participaram Sérgio Magalhães, responsável pelo digital transformation office do Millennium bcp, e Filipe Lopes, wireless tech lead da Cisco Portugal. No entanto, o futurista Rudy de Waele não considera que tal seja negativo. “A mentalidade nos Estados Unidos é a de uma economia em que o vencedor leva tudo. A Europa é mais colaborativa”, explicou o especialista belga. “Temos boa ética. Somos a única região do mundo que está a preservar a ética e a multar empresas que não pagam os impostos devidos.” A ideia é que os pequenos projetos que estão a surgir sirvam de base para uma IoT com implementações mais sólidas e benefícios para toda a gente. “Devemos orgulhar-nos de quem somos. Não há problema em sermos mais lentos mas bons, porque os Estados Unidos estão a criar muita porcaria.” Uma das áreas que têm evoluído lentamente é a da banca de retalho, especialmente devido à regulação pesada. “É um caminho muito longo”, afirmou Sérgio Magalhães. “Grande parte do nosso tempo tem sido responder a legisladores, diretivas, componente legal.” Quando o banco lançou o paperless banking encontrou inúmeros obstáculos; por exemplo, os clientes tinham de assinar um papel primeiro para poderem depois assinar digitalmente. A evolução do Millennium bcp, que já tem mais de dez mil sensores ligados, é similar à banca de retalho noutros países: cada vez menos sucursais e mais serviços digitais. Sérgio Magalhães ressalvou, todavia, que é preciso garantir uma boa experiência de cliente para toda a gente. “Não podemos ter um banco só para os digitais.”
É que Portugal ainda tem uma relação muito próxima com o dinheiro em numerário, apesar de Rudy prever que caminhamos em direção a uma sociedade cashless. Filipe Lopes acrescentou: “No retalho andamos há anos a avaliar tendências, mas existe uma mentalidade que tem de ser mudada.” O responsável da Cisco disse que todos devemos olhar para isto como consumidores, porque a mudança começa também a partir daí – da maior facilidade nos pagamentos ao maior contacto com as marcas, desde o pronto-a-vestir ao supermercado. Muito disso passa por boas ligações wi-fi, que o Millennium bcp já oferece a todos os clientes das suas sucursais.
Ana Rita Guerra